Estudantes de instituições públicas de ensino podem receber bolsas de 50 a 100% para ingressar ou continuar no ballet clássico. A iniciativa é do projeto Balé Clube do Comércio, desenvolvido pela professora Ana Flávia Martins/ Marina Bendhack com entrevista de Rodrigo Zub e Juarez Oliveira
O Ballet Clube do Comércio, projeto desenvolvido pela professora Ana Flávia Martins, está com inscrições abertas para as turmas de 2025. Estão sendo oferecidas três bolsas de estudo de 100% e três de 50% para os alunos que sempre estudaram em escolas públicas.
O critério utilizado para as bolsas será o de ordem de inscrição. As inscrições vão até dia 15 de fevereiro e podem ser realizadas a partir do preenchimento do formulário que está na biografia do Instagram do @baleclubedocomércio, além disso, é possível entrar em contato com a professora Ana Flávia pelo telefone: 42 99914-9570. As aulas são semanais, duram cerca de duas horas e são realizadas em uma sala no Clube do Comércio.
As aulas são pensadas para cada faixa etária e buscam valorizar o balé como uma arte. “É uma mensalidade bem baixa, se considerar, é um valor bem acessível, que é R$ 95 de mensalidade. As aulas são de duas horas. Toda semana tem, e aí isso varia. Eles têm aula de interpretação, aula de condicionamento físico, aula de… até algumas aulas teóricas também. Eles estudam os balés e repertório. Eu tento focar bastante na parte artística também, porque o balé é um esporte, mas também é uma arte. E geralmente o pessoal foca muito no esporte, e deixa a arte um pouco de escanteio. E lá a gente tenta puxar bastante para esse lado também”, afirma a professora.
No dia 20 de fevereiro, Ana Flávia completa um ano desde o início das aulas de Ballet no Clube do Comércio. As aulas ofertadas são para crianças a partir de quatro anos, adultos e idosos. Em 2024, foram três turmas: três pessoas na turma de crianças iniciantes, nove na turma das crianças maiores e sete na de adolescentes e adultos.
A iniciativa das bolsas é de Ana Flávia. Para aqueles que tentarem e não conseguirem obter uma bolsa, será feita uma lista de espera, caso seja aberta alguma nova vaga. As aulas terão início no dia 15 de fevereiro e a sala no Clube do Comércio ganhará novos equipamentos, subsidiados pela lei de incentivo à cultura. “Teve recentemente uma premiação daquela lei de fomento à cultura do Aldir Blanc, e eu consegui tirar o segundo lugar, e eu vou utilizar o dinheiro dessa premiação para adaptar, colocar barras, espelhos, que é uma coisa que a gente não tem por enquanto. A gente trabalhou com o que deu, e no começo do ano eu comprei o som com o meu dinheiro, para a gente conseguir usar, e também os colchonetes com o meu dinheiro, bambolês, aí dessa vez eu acho que vai ficar bem legal”.
Para fazer as aulas, não é necessário ter um preparo anterior, “basta ter vontade de dançar”, diz Ana Flávia. O ballet pode ser praticado desde bebê, mas as turmas do Clube do Comércio iniciam a partir dos quatro anos de idade e vão até adultos e idosos. “A nossa turma do ballet adulto é maravilhosa, a nossa aluna mais velha tem 60 anos e dança super bem, dançando quebra-nozes, e eu sempre falo, se você é adulto e tem vontade de fazer balé, ainda dá tempo, a gente dança, você vai viver uma vida de artista, vai fazer apresentações, vai participar e vai ser ótimo. Todos os adultos que fazem gostam muito”, ressalta a professora, que reforça que homens também podem participar das aulas.
Ana Flávia começou dando aula de ballet numa escolinha e posteriormente em uma academia. A professora precisava de um espaço para fazer a apresentação de final de ano. Ela conversou com o presidente do Clube do Comércio, Vergílio Trevisan, que cedeu o espaço e sugeriu de realizar aulas no local.
A professora utiliza a metodologia cubana em suas aulas. “A gente segue a metodologia cubana, que foi desenvolvida pela Alicia Alonso e é uma metodologia que é muito interessante de ser utilizada no Brasil, porque ela é feita para o corpo latino-americano. O ballet começou na França, e depois teve o russo, que é muito famoso e é para um biotipo muito diferente do nosso. Então, aqui na América Latina tem essa metodologia. Aí, com as crianças trabalho bastante o chão com elas, fazendo os exercícios de chão, os pliês no chão, aí elas vão começando a aprender os movimentos, primeiro com as duas mãos na barra, depois vão soltando, e fazem atividades para desenvolver o salto.”
Ana Flávia conta com a ajuda de sua irmã, que é fisioterapeuta, para ajudar na montagem das aulas, principalmente na parte de elaboração dos exercícios corporais de alongamento e flexibilidade.
Os exercícios mudam conforme as turmas. “As crianças menores têm ali um exercício que é um pouco mais lúdico, aí as outras crianças já começam a preparar, já vão aprendendo a dinâmica de fazer os pliês, os grand pliês, os cupês, já vão acertando a técnica porque a base do balé tem que ser muito boa pra conseguir realizar os movimentos que são mais complexos. Então, eu foco bastante numa base bem feita, isso, pra mim, que é o importante. E os adultos, eles já têm alguma capacidade de domínio do corpo, que é diferente das crianças. Então, eles vão aprendendo, já começam ali nos stands e depois vai pros pliês e vai evoluindo com o tempo, então, é uma base. Existem passos que são bases e vão servir pros grandes, como aqueles grandes saltos e piruetas”, explica Ana Flávia.
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É possível que pessoas de outras cidades frequentem as aulas, mas desde que não haja faltas e desistências, principalmente os bolsistas. “Eu até fiz um termo para quem vai ser bolsista que tem que assinar, se não faltar tem que justificar, e tem que participar de tudo, se desistir vai ter que ter uma multa ali também, porque é um pouco complicado não ter esse acordo, porque aí chega a apresentação, você monta uma coreografia, a pessoa desiste e têm que montar tudo de novo. Então, esse ano eu estou fazendo bem mais organizado”, conta a professora.
São realizadas duas apresentações com as turmas: uma no meio do ano, em junho, na qual geralmente são reaproveitados os materiais utilizados no final do ano anterior e uma grande apresentação no final do ano, em dezembro. Em 2024, a apresentação de final de ano foi o Balé Quebra Nozes. O espetáculo teve duas horas de duração e foi realizado em parceria com o estúdio Aline Toledo. “O Quebra-nozes é um ballet de 1892, que é dividido em geralmente três atos. A gente fez em dois, porque nesses três atos, o primeiro é longo e se passa numa festa de Natal, o terceiro é só uma ‘partezinha’ de uns 13 minutos, que é numa floresta de neve, e o terceiro seria em um reino doce, com diversos docinhos de açúcar. Só que para a gente ter três cenários, seria muito caro, geralmente sai bastante do nosso bolso, além dos ingressos. Então o nosso foi dividido em dois atos: o primeiro se passou numa festa de Natal e o segundo no reino doce. Aí a gente juntou, fez os pinheirinhos e colocou os docinhos juntos na pintura. Foi o que deu pra adaptar, sem eliminar a parte da neve”.
O Quebra-nozes é um ballet que conta a história de uma menina chamada Clara que ganha um boneco quebra-nozes de seu tio, e a partir disso, o espetáculo se desenvolve com o quebra-nozes ganhando vida. Existem diversas versões do espetáculo.
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Quando tinha apenas oito anos, Ana Flávia ganhou uma caixinha de música com uma bailarina que despertou o desejo de dançar ballet. Assim, estudou ballet clássico dos oito até os 15 anos. Na faculdade, foi convidada a dar aula em uma escolinha e a partir daí continuou esse trabalho.
Ana Flávia tem como referência a bailarina cubana Alicia Alonso. “Ah, sempre a Alicia Alonso? Que é a mãe do ballet cubano, que criou a metodologia que eu utilizo, e ela foi uma bailarina que ficou cega muito cedo, e ela continuou dançando, guiada pelas luzes do palco. E o que eu mais gosto na metodologia dela, é que ela diz que para ensinar ballet, você tem que respeitar a individualidade do aluno, então não passar um exercício e fazer com que ele se adeque, e se não se adequa, saia daqui, igual acontece em muitas companhias. Ela diz que para ensinar ballet, tem que ter afeto também. Então, ela é a minha maior inspiração. Ela faleceu, não lembro em que ano foi, mas trabalhou com ballet até o último suspiro da vida”.
A professora criou uma coreografia chamada Moscow Nights. “Eu já criei uma coreografia que eu danço em qualquer evento, inclusive se alguém quiser me contratar para um evento, eu sempre participo. Geralmente nem cobro. Eu criei uma coreografia chamada ‘Moscow Nights’, que eu fiz baseada em uma ginasta russa, a Aliyia Mustafina. Usei uma música que ela usava no solo dela e essa é de minha autoria. E a gente tem um plano muito interessante para o espetáculo de 2025, de final de ano, que vai ser de nossa autoria também, minha e da minha colega que trabalha na Aline Toledo, que é a Bianca Rodrigues, que foi minha colega enquanto eu estudava balé clássico, no passado. Então, eu não posso abrir em detalhes, mas vai ser bem legal”, adianta Ana Flávia.