Peça de Denise Stoklos e Alessandra Maestrini lotou Clube do Comércio em Irati

Espetáculo “Ensaio número 2– Leituras de Textos” trouxe textos de Clarice Lispector e Rubem Alves….

29 de dezembro de 2024 às 23h44m

Espetáculo “Ensaio número 2– Leituras de Textos” trouxe textos de Clarice Lispector e Rubem Alves. Atrizes estão desenvolvendo trabalho juntas e devem realizar outras apresentações no País em 2025/Texto de Karin Franco, com entrevista realizada por Jussara Harmuch, Rodrigo Zub e Anderson Harmuch

Alessandra Maestrini e Denise Stoklos durante apresentação no Centro Cultural Clube do Comércio no dia 23 de dezembro. Foto: Prefeitura de Irati

O Centro Cultural Clube do Comércio de Irati ficou lotado na segunda-feira (23) para prestigiar o espetáculo “Ensaio número 2– Leituras de Textos”. A peça é interpretada pelas atrizes Denise Stoklos e Alessandra Maestrini, que ficou conhecida pela personagem Bozena, da série “Toma Lá, Dá Cá” na Rede Globo. O evento gratuito ocupou a capacidade máxima do Centro Cultural, que é de 200 pessoas.

O espetáculo é resultado do encontro das duas atrizes que tinham o desejo de trabalhar juntas. Em entrevista no programa “Meio Dia em Notícias” da Super Najuá, antes da apresentação, Alessandra Maestrini contou sobre o início do projeto. “É a primeira vez que estamos desenvolvendo um trabalho junto. A Denise, eu tive a honra de tê-la assistindo a uma peça que eu fiz ano passado, ‘Kafka e a Boneca Viajante’. Depois, sentamos para conversar e eu falei: ‘Nossa, eu sempre quis trabalhar com você, mas você faz tudo sozinha! Como é que faz?’. Ela falou: ‘Eu tenho feito umas pesquisas agora, quem sabe’. Nós fomos conversando e vimos que a gente acaba brincando muito, está criando um monte de coisas juntas, mas a gente quer pisar no palco logo. Então, resolvemos estrear e como não tivemos tempo de ensaiar, chama ‘Ensaio Número 2’, porque a primeira vez que subimos no palco junto foi no Flitabira, justamente a Denise lendo Clarice Lispector, eu lendo o Rubem Alves, e ali então foi o ‘Ensaio Número 1’”, conta.

Na peça apresentada em Irati, as atrizes também leram um poema de Lucas Guimarães. Segundo Alessandra, o espetáculo traz o improviso em cena. “É um olho no buraco da fechadura. Todo mundo estará vendo nós ensaiarmos em cena. Nós nunca fizemos isso e nunca paramos para ensaiar juntas. Isso vai ser uma surpresa para todos nós”, disse rindo.

A peça teve entrada gratuita por meio do apoio da prefeitura de Irati, Arena Cultural e Luna Festival de Artes. Para Denise Stoklos, trazer uma peça teatral com esta para sua cidade natal é um orgulho. “É uma emoção especial, diferenciada, me apresentar na minha própria cidade, para os meus concidadãos, num presente da Prefeitura Municipal de Irati, que resolveu dar isso aos iratienses que se interessam por cultura, por arte e por literatura, porque estaremos lendo textos de importantes autores, Clarice Lispector e Rubem Alves”, explica.

Já para Alessandra, atuar com Denise é um sonho realizado. “Para mim e acho que para todo mundo que é do meio teatral, para quem é apaixonado por teatro, vou estar subindo no palco com quem não é uma pessoa de teatro, é o teatro, que é Denise Stoklos. Eu digo que é Dionísio [Deus do teatro grego], não é Denise”, disse.

Denise Stoklos e Alessandra Maestrini contaram detalhes dos trabalhos que estão desenvolvendo juntas como atrizes e diretoras em entrevista na Rádio Najuá. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo)

O espetáculo também é construído a partir da relação com a plateia e a forma que as pessoas recebem a peça. “Nós sentimos muito a plateia. Tudo que fazem, nós estamos atentos e tentando corresponder de alguma forma pela interpretação, pelos tempos das frases a serem ditas ou pela nossa atitude em relação ao texto. Nós estamos muito atentos porque o importante é o público. O que mais conta no teatro são os espectadores. É para eles que estamos fazendo. Não é uma coisa internalizada e voltada para dentro. Ao contrário, é para fora. Para quem veio, saiu de casa, foi até lá, dedicou o seu tempo para assistir alguma coisa que venha a elevá-los no seu dia a dia, com algo que seja mais mágico, mais de interesse, de alma mesmo, de espírito, que enalteça a nossa vida, que nos deixe mais fortes, mais coesos com as nossas intenções de vitalidade”, explica Denise.

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O envolvimento do público com a peça é sentido pelo ator. “A gente quer sentir. A gente sente se vocês estão rindo conosco, se emocionando conosco. O teatro é um lugar de conosco. Nunca é eu estou aqui. Nunca é vocês que estão aí. Nós estamos aqui. É um lugar de comunhão, um lugar de religare”, disse Alessandra.

Para a atriz, o teatro é um momento em que o público tem um relacionamento mais íntimo com o trabalho do ator. Alessandra usou uma metáfora para falar da diferença de trabalhar na televisão e no teatro. “Eu costumo dizer que a televisão é o selinho, o cinema é o beijo na boca e o teatro é a transa. Por quê? O tanto de relação, a profundidade da relação com o público porque como eu falei, é um lugar de religare, é um lugar de conexão, um lugar de encontro. Se você liga a televisão, você vê um programa que você não conhece, você não gostou, está assistindo e não gostou, você troca de canal. Simples. Um selinho, passa. Se você vai ao cinema, você sai de casa, vai até o cinema, entra, tem outras pessoas assistindo com você e está passando um filme que não está te fazendo bem, você fica meio assim, se você sai ou não, porque você investiu naquela coisa. Você sai um pouco com gosto ruim, mas tá. Se você vai ao teatro, você vê uma coisa que você não está gostando, aí é como uma transa que você não está gostando. Você fica num misto de vergonha e raiva. Você não sabe: ‘Como é que eu saio daqui? Porque a pessoa está na minha frente’”, conta.

Esse relacionamento mais íntimo também é sentido por parte do ator. “Do mesmo jeito, quem está no palco, não pode estar numa transa, que é aquele cara que fica se exibindo, aquela mulher que só se acha linda no espelho, tem que estar entrosado contigo, senão a transa não acontece. Fica só um exibicionismo”, explica Alessandra.

A relação das duas atrizes com o teatro também tem feito nascer outros projetos, especialmente na direção. “O que temos são diversos projetos a acontecerem. Nós estamos atualmente dirigindo a atriz Gabriela Duarte, num solo, ‘O Papel de Parede Amarelo e eu’. Essa é a inovação que fizemos para a Gabriela, na nossa direção. Estamos dirigindo também o ator João Paulo Lorenzon, em Nietzsche, ‘Do Cavalo Nada-se-sabe’ é o título do espetáculo. Estamos esperando Miguel Falabella voltar de Lisboa, com o texto que ele está escrevendo para nós duas interpretarmos”, conta Denise.

O texto de Miguel Falabella tem o título de “Amanhã” e abordará o tema da inteligência artificial. “É Miguel Falabella. Então, é comédia, profundidade, poesia, e muita loucura, no melhor sentido das palavras”, afirmou Alessandra.

Na peça com Gabriela Duarte, filha de Regina Duarte, as atrizes viram diretoras para auxiliar a desenvolver a identidade própria da atriz, como contou Alessandra. “A peça da Gabriela, nós estamos muito animadas. Ela estará lançando, acho que vai lançar na mesma época da estreia, um livro que se chama ‘Identidade’. Esse que vai ser o primeiro solo dela. Um monólogo-solo. Ela nos procurou justamente porque ela quer imprimir a digital dela. É uma coisa que é ela, é ela. ‘Ah, que bacana que eu sou filha de não sei quem, mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Eu tenho a minha identidade, tenho as minhas opiniões, eu sou a minha artista’. É aí que nós estamos ali com ela, nesse momento lindo”, conta.

Longe dos grandes centros, o teatro em cidades pequenas é um desafio para quem deseja ser artista. Contudo, Denise Stoklos destaca que o jovem artista precisa atuar, mesmo que a cidade seja pequena, para que ele possa exercer o seu ofício. “É fazer, fazer, fazer, fazer. Trabalhar sempre que há oportunidade de uma maneira ou de outra, em um grupo pequeno. Daqui a pouco esse grupo se junta a outro grupo, daqui a pouco apresenta-se em uma festa de escola ou junta-se em grupos amadores. Daqui a pouco vai se transmitindo ainda mais esse trabalho, essa arte vai sendo comunicada. O importante é exercer a sua vocação. Isso é fundamental para que a pessoa seja feliz e porque precisamos das expressões artísticas”, destaca.

Personagem Bozena: O grande público conheceu o trabalho de Alessandra Maestrini por meio da personagem Bozena, criada para a série “Toma Lá, Dá Cá”, exibida pela Rede Globo. A personagem é paranaense, nascida em Pato Branco, e trabalha como empregada doméstica nas casas dos personagens Mário Jorge (Miguel Falabella), Célinha (Adriana Esteves), Arnaldo (Diogo Vilela) e Rita (Marisa Orth).

A personagem caiu nas graças do público por causa de suas histórias intermináveis sobre Pato Branco e seu sotaque de descendente de polonês. A criação da personagem surgiu após a atriz Débora Bloch contracenar com Alessandra em uma novela. “Eu fui fazer uma participação numa novela do Miguel Falabella, a convite da produtora de elenco. O Miguel nem sabia, mas ele já tinha me assistido no teatro, fazendo “Mamãe Não Pode Saber”, do João Falcão. Ele e a Débora Bloch foram assistir juntos, adoraram. Essa minha participação era numa cena com a Débora, que fazia parte da equipe de criação do programa. Era pra ela estar no programa, que passou algum tempo até ele entrar na grade e ela já estava fazendo novela. Ela ia fazer o papel da Rita, que Marisa Orth fez lindamente”, disse.

A relação boa das atrizes fez com que a personagem Bozena fosse criada para que Alessandra integrasse o elenco. “Nós tivemos uma química de comédia tão grande na cena, que ela falou: ‘Alessandra Maestrini tem que estar com a gente no programa’. Ele falou: ‘Mas o quarteto já está fechado’. Ela falou: ‘Não tem uma empregada?’. Ele ficou pensando, pensando. Falou: ‘Mas de onde é que ela vem?’. Ela falou: ‘Loira de olho azul vem do Sul’. Ele falou: ‘Já tenho tudo na minha cabeça’”, conta.

O criador do personagem Bozena, o ator e diretor Miguel Falabella, se inspirou em uma pessoa que era de Pato Branco. “Ele lembrou de uma história, acho que era ex-namorado de uma amiga dele ou qualquer coisa assim, que era um cara de Pato Branco. Ele falou assim: ‘Era um homem lindo. Mas tudo em Pato Branco era melhor. Tudo’. Ele falou: ‘Porque lá em Pato Branco, não sei o quê lá’. Aí botou a Bozena assim”, explica.

A marca registrada de Bozena, o sotaque, foi criação da própria atriz que buscou entender como era o sotaque do Paraná. “O daí veio da minha pesquisa de sotaque, que eu fui pesquisar o sotaque paranaense e o de Pato Branco. Fui juntando as características do sotaque do Paraná que melhor serviam ao personagem que o Miguel escreveu. Ele queria ela dura, queria ela meio como se fosse um urubuzinho da casa, como ele dizia. Se ela é dura, então ela não pode ter o R redondo do interior. Ela tem que ter o R dos descendentes de poloneses que falam tudo como se lê. E aí foi assim que nasceu”, conta.

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