Rede de Proteção à Criança e Adolescente de Irati será reestruturada

Atividades realizadas pela Rede serão apresentadas para a comunidade em evento na quinta-feira, dia 15,…

12 de maio de 2025 às 23h56m

Atividades realizadas pela Rede serão apresentadas para a comunidade em evento na quinta-feira, dia 15, das 13 às 17h, na Câmara de Irati/Texto Marina Bendhack com entrevista de Rodrigo Zub e Juarez Oliveira

Marili Teixeira, Pedagoga e autora do livro "O Menino Sensível" e Cláudia Bonete, Psicopedagoga e autora do livro "Chapéuzinho Cor de Rosa"
Marili Teixeira, Pedagoga e autora do livro “O Menino Sensível” e Cláudia Bonete, Psicopedagoga e autora do livro “Chapéuzinho Cor de Rosa” foram entrevistadas pela reportagem da Najuá para falar sobre o trabalho desenvolvido em Irati no combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo)

O município de Irati realizará atividades para a conscientização da sociedade sobre o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (celebrado em 18 de maio), além de simbolizar a reestruturação da Rede de Proteção à Criança e Adolescente na cidade.

A Rede é um sistema de órgãos, entidades e profissionais que atuam de forma integrada para garantir e proteger os direitos das crianças e adolescentes. Em Irati, a Rede passou a atuar em 2006, mas está sendo reestruturada, conforme a Pedagoga, Cláudia Bonete, que atua na secretaria de Assistência Social, é Psicopedagoga e Psicomotricista Relacional. “A rede de proteção à criança e adolescente teve o início em 2006 aqui em Irati, a estruturação dela. E depois de 2012, ela foi incorporada junto de uma rede maior, junto com outros públicos. Então, não eram só crianças, adolescentes, mas também mulheres, pessoas com necessidades especiais, moradores de rua. Então, essa rede maior”, disse Cláudia.

A psicopedagoga conta que com o passar dos anos, os profissionais passaram a ver a necessidade de dar atenção exclusiva à Rede de Proteção à Criança e Adolescente.  “Para termos realmente uma atenção mais especial, voltada para que a criança e o adolescente estejam como prioridade absoluta, houve essa necessidade de colocar novamente a criança e o adolescente em uma rede específica, separada dos demais públicos, que também vai ter outro mediador aí para acompanhar. Então, a rede é formada por todos os órgãos que o município tem, que trabalham com crianças e adolescentes, governamentais e não governamentais. E a ideia agora é de reestruturar essa rede também com toda a comunidade. A gente sente a necessidade, por conta do número de vítimas de violência, que tenhamos uma rede bem mais ampliada para podermos atender essa necessidade”, afirma Cláudia.

A rede é formada por todos os órgãos do município que trabalham com crianças e adolescentes, sejam eles governamentais e não governamentais, como o Conselho Tutelar, Polícia Civil, Polícia Militar, Assistência Social e as Secretarias de Educação, Saúde, Esporte e Cultura. 

Atualmente, todos os equipamentos da assistência social desenvolvem trabalhos de prevenção, mas não há uma interlocução entre a rede, conforme Cláudia. A partir desse ano, a psicopedagoga está designada a reestruturar a política da criança e adolescência. “Quando a gente fala de reestruturação da rede, é dessa organização, desse diálogo que precisa haver entre todos. Para que não sejam ações dispersas, que sejam ações que tenham foco e que tenham continuidade”.

O Conselho Tutelar e a escola têm papel fundamental no prosseguimento de uma denúncia de abuso sexual contra crianças e adolescentes. “Crianças vítimas de violência, a porta de entrada é o Conselho Tutelar. Dependendo da situação, a criança passa por uma escuta especializada. Só que antes de passar por uma escuta especializada, essa criança normalmente está numa escola. Na escola, ela faz revelações. E esses profissionais, tanto professores, auxiliar de serviços gerais, merendeiras, motoristas, todos devem estar preparados para acolher quando uma criança chega contando alguma coisa. Porque a criança escolhe para quem ela vai contar algum segredo, alguma coisa que é importante para a vida delas. E esses profissionais precisam estar preparados”, salienta a Psicopedagoga.

Depois dessa primeira escuta do relato da criança ou adolescente é realizado um trabalho de investigação da denúncia. “Dependendo da situação ou vai para saúde, saúde mental, muitas vezes. Se precisa de IML, se precisa de consulta, CREAS, CRAS. Então, há uma série de encaminhamentos que o próprio Conselho Tutelar faz. Então, de certa forma, isso é a rede. Só que precisamos reestruturar essa articulação entre os profissionais que trabalham nesses setores, nesses departamentos”, relatou.

Dia 18 de maio é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Em referência à essa data, a Rede de Proteção de Irati realizará um encontro na Câmara Municipal, no dia 15, quinta-feira, das 13 às 17h, para conscientizar a sociedade sobre o tema. A programação envolve: 

-Apresentação sobre o histórico da Rede de Proteção, a história do mascote da rede chamado de Super D e os dados da violência contra crianças e adolescentes em Irati;

-Apresentações artísticas;

-Palestra “Tecendo Redes: proteção e prevenção às violências contra crianças e adolescentes” com a professora Michele da Rocha Cervo, que faz parte do Núcleo de Estudos e Defesa de Direitos da Infância e da Juventude (Neddij);

Uma passeata pelo fim do abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes estava marcada para sábado, dia 17. Porém, o evento foi adiado e será realizado em uma nova data a ser agendada.

Cláudia explica que o encontro de quinta-feira tem como intuito convidar os profissionais, empresários, e sociedade em geral a se envolverem nessa causa que impacta toda a sociedade. “Não é a assistência social que vai dar conta desse problema enorme, nem a Secretaria de Saúde, nem o Núcleo da Educação. Então, é um trabalho que precisa de muitas mãos”.

Em caso de qualquer suspeita sobre abuso sexual infantil, Cláudia recomenda como primeiro passo a denúncia. “Primeiramente, é o Conselho Tutelar. Então, se tratando de crianças e adolescentes, o Conselho Tutelar é a porta de entrada. Temos também o Disque 100, que é o Disque Direitos Humanos, que a central é em Brasília, que recebe denúncias e encaminha ao município, dependendo do teor da denúncia, ou vai para a delegacia, vai para o Ministério Público, vai para o Conselho Tutelar sempre. Mas a gente, assim, orienta sempre que o Conselho Tutelar, através do número do Conselho Tutelar, a gente faça essa denúncia”.

Cláudia ainda ressalta que não é necessário ter uma prova do abuso. “Não precisa ter uma prova de que a criança está sendo vítima. Tendo uma simples suspeita é importante encaminhar. E as pessoas às vezes ficam preocupadas ‘ah, mas que tal se isso não é verdade e eu vou difamar alguém?’ Não, não é isso. Ninguém sai acusando ninguém. É importante porque, assim como pode ser real aquela denúncia, pode ser uma denúncia falsa. Mas também pode ter, além daquela denúncia, além do teor daquela denúncia, outras coisas que essa criança [sofre]. A gente tem, desde 2006, em contato com crianças vítimas de violência, eu escutei nesses últimos anos muitas histórias reais e muito tristes de crianças vítimas de abuso sexual, de violência, e nós entendemos que as violências físicas, psicológicas, negligências, são caminhos também para a violência sexual. Se não dentro da casa, fora”, continua Cláudia.

A psicopedagoga reforça a atenção dos pais a qualquer mudança no comportamento dos filhos. “Então, os pais precisam ser os primeiros a conquistar essa confiança. Os pais, os professores, todos nós profissionais do município, nós temos que estar atentos a isso. Então, qualquer sinal de mudança de comportamento, então, isso é um outro tema bem abrangente, sobre sinais de alerta. Mas assim, diante de uma suspeita, precisamos encaminhar, porque às vezes essa criança não está passando por um abuso sexual, mas a família está necessitando de uma outra forma de orientação, e essa família vai entrar na rede para ser atendida. E para que a violência não vire um ciclo interminável”.

A denúncia pode ser feita pelo telefone 42 99133-2698. 

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Em entrevista à Najuá, a Pedagoga com Pós-Graduação em Psicologia, Marili Teixeira, falou sobre a importância de ensinar as crianças, com uma linguagem lúdica, sobre o que é um abuso e o que fazer em caso de abuso.

A Pedagoga escreveu o livro “O Menino Sensível”, que foi pensado para trabalhar o tema de abuso sexual de meninos. O livro foi produzido a partir do trabalho desenvolvido por Marili no programa “Sentinela” realizado nas escolas de Irati com foco na prevenção do abuso sexual em crianças e adolescentes. “Porque a questão do abuso sexual é um tabu. É um tabu que deve ser sanado. Deve ser superado por todos. Pela família, pela escola, pela sociedade em geral. Então, esse livro, a linguagem é simples”, salienta Marili.

Cláudia também fez parte, em 2006, do programa “Sentinela”. Ela já era psicopedagoga e havia começado o curso de Pedagogia. Por isso, ela conta que resolveu levar esse trabalho de prevenção para seu estágio na faculdade. “Entretanto, quando chegou no momento de falar sobre o abuso sexual, eu não encontrei nenhum material. Isso foi em 2008. Eu não encontrei nenhum material sobre prevenção, abuso infantil. O que tinham eram algumas figuras falando sobre outros temas, mas histórias infantis não encontrei nenhum. Então, para não desistir do projeto, que eu já estava quase concluindo, eu escrevi, lembrando que crianças gostam de histórias, elas se identificam com os personagens, da história da Chapeuzinho Vermelho, que tinha um lobo mau, então adaptei a história”, revela a psicopedagoga.

O livro foi lançado em 2010 e reeditado anos depois, com alguns critérios a mais, para aprimorar a história.“A criança usa muito a imaginação. E a gente precisa usar essa imaginação, né? Esse recurso que a criança tem para também ensiná-la a se proteger.”, diz Cláudia.

Marili continua realizando esse trabalho em escolas, usando como recurso o livro da “Chapeuzinho Cor de Rosa”. “É importante, mas, como eu falei, é um tabu. Eu tenho a impressão que as escolas ainda têm dificuldade de trabalhar esse tema.”, diz a pedagoga.

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