Acadêmicos do curso de Agronomia estão revitalizando o horto da residência da benzedeira Sebastiana Ferreira Ribeiro, de 77 anos. Atividade faz perte de uma disciplina que aborda o tema/Paulo Sava

Resumo: – Dona Sebastiana, de 77 anos, começou a aprender sobre os benzimentos.
- Projeto coordenado pela professora Silvana dos Santos Moreira, conta com a participação dos estudantes;
- Objetivo é de refazer o horto de plantas medicinais na residência da benzedeira, na Vila São João.
Estudantes do curso de Agronomia do campus Irati do Instituto Federal do Paraná (IFPR) estão realizando um projeto de revitalização de um horto de plantas medicinais, como parte de uma disciplina que trata sobre o tema.
Sob a coordenação da professora Silvana dos Santos Moreira, que é engenheira agrônoma e doutora em Ciências Sociais aplicadas, os acadêmicos estão atuando na casa de reza da dona Sebastiana Ferreira Ribeiro, de 77 anos, moradora da Vila São João.
Em entrevista durante o programa Espaço Cidadão, da Super Najuá, transmitido direto da residência da dona Sebastiana, ela contou que começou a aprender sobre o trabalho de benzedeira desde cedo. “Desde 6 anos eu comecei a fazer as simpatias, aprendi com minha mãezinha. Depois, os outros benzimentos eu aprendi com o meu pai”, contou.
Dona Sebastiana também faz algumas festas para santos na comunidade. “Faço a festa do Divino, a Romaria de São Gonçalo em janeiro e em outubro a festa das crianças. Faz uns 60 anos que eu comecei a benzer”, frisou.
Projeto
Há alguns anos, dona Sebastiana tinha 70 tipos de plantas medicinais na frente de casa. Porém, uma parte delas secou e a outra foi cortada. Por conta disso, os alunos do curso de Agronomia do IFPR e a professora Silvana resolveram tirar o projeto do campus da instituição e colocá-lo em prática na casa da benzedeira. “Se Deus quiser, agora vai tudo bem os remédios para atender o povo. Os remédios eles levam daqui,toda vida é assim. Para as crianças que eu corto o ar, tendo o remédio, eles levam daqui”, pontuou.
O canteiro do campus do IFPR conta com aproximadamente 90 espécies de plantas medicinais. Silvana conta que a ideia de tirar o projeto do campus surgiu depois que ela viu a necessidade que Dona Sebastiana tinha de ajuda para cuidar do horto. “Ela já é uma pessoa que tem 77 anos, e precisa de ajuda com o horto das plantas medicinais. Eu convidei a turma, eles toparam e nós fizemos um cronograma de trabalho e estamos fazendo este trabalho com a Dona Sebastiana. Está sendo muito bacana porque ela está nos ensinando o tempo todo um monte de coisas, sobre como se utiliza as plantas medicinais, falando um pouquinho sobre o trabalho dela com os benzimentos, contou para nós a história dela, e isto está sendo muito importante para nós e a turma. Esperamos que o nosso trabalho também contribua com o da Dona Sebastiana”, frisou.

Troca de conhecimentos
A professora também exaltou a troca de saberes que existe entre ela, os estudantes e a benzedeira durante a realização do projeto. “A gente chama de diálogo de saberes, porque tem algumas plantas que temos no campus que ela não conhece, e vamos conversando sobre elas e aprendemos juntos”, comentou.
Mapeamento
Sebastiana e o estudante Michel fizeram um mapeamento das pessoas que trabalham com cura tradicional na região. Silvana contou os detalhes deste mapeamento. “Ficou um trabalho muito bonito porque às vezes temos preconceito da comunidade, algumas pessoas que não valorizam este belíssimo trabalho de cura que elas realizam na comunidade. É um trabalho voluntário, elas não cobram nada e estão aqui para contribuir com a comunidade. Este mapeamento ficou muito bacana, a dona Sebastiana acompanhou o Michel em todas as etapas da dissertação de mestrado dele. Aí vem esta discussão do conhecimento tradicional com o científico, para construirmos novos saberes”, pontuou.
Redução no número de benzedeiras
Com a redução no número de benzedeiras, aumentou a quantidade de pessoas que visitam Dona Sebastiana em busca de uma cura. “Deus nos dando vida e saúde, o resto nós damos um jeito de socorrer as pessoas que precisam”, frisou a benzedeira.
Carteirinhas de benzedeiras
Há alguns anos, a Prefeitura de Irati emitiu carteirinhas de ofício para as benzedeiras, reconhecendo a importância do trabalho delas para a cultura e a religiosidade locais. ”Isto foi muito importante para elas, de reconhecimento deste importante trabalho e desta contribuição que elas trazem para a comunidade. Que as plantas medicinais cada vez mais sejam percebidas como política pública, e este reconhecimento do trabalho, que é voluntário, que elas realizam sem cobrar nada para a comunidade e que contribui para a melhoria da qualidade de vida da população”, comentou a professora Silvana.

Estudantes
A residência de Dona Sebastiana fica na Rua Rondônia, entre a Trajano Gracia e a BR 153. Estudantes que participam do projeto também foram até a casa da Dona Sebastiana para contar um pouco sobre a experiência que estão vivendo. Para Lediane, o aprendizado na prática é muito grande. “Nós aprendemos bastante, o conhecimento da agronomia a gente aprende com o solo e as plantas, e é muito importante trazermos este conhecimento para a população. Ajudar a Dona Sebastiana, que ajuda tantas pessoas, para nós é muito gratificante. Ficamos felizes e vemos o quanto ela está gostando da melhoria da parte da frente e das plantas que estamos trazendo para ela, ficamos muito felizes”, comentou.
Já para a estudante Jessana Kelte, a realização do trabalho é importante para que os conhecimentos tradicionais não sejam perdidos. “É importante este trabalho de revitalização aqui para que não se perca estes saberes. Nós, como alunos, perdemos este conhecimento, e a Dona Sebastiana nos ensina muita coisa até em sala de aula. Temos até uma lista de todas as plantas que ela tem aqui e vamos revitalizar o horto dela. É um projeto importante”, comentou.
Na opinião do estudante Alexander, o aprendizado na prática sobre o cultivo de plantas medicinais é de extrema importância. “A gente aprende bastante com a Dona Sebastiana, sobre a aplicação de plantas medicinais, que são de suma importância devido a agregar valor à comunidade. Para mim, é importante por trazer mais conhecimento sobre os saberes populares”, comentou.
O estudante Leonardo acredita que a atividade prática na casa da benzedeira servirá para um aprendizado sobre a diversidade de plantas medicinais existentes. Ele levou a planta chamada de “Rubi” e o mentruz, muito utilizado para curar machucados.
A professora Silvana afirma que, além dos conhecimentos tradicionais, existem estudos científicos para provar a eficácia desses remédios. “Hoje temos muitos pesquisadores estudando a composição química das plantas medicinais e comprovando o que a comunidade já sabe: as plantas medicinais curam porque elas têm princípios ativos importantes. Eles vão atuar nos diferentes órgãos do nosso corpo. Vamos ter plantas estimulantes, que tratam o sistema urinário, respiratório, circulatório e vascular. Todo este conhecimento popular está sendo bem sistematizado agora, se tornando conhecimento científico. Aqui no Brasil, ainda não temos um uso das plantas medicinais no SUS, mas é uma política pública hoje a inserção da fitoterapia no SUS. Aqui em Irati, a Prefeitura está se desafiando a implantar um projeto, com apoio da Itaipu, para que o SUS, nas unidades de saúde, possa ofertar os fitoterápicos também. Eu espero que em breve tenhamos um consumo maior de fitoterápicos aqui”, destacou.
Silvana relata que, apesar de todos os estudos já realizados, o consumo de medicamentos fitoterápicos no Brasil ainda é muito pequeno. “Na Alemanha, por exemplo, 50% de todos os medicamentos de uma farmácia são fitoterápicos. Aqui no Brasil não chega a 3% ainda, a maioria dos medicamentos que está à disposição da população são halopáticos, que vêm de moléculas químicas. Nós temos uma flora riquíssima, com uma diversidade enorme de princípios ativos e com uma possibilidade enorme de cura. Hoje, a indústria farmacêutica está encurtando o tempo de produção de novos medicamentos a partir do conhecimento popular e da etno-botânica, que é o conhecimento acumulado pelas populações. Sai muito mais barato fazer um medicamento que a população já usa com alguma finalidade do que iniciar uma produção de um medicamento do zero”, pontuou.
Diversas espécies nativas e até algumas plantas que nascem nos nossos terrenos são medicinais, segundo Silvana. “Temos plantas espontâneas que crescem na nossa calçada que são medicinais, como dente de leão, o próprio rubi e o mentruz que o Leonardo trouxe aqui”, finalizou.
Quem quiser pegar mudas e saber mais sobre plantas medicinais, basta visitar o campus Irati do IFPR, na Rua Pedro Koppe, 100, na Vila Matilde, ou entrar em contato pelo telefone 0800-727-8062.







