Júlio Nahás, cardiologista do Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS/Amcespar), destaca a importância do exercício físico, alimentação saudável e redução do estresse na prevenção de doenças cardiovasculares/ Marina Bendhack com entrevista de Rodrigo Zub e Juarez Oliveira

Resumo
- No dia 29 de setembro foi o Dia Mundial do Coração, que teve o objetivo de alertar sobre a prevenção de doenças cardiovasculares.
- Alimentação saudável, exercício físico e redução de estresse estão entre os principais fatores de prevenção.
- A genética influencia de 15% a 20% no risco cardiovascular, o resto são hábitos saudáveis.
- O CIS/Amcespar funciona com dois modelos de ambulatório, um deles conta com uma equipe multidisciplinar completa para o acompanhamento de doenças crônicas como a diabetes e a hipertensão.
Dia 29 de setembro foi o Dia Mundial do Coração, data que teve como objetivo prevenir as doenças cardiovasculares, que são a principal causa de morte no Brasil. Uma morte é registrada a cada 90 segundos por esse motivo.
O médico do Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS/Amcespar), Júlio Nahás, afirmou que muitas pessoas não apresentam sintomas de que possuem problemas cardíacos. Por isso, ele ressaltou a importância de manter hábitos de vida saudáveis. “Primeira coisa, alimentação tem que ser uma alimentação saudável, tirar produto processado, comer mais saudável, mais natural, desembrulhar menos e descascar mais, comer mais alimentos bons. Ter um gerenciamento do estresse, o estilo de vida saudável, dormir bem, tirar a ansiedade, o estresse”, ressalta Júlio.
“A pressão alta não dá sintoma, então tem que ser medida em casa. A pressão acima de 13/8 não é legal, temos que abaixar em alguns pacientes. A gente considera hipertensão acima de 14/9. Teve até agora uma nova diretriz falando que a pressão elevada acima de 120/80, isso leva a uma confusão. Quando a pressão está acima de 12/8, já é um fator de risco para mudar os hábitos, perder peso, começar a fazer exercício, começar a fazer caminhada, não necessariamente a necessidade do tratamento em si, nesse período”, continua o médico.
Júlio destaca a importância de a população realizar exames com frequência e de consultar um médico rotineiramente. “Se a sua pressão está acima de 13/8 e você tem fatores genéticos, história familiar positiva de doença cardíaca e você tem já comorbidades: fumar, excesso de álcool e algumas alterações, obesidade mesmo; já tem que começar a tratar. Então, hoje já pedimos para as crianças fazerem o exame de diabetes, pelo menos, a partir dos nove aos 11 anos, já fazer um exame de colesterol, ver como é que está. Quando tem história familiar de colesterol muito alto, [pedimos] a partir dos dois anos de idade. Existem alguns exames que a gente faz, porque essas doenças são silenciosas e junto com a hipertensão vem o diabetes, então ter uma tem uma rotina de medir a pressão, fazer o exame de sangue”, relata.
Dor no peito, falta de ar e cansaço excessivo são os principais sintomas que podem indicar algum problema cardiovascular, salienta Júlio. “A cardiologia hoje está falando como uma cardiologia cardiometabólica, porque está associada com obesidade, apneia do sono, pré-diabetes, paciente às vezes com problemas pulmonares que também evoluem… Pacientes com problemas pulmonares aumentam o risco em três vezes quando tem a exacerbação de um depósito do enfisema. Então, por exemplo, o paciente internou por enfisema, ele aumentou três vezes a chance de infartar, nos próximos seis meses a um ano. As queixas maiores seriam essas mesmas, a oscilação da pressão, a falta de ar, o edema nas pernas, que seria o inchaço, e o cansaço físico que apareceu de uma hora para outra, a pessoa fica preocupada, não sabe o que que é e acaba vindo pra gente”, descreve.
Atendimento de cardiologia no CIS/Amcespar
O CIS/Amcespar atende pacientes de nove municípios da região. São eles: Mallet, Rio Azul, Rebouças, Irati, Fernandes Pinheiro, Inácio Martins, Teixeira Soares, Imbituva e Guamiranga. Neste ano, até segunda-feira, haviam sido realizados 4.229 atendimentos no setor de cardiologia, distribuídos entre quatro médicos.
O consórcio funciona com dois ambulatórios, um no Modelo Silos, que atua mais restritamente no sintoma e um no modelo MACC (Modelo de Atenção às Condições Crônicas), que atua com doenças crônicas de forma multidisciplinar, segundo a diretora administrativa do CIS/Amcespar, Ângela Maria da Cruz Cardoso. “A gente tem dois ambulatórios, em um ambulatório é no modelo Silos e [outro] no modelo MACC, que é o Modelo de Atenção às Condições Crônicas, onde o doutor Júlio também atende. São atendidos os pacientes de situação crônica, de condições crônicas. Eles não são atendidos só pelo cardiologista, na linha que o doutor atende, que é hipertensão e diabetes, passa pelo médico cardiologista, endocrinologista, farmacêutico, psicólogo, enfermeira e nutricionista. Então, dentro deste período, duas linhas, hipertensão e diabetes, foram 6.537 atendimentos para poder fazer um controle dessa situação crônica do paciente”, relata a diretora.

Ângela conta que a diabetes e a hipertensão são as linhas atendidas no modelo MACC. “Nesta linha são três vezes por semana já que os pacientes são encaminhados, os nove municípios, só os pacientes estratificados e identificados como paciente de alto risco, os demais são atendidos na atenção primária ou encaminhados para outro ambulatório onde o doutor Júlio, doutor Mário, doutor Augusto e o doutor Carlos Roberto atendem”.
A diretora relatou que há um número grande de faltas em consultas já agendadas. Ângela ressalta a importância de comparecer às consultas, que podem prevenir uma emergência.
Já o doutor Júlio disse que o estresse é sempre discutido em consulta. “Gente, não dá pra só trabalhar, trabalhar, trabalhar, você tem que ter um tempo pra você. Eu sempre falo do gerenciamento do estresse, que seria uma boa alimentação, como eu falei, o exercício, que ajuda muito, e o sono reparador, então o sono bom, quando você acorda de manhã e está revigorado, está disposto para encarar o dia da vida, a gente tem esquecido disso. Então, quando você sabe fazer uma meditação, aprender o mind fullness, você quer pensar no aqui e agora, não ficar fazendo uma coisa pensando em várias coisas ao mesmo tempo, que isso aí gera um estresse muito grande. Tem várias situações que a gente consegue melhorar, um chá que ajuda, às vezes um mulungu, o chá de maracujá, por exemplo, são chás calmantes que ajudam, tudo isso aí ajuda”, informa o cardiologista.
O estresse é a patologia mais importante, pois leva a depressão e a incapacidade laboral, além de ser um problema que aumenta o risco de infarto e de câncer, explica Júlio. “Quando você aumenta muito o cortisol, você diminui dopamina, que é o neurotransmissor que te dá alegria, te dá energia, que te dá prazer nas coisas que você tá fazendo, então, vira um círculo vicioso. Muita gente fala assim ‘ah, isso é frescura, não tem tempo, tem que trabalhar’. Então o que que a gente pede? Guarda um tempinho pra você, meia horinha, uma horinha por dia ou dia sim, dia não, pra você se curtir, de repente fazer uma visita pra um amigo, alguém que você não vê há muito tempo, sabe? Começar a gerenciar a vida da gente, porque não é fácil, isso aí são sinapses que a gente vai trabalhando com o nosso cérebro e automaticamente vira uma coisa normal para o cérebro”, recomenda.
Júlio diz que a genética interfere em um percentual entre 15 e 20% no risco cardiovascular, ou seja, é baixa. “O resto é o estilo de vida. Por exemplo, numa família que tem muitos diabéticos, estão todos com sobrepeso, sem fazer exercício, se alimentando errado. Uma família de pessoas ansiosas, têm grande probabilidade do filho desenvolver ansiedade, porque ele convive com pessoas ansiosas desde que nasceu. Então, isso aí é o que nós chamamos de epigenética. A genética é uma coisa, a epigenética é outra. Então, se você se dispõe a mudar e quebrar esse ciclo vicioso, as próximas gerações, seus filhos vão mudar os hábitos, vão mudar a conduta, vão começar a praticar exercício desde pequeno, vão se alimentar de uma forma mais saudável desde pequeno. A gente tem que parar de ser cômodo, cômodo é quando você não sai da tua zona de conforto pra mudar a tua rotina. Se fazemos as mesmas coisas, nós não vamos esperar resultado diferente. Então, a gente tem que mudar”, incentiva o cardiologista.
Júlio ainda destaca que as doenças cardiovasculares podem ser prevenidas. “Tudo isso que nós estamos falando contribui para 80% da prevenção de doença cardiovascular. 80%, gente. A doença é totalmente prevenível, só que depende de cada um de nós. Como a Ângela falou, tem muita gente que falta, o absenteísmo, muita gente falta as consultas. Então, por exemplo, nem no particular você tem uma equipe multidisciplinar que você tem cardiologista, endocrinologista, tudo numa manhã, é psicólogo, farmacêutico, enfermeiro, nutricionista. Isso você não tem, é fácil. Muita gente às vezes vai, não querendo estar lá. Então vamos dar preferência para o pessoal que realmente quer mudar os hábitos e a gente tem que entender que esse tempo não é perdido, é um tempo que você vai ganhar. Ali você tem que ver como investimento para o teu futuro”, salienta o médico.
Como buscar o consórcio?
Ângela também relatou que os municípios têm seus protocolos e todos passam por auditoria médica. Com isso, é o auditor que dará prioridade na fila para cada paciente. “Porta de entrada do SUS, é unidade básica de saúde. Então para a gente sempre lembrar, em qualquer situação, às vezes levamos isso para assistência social, para educação, porque isso é da área da saúde, mas é bom que todos tenham conhecimento. Porta de entrada do SUS é unidade básica de saúde ou pronto atendimento, quando é uma questão mais emergencial. Sempre procurar unidade básica de saúde. Cada município tem os seus protocolos, às vezes vai ter um serviço a mais do que o outro município, quando a gente tá falando aqui de consórcio e o consórcio ele contrata, faz o credenciamento dos serviços, o agendamento é o município que faz”, orienta a diretora administrativa do CIS/Amcespar.