Novo modelo de credenciamento, que passa a funcionar a partir do dia 1º de julho, foi criticado pelo vereador José Renato Kffuri na Câmara Municipal/Texto de Edilson Kernicki, com entrevista de Jussara Harmuch

A secretaria de Saúde de Irati terá um novo modelo de credenciamento de médicos para atuar na atenção primária. A partir do dia 1º de julho, eles passam a trabalhar oito horas por dia. “Ele vai conseguir dar um atendimento de qualidade para o cidadão, um atendimento resolutivo, acompanhamento. Por isso, a Estratégia de Saúde da Família é um acompanhamento não só para o cidadão, mas para a família inteira dele. A família tem que estar acolhida e tem que se entender que o atendimento não é só médico, tem o acompanhamento de enfermagem, do agente comunitário de saúde, da rede. Quando necessário, ele é encaminhado para a especializada, para fazer exames de acompanhamento e, às vezes, as pessoas não entendem esse processo”, disse o secretário de Saúde, Nelson Antunes (Nelsinho), durante entrevista à Najuá.
Na Câmara Municipal, o vereador José Renato Kffuri (PSDB) chegou a demonstrar preocupação com o novo modelo de atendimento, porque, apesar de o médico permanecer na unidade por oito horas diárias (quatro de manhã e quatro à tarde), atenderia a menos pacientes por dia, uma vez que as consultas duram em torno de 15 minutos – cerca de 30 pacientes ao dia. O secretário de Saúde, no entanto, contrapõe essa preocupação com o que considera uma questão cultural: mesmo que alguns pacientes vão até a unidade em busca de um atestado médico, muitos outros reclamam da demora na espera pela consulta. “É lógico que o maior tempo de atendimento vai demandar maior qualidade no atendimento, o paciente vai ser mais bem tratado e não vai precisar voltar três, quatro vezes à unidade pelo mesmo problema”, argumenta Nelsinho.
Segundo o secretário, a mudança pode gerar “algum desconforto” inicialmente, mas a situação deve melhorar assim que a população compreender a mudança para que o paciente seja atendido com o devido cuidado. Ele reforça que a duração média de uma consulta entre 12 e 16 minutos é uma recomendação do Conselho Regional de Medicina. No entanto, para que o paciente seja atendido com o devido cuidado, como um idoso, uma gestante ou um atendimento pediátrico, por exemplo, pode demorar mais, enquanto outras podem ser mais rápidas. O objetivo é que o paciente seja bem atendido, devidamente examinado e que seu prontuário seja atualizado no sistema, o que nem sempre é possível na correria do sistema de atendimento em vigor.
Além disso, Nelsinho reitera que não será uma redução drástica no número de pacientes atendidos por dia no credenciamento por horas. “Os médicos que hoje são credenciados por procedimento são liberados entre 15 e 20 consultas – agora, no período de endemia de influenza, aumentamos para 20 consultas, mas são 15 consultas por período. Inclusive, é o que prevê o próprio contrato”, explica. O secretário reitera que, na sessão da Câmara, o vereador se referia aos médicos que atendem nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e que, nos PAs, o processo de consulta é outro, sem tempo definido.
Outra dificuldade da Secretaria de Saúde em relação aos médicos credenciados por produção é que, quando é necessário fazer uma capacitação ou treinamento, eles não têm disponibilidade, pois precisam trabalhar, já que ganham por produção. “Entendemos o lado dos médicos, mas esses médicos nunca estão atualizados com os processos. Trabalhamos numa rede de saúde, então, esses processos são atualizados constantemente, os protocolos são atualizados constantemente. O médico, estando contratado por horário, vai poder ir a essas capacitações”, justifica.
Quanto à adesão ao novo modelo de credenciamento, Nelsinho explica que houve uma reunião na última semana, na 4ª Regional de Saúde, em que foram convidados todos os médicos e as empresas que prestam serviço ao município na área de saúde. Essa reunião, que teve participação do prefeito Emiliano Gomes, da vice Larissa Mazepa, do procurador Hermano Faustino e da secretária de Administração, Rosenilda Paiva, serviu para apresentar, de forma transparente, o processo do novo credenciamento. “Houve alguns comentários desfavoráveis, mas qual foi nossa surpresa quando não houve nenhum questionamento contrário ao novo modelo, inclusive, dos médicos que estavam presentes”, diz.
Já em relação aos procedimentos ambulatoriais, como retirada de pequenas verrugas, encaminhadas para biópsia, Nelsinho esclarece que fazem parte das atribuições do médico que trabalha na Estratégia de Saúde da Família (ESF), ou seja, qualquer profissional pode executá-los. No modelo atual, segundo o secretário, um paciente atendido na unidade do Guamirim, por exemplo, seria encaminhado para a Vila São João para passar pelo procedimento – hoje, cobrado à parte pelo médico, apesar de estar incluído em seu contrato. “Estávamos pagando por procedimentos que já estão inclusos no contrato e que não estavam sendo feitos”, destaca. Nessa reestruturação, a Secretaria de Saúde está adquirindo novos materiais para esses procedimentos e montando uma Central de Esterilização própria – hoje, esse serviço é terceirizado – para que o município possa dar conta da demanda, inclusive, do setor odontológico, presente em todas as UBS.
Consultas ginecológicas e especialidades
A necessidade de as mulheres passarem por uma consulta por clínico geral antes de serem encaminhadas a uma consulta com o ginecologista também foi alvo de críticas recentes do vereador Marcelo Duda (Podemos), na Câmara. Nelsinho argumenta que a gestão atual está mudando e reestruturando o atendimento que era feito até então e reforça que o Ministério da Saúde preconiza que, nas Unidades de Saúde da Família, compete ao clínico geral acompanhar a família toda e, em caso de necessidade específica, encaminhar a atendimento ginecológico.
Conforme o secretário, o ginecologista vai atender a mulher em casos ginecológicos. Outras situações de saúde, mesmo se tratando de uma mulher, devem ser atendidas pelo clínico geral. Além disso, Nelsinho observa que, ao assumir a administração, a atual gestão enfrentou dificuldade nesse aspecto, porque a única ginecologista estava em licença-maternidade, o que gerou acúmulo na demanda por essas consultas. “Tivemos um acúmulo das consultas e encaminhamentos e esse processo é preconizado pelo Ministério da Saúde, está dentro da Política Nacional de Saúde. Não é uma invenção de Irati. Se você for em qualquer outro município, funciona da mesma forma. Assumimos com uma fila muito grande na ginecologia, com cerca de 300 mulheres aguardando uma consulta com ginecologista. Mudamos toda a estrutura da Casa Verde. Hoje, não tenho nenhuma paciente aguardando marcação de cirurgia ginecológica. Cerca de 20, 20 e poucas pacientes não estão agendadas – tínhamos 300 e poucas pacientes aguardando consultas ginecológicas. E tem as consultas agendadas, que ainda não foram realizadas, mas já estão garantidas”, explica.
A fila deve ser zerada no próximo mês. Existe atendimento ginecológico emergencial e para gestantes na Unidade de Saúde da Mulher e na Vila São João. Porém, o procedimento correto, de acordo com o secretário, é procurar, primeiro, o clínico geral, excetuados os casos emergenciais.
Também não há filas para a realização de tomografias, segundo Nelsinho. “Ainda temos [outras] filas enormes, mas estamos há seis meses, pegamos uma mudança de gestão, adequação de orçamento”, diz.
Apesar de o município ter apenas uma ginecologista no quadro próprio, existem outros que atendem via consórcio, explica o secretário, como as demais especialidades, inclusive a pediatria. Nelsinho nega que a Prefeitura deixaria de atender ginecologia e pediatria, encaminhadas para o Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS/Amcespar). “Só muda o endereço da consulta. É uma inverdade, falácia para distorcer os fatos. Não muda, muito pelo contrário, facilita, porque você está dentro da rede. Todo o atendimento especializado do município é feito ou via Consórcio ou via TFD (Tratamento Fora de Domicílio), via Regional de Saúde. Todo ele está focando dentro do Consórcio de Saúde. Quando você cria esses ‘braços’ dentro do município, você tumultua o processo. Se você pegasse queixas, hoje, do pessoal que está na fila da ortopedia, vai ver que a pessoa fica sendo ‘jogada’ de um lado para outro, porque vai num município que não faz cirurgia, porque não tem centro cirúrgico; vai para o ambulatório do município e, do ambulatório, vai ser encaminhado. Em vez de ir direto para o Consórcio e, do Consórcio para a cirurgia, vai para o ambulatório, do ambulatório para o Consórcio. O paciente fica andando de um lado para outro. Estamos otimizando esses passos”, alega.
A área de Pediatria ainda não sofreu mudanças e possui consultas ofertadas pelo Município, na UBS Ildefonso Zanetti.