Candidata ao governo estadual quer reverter militarização das escolas

Professora Ângela Machado do PSOL defende contratação de psicopedagogos, psicólogos e assistentes sociais nas escolas/Texto…

28 de setembro de 2022 às 00h04m

Professora Ângela Machado do PSOL defende contratação de psicopedagogos, psicólogos e assistentes sociais nas escolas/Texto de Karin Franco, com reportagem de Juliana Sartori/AERP


Ângela Machado (PSOL) falou sobre propostas apresentadas durante sua candidatura ao governo estadual durante entrevista à Rede Aerp de Notícias. Foto: AERP/Divulgação

Ângela Machado (PSOL) é uma das candidatas ao governo estadual. Natural de São José dos Pinhais, a professora é formada em História e atua na rede pública estadual. Na política, ela já concorreu ao cargo de vereadora em Curitiba em 2016 e 2020, mas não foi eleita.

Em entrevista à Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (AERP), Ângela defendeu a reversão da militarização das escolas. Segundo ela, a militarização foi uma aberração. “Quando elas foram implantadas, houve uma consulta à comunidade escolar. Só que ela foi uma consulta tendenciosa. Porque se passou uma falsa ideia de que essas escolas militares teriam uma estrutura, teriam uma qualidade das escolas militares que tem aqui em Curitiba, o Colégio Militar de Curitiba, da Polícia Militar. E não é nada disso. Apenas tem militares nas escolas tentando, segundo eles, colocar uma ordem nessas escolas. E não trouxe ordem nenhuma. Nós já apontávamos isso. Eu já falava lá em 2019, quando se falava pela primeira vez de militarização da escola, que o que precisamos nas escolas são psicopedagogos, são psicólogos, são assistentes sociais e não militares”, conta.

Para Ângela, há um gasto excessivo para o pagamento dos militares. “Se gasta um monte com a remuneração desses militares que estão nas escolas. Muitas vezes essas comunidades escolares têm sofrido com o abuso de autoridade, com assédios por parte dos próprios militares que estão nas escolas e não trouxe melhoria nenhuma para a educação”, disse.

Já para reverter a evasão escolar, a candidata disse que pretende fazer busca ativa. “Eu acho que fazendo uma busca ativa, mas entendendo os problemas que levam a essa invasão escolar. Porque muitas pessoas, por exemplo, no Ensino Médio, deixaram de frequentar porque tinha que comer ou estudar. As pessoas optavam em sobreviver. Identificar esses problemas e tentar resolver também a raiz desses problemas que estão levando à evasão. Não simplesmente, chamar o aluno para vir para a escola. Mas e aí, qual é o problema que está fazendo ele evadir da escola?”, conta.

A candidata ainda explicou que pretende reverter a terceirização de funcionários na área de educação e disse que quer investir no setor. “Um amplo projeto de investimento na educação, de tratar a educação realmente como ela merece. Porque entra governo e sai governo e eles tratam a educação como um negócio, uma empresa que eles têm que gerenciar. ‘Não pode dar despesa aqui, então eu tenho que cortar ali’. Para eles, para o atual governo e para outros que antecederam, a educação sempre foi uma grande despesa”, disse.

Ângela Machado também destacou ser a favor da desmilitarização e disse que acredita que é preciso unificar as polícias. “A desmilitarização ela não compete ao Governo Estadual. Nós podemos lutar por isso, mas é uma coisa do governo federal. Entendemos que a segurança do jeito que ela está, não está dando certo. Ela tem a investigação separada do policiamento. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Então, achamos que precisa ser unificado isso”, conta.

A candidata também propõe um incentivo à criação das Guardas Municipais em cidades que ainda não possuem este tipo de segurança. “O que apostamos muito é num incentivo aos municípios, onde vamos entrar com uma parte de formação, de ajudar na remuneração, para que os municípios formem guardas municipais. Para que essas Guardas Municipais – não são militarizadas – que elas atendam a população mais de perto. Temos que pensar em municípios que tem um policial militar”, disse.

Ângela também propõe o investimento na área de inteligência das polícias, onde ocorrem as investigações. “Tem coisas que podem ser desbaratadas muito antes de acontecer. Tem vários crimes que são planejados assim há muito tempo e que se tivesse esse programa de investigação, de inteligência, mais bem aparatado, poderia se prevenir muita coisa na segurança pública”, conta.

Um dos exemplos que a candidata cita são os casos de assaltos como o que aconteceu em uma transportadora de valores em Guarapuava. “Isso não é uma coisa que é no impulso, que é de uma hora para a outra que alguém decidiu: ‘Vamos lá atacar’. É uma coisa que é programada. E uma polícia investigativa, com o uso da inteligência, ia conseguir prevenir muito mais”, disse.

Em relação aos pedágios, a candidata disse que não deve implantá-lo no estado porque entende que já há impostos que podem ser redirecionados para a manutenção das vias. “Achamos que não tem que ter pedágio nem público, nem privado. Não tem que ter pedágio, que já pagamos muitos tributos. A nossa proposta é de não ter pedágio nenhum. É de ter estradas com segurança, com tudo aquilo, que já estamos desembolsando no dia a dia, que não precisa de mais isso. Também queremos lutar para que as rodovias federais, que passam pelo Paraná, que também que não sejam pedagiadas”, conta.

Na área da agricultura, a candidata destacou que deve focar nos pequenos agricultores e não nos grandes produtores do agronegócio. “Não nos interessa ajudar esses que sempre foram beneficiados. O que nos interessa é ajudar o pequeno produtor rural, o pequeno proprietário, ajudar pessoas que têm dificuldade para ter uma terra. Vamos apoiar a reforma agrária, a agricultura familiar, de orgânicos, de agroecologia. Mesmo porque 70% dos empregos no Paraná vêm da pequena e da média empresa. Você veja bem, o que nos adianta ter esses grandes desertos verdes, se o povo passa fome, se não gera tantos empregos assim e não soluciona o caso da fome, do emprego para as pessoas, para os de baixo, para as mulheres, para os negros, para a juventude, para os LBTGs, para todas essas pessoas que historicamente não tem vez e voz, que ficam à margem do Poder”, explica.

A candidata também destaca que pretende fazer com que a Sanepar e a Copel voltem a cumprir sua função social. “A Copel e a Sanepar devem cumprir a função social para que elas foram criadas. Elas foram criadas para gerar energia, para gerar água, com preço acessível para a população, com serviços adequados para a população. Hoje, quando elas são privatizadas, elas servem a quem? Elas servem principalmente para dar lucro para os acionistas. Hoje em dia, o Governo do Paraná não é mais o principal acionista. Cada vez mais os serviços vão piorando, a conta de luz, de água, vai aumentando porque tem que ir lucro para o bolso dos acionistas”, conta.

Solange explica que pretende reestatizar ações da Sanepar e da Copel, para que o Governo do Estado do Paraná volte a ser majoritário nas decisões. “É recomprar para ter a maioria de novo, para ser o maior acionista, para fazer com que essas empresas cumpram a função social dela. E aí elas vão dar menos lucro para aqueles acionistas, para esses grandes acionistas e aí vai ficar desinteressante ter uma ação dessa porque ela não está gerando lucro. É esse o plano. É que elas é cumpram a função delas que é melhorar os serviços, remunerar adequadamente os servidores dessas empresas, ampliar os serviços”, explica.

A candidata ainda destacou que deve repor a perda inflacionária dos servidores a cada ano e fazer a reposição das perdas salariais passadas. Segundo ela, a medida é possível se verificar as prioridades orçamentárias, como a não realização de obras grandes como a engorda de Matinhos. “Qual que é a prioridade de fazer uma obra dessa ao invés de pagar decentemente os servidores públicos? Os servidores públicos são aquele enfermeiro que está na linha de frente da Covid, é o professor que na pandemia teve que se reinventar para dar conta de todas as demandas, é o policial que está passando meses acampado na frente do Palácio, que são desvalorizados por esse governo. São pessoas que estão aí. Você cruza com elas diariamente e elas são totalmente desvalorizadas. As nossas perdas salariais chegam a quase 40%”, disse.

Ângela conta que se define como ecossocialista porque acredita que é preciso ver a relação da sociedade e meio ambiente. “Ser ecossocialista é pensar num ambiente como um todo, pensar na sociedade como um todo, que não tem como você pensar em políticas públicas, sem pensar, por exemplo, na água, sem pensar nos rios, sem pensar no ar, sem pensar em todas essas coisas que afetam todos os cidadãos, sejam brancos, negros, sejam LGBT, sejam trabalhadores, sejam empresários. Todo mundo é afetado por uma crise hídrica, alguns num grau muito maior, porque as políticas públicas, de saneamento, de tudo isso, não chega para todos da mesma forma”, disse.

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