Fiep propõe reinserção de beneficiários no mercado de trabalho, enquanto senador Sérgio Moro e psicóloga Sybil Dietrich defendem capacitação e políticas integradas contra a desigualdade/Jussara Harmuch

Manter e reinserir trabalhadores no mercado de trabalho são necessidades da indústria no Paraná, segundo levantamento feito pelas coordenadorias regionais da Federação das Indústrias do Estado (Fiep) no ano passado. Em busca de soluções, a Fiep promoveu na sexta-feira (5) um Fórum Regional em Irati, onde apresentou projetos para enfrentar o problema da escassez de mão de obra.
Uma das iniciativas em andamento mira beneficiários do Bolsa Família. A proposta é auxiliar adultos em idade produtiva a deixarem de receber o valor do programa de transferência de renda e ingressarem no mercado industrial. O projeto piloto já está em fase inicial nas cidades de Rebouças, Londrina, São José dos Pinhais e Corbélia, e deve ser expandido para outros municípios que enfrentam dificuldades semelhantes.
Segundo o secretário de Assistência Social de Rebouças, Jader Molinari, o projeto ainda está em fase de diagnóstico. Ainda não há dados consolidados sobre a quantidade de adultos entre 18 e 50 anos cadastrados como família unipessoal, ou seja, composta por uma única pessoa, que poderiam estar aptos para trabalhar.
Levantamento feito pela reportagem da Rádio Najuá mostra que, em junho, 255 pessoas nessa faixa etária estavam registradas como família unipessoal no Bolsa Família em Irati. Destas, 30 têm algum tipo de deficiência e 23 estão em situação de rua. No setor industrial da cidade, os números de maio mostram mais admissões (289) do que desligamentos (251).

Durante uma visita ao município de Irati, o senador Sérgio Moro (União Brasil) participou de entrevista no programa Café com Notícias, da Najuá FM 106.9, onde defendeu uma transição estruturada para os beneficiários do Bolsa Família.
Sei que muitos têm receio de perder uma renda que é essencial para suas vidas. Precisamos desenhar uma rota de saída mais bem estruturada, que garanta a permanência do benefício até que a pessoa esteja realmente inserida no mercado de trabalho, afirmou o senador.
Moro também ressaltou a importância da capacitação diante dos desafios atuais:
Vivemos um momento de transformações, com inteligência artificial, cibersegurança e novas tecnologias moldando o mercado. Precisamos treinar e preparar as pessoas para esse novo cenário, ao mesmo tempo em que lidamos com problemas antigos.

A vereadora e psicóloga Sybil Dietrich, que também foi secretária de Assistência Social nas gestões do ex-prefeito Jorge Derbli, defende que os programas sociais não devem ser vistos como os vilões da escassez de trabalhadores.
O Bolsa Família é essencial em uma sociedade desigual. O problema não está no programa em si, mas na falta de ajustes e na ausência de políticas públicas integradas que permitam uma transição real. Receber uma média de 600 reais não é escolha, é necessidade — é o que está ao alcance dessas pessoas, argumenta.
Sybil destacou ainda a complexidade da realidade enfrentada por muitos beneficiários, especialmente mulheres que chefiam famílias sozinhas, sem apoio para cuidar dos filhos ou investir em formação profissional.
Sem acesso a creches, essas mães perdem vagas de emprego. Outras enfrentam problemas como alcoolismo, transtornos mentais ou doenças em familiares, o que exige uma rede de apoio na saúde e assistência. A vulnerabilidade social afeta até a autoestima, prejudicando a busca por oportunidades, pontua.
A vereadora também chama atenção para mudanças no perfil dos jovens e do próprio mercado de trabalho, com o crescimento de empregos remotos e oportunidades fora da cidade — muitas vezes mais atraentes para os jovens.
É preciso entender o que os jovens buscam. Será que as vagas ofertadas correspondem aos seus sonhos e expectativas? Além disso, quem vem de uma família de classe média ou alta tem um leque de opções. Já os mais pobres têm poucas escolhas — muitas vezes, é ‘isso ou aquilo, e olhe lá’.