Evento marcará encerramento de atividades para idosos na Unicentro em dezembro

Apresentações teatrais e lançamento de livro de memórias farão parte do evento “Alvoroço Cultural da…

19 de novembro de 2024 às 18h49m

Apresentações teatrais e lançamento de livro de memórias farão parte do evento “Alvoroço Cultural da UATI”, que acontecerá no dia 09 de dezembro, no Auditório Denise Stoklos/Paulo Sava

Cleide Aparecida Chaves e Genoir Vozniak (Gaúcho) durante ensaio para a apresentação do dia 09 de dezembro. Foto: Paulo Sava

Uma série de apresentações teatrais e musicais e o lançamento de um livro de memórias farão parte da programação do evento “Alvoroço Cultural”, que será realizado no dia 09 de dezembro, a partir das 19 horas, no Auditório Denise Stoklos do campus Irati da Unicentro.

O evento marcará o encerramento das atividades do projeto de extensão Universidade Aberta para a Terceira Idade em 2024. Grupos de idosos que participaram das oficinas de teatro ao longo do ano estão organizando peças teatrais com as histórias de vida de cada participante.

Em entrevista à Najuá, o professor Ernani Sequinel, que coordena a oficina de teatro da UATI, enalteceu a evolução do aprendizado das turmas durante o ano, cada uma com suas características. Algumas delas já tinham noções de teatro. Outros nem sequer tinham visto uma apresentação teatral antes, segundo o professor.

“São várias turmas, cada uma com características completamente diferentes, algumas pessoas com referências de teatro, que já acompanharam, assistiram ou fizeram alguma coisa, e outros que nunca viram ou fizeram teatro. É uma diversidade muito grande, mas a evolução deles é incrível, e foi um semestre fantástico, de muita labuta, e agora na reta final mais ainda. Estamos nos últimos ajustes, mas vão sair apresentações muito bacanas para o público”, frisou.

O professor contou que procura trabalhar o teatro baseado nas histórias de vida dos próprios idosos. “Não adianta vir com texto de peça de teatro, que às vezes até assusta um pouco. Geralmente, com esta faixa etária, eu costumo trabalhar muito as histórias deles, algumas vão para uma vertente mais engraçada, como é o pessoal aqui da Cidade do Idoso, que foi para uma vertente do circo teatro, da palhaçaria. Eles engataram nestas histórias de uma forma muito cômica. Tem outras que entram um pouco mais no drama, histórias tristes, e fomos colocando com muita escuta e sensibilidade, e eles foram se permitindo trazer estas histórias. Vão sair apresentações maravilhosas e este povo tem muita história para contar, muita vida”, frisou.

Professor Ernani Sequinel, responsável pela oficina de teatro da UATI. Foto: Paulo Sava

Durante os ensaios, é perceptível a entrega dos atores em seus personagens, segundo Ernani. “Eles se divertem, se entregam, se jogam, é incrível como eles topam tudo. Você sugere um exercício, uma cena, e eles vão, encaram, com a cara e a coragem, às vezes sem saber muito bem, com nervosismo, mas eles vão e não deixam de fazer. Eu acho muito interessante trabalhar com esta faixa etária porque, diferente das outras, eles se privam menos de experimentar. Eu acho que eles já passaram por tanta coisa na vida, e agora é o momento em que querem experimentar, então eles se jogam mesmo. Eu costumo falar que o trabalho que desenvolvemos com eles vai muito além, é uma comemoração à vida mesmo. Com estas histórias todas, é muito emocionante trabalhar com esta faixa etária”, comentou.

Histórias – Nossa reportagem acompanhou o ensaio do grupo da Cidade do Idoso, no CT Willy Laars, que vai interpretar histórias cômicas que fazem parte da vida de cada um dos integrantes. O aposentado Adão Ferreira de Lima diz que é gratificante poder participar da apresentação. Ele vai contar a história de uma situação de medo de bruxas que tinha quando era criança.

“No tempo em que eu era criança, meus pais me assustaram com bruxas. Quando tinha barulho no mato, eles diziam que tinha bruxa e para não ir lá. Um certo dia, eu estava morando em Foz do Iguaçu, com 17 ou 18 anos, e me convidaram para assistir um filme. Eu e meus amigos fomos, mas eles não me contaram antes que era um filme de bruxa. Eu assisti ao filme e passei medo na volta. Eu fui abrir a porta e tinha um gato que dormia em cima do telhado, pulou em um galho e eu me assustei, dizendo que uma bruxa estava me pegando. O dono da casa se assustou e veio ver o que estava acontecendo. Eu achei que era uma bruxa, mas era um gato preto que pulou em mim”, contou, aos risos.

Cleide e Cecília durante ensaio. Foto: Paulo Sava

Outro caso que será contado durante a apresentação do grupo será o de uma pessoa que esqueceu o carro e voltou caminhando para casa. A aposentada Cecília conta como foi esta situação. “A minha história foi de sair para fazer caminhada, exercício e esquecer que fui com o carro, que deixei estacionado, e voltei a pé para casa. É esta história que vou contar, para dar risada mesmo. Eu me divirto muito nas histórias de cada um”, destacou.

Cleide Aparecida Chaves participa das atividades da UATI desde 2023. Ela vai contar uma história no mínimo inusitada, do dia em que foi pegar o boletim da filha no colégio e entrou no carro errado sem perceber.

“Quando eu fui pegar o boletim da minha filha, na parte da noite, no Colégio São Vicente, na volta entrei no carro errado. Meu Deus do céu, o cara paralisou, não falava nada, e eu igual uma louca dentro do carro. Viver esta história novamente é super legal mesmo, e isto quem proporciona para nós é o professor Ernani com seus alunos. É magnífico, reviver fisicamente e mentalmente estas histórias de vida da gente é muito gratificante e significativo também”, comentou.

Genoir Vozniak (Gaúcho). Foto: Paulo Sava

Genoir Vozniak, conhecido como Gaúcho, vai contar um fato carnavalesco ocorrido com ele em 1971, enquanto servia ao Exército brasileiro no 6º Regimento de Cavalaria Blindado, em Alegrete, no Rio Grande do Sul.

“Eu servi no 6º Regimento, e eu pulei três noites de carnaval, mas na noite seguinte eu estava de serviço. Na verdade, eu estava na ala sul, e daí eu tirei serviço, caminhando com o fuzil nas costas, em banda, e não sei como que bati em um poste e caí no chão. Naquele exato momento, estava passando um oficial do dia, que faz a ronda à noite, e me chamou a atenção. Eu, todo atrapalhado, derrubei o fuzil e o boné, foi aquela folia. Este é um fato verídico que aconteceu em 1971. Eu achei que uma pessoa tinha me dado uma pancada no capacete, porque caiu tudo no chão, mas fui eu mesmo que dormi com o olho aberto, é incrível, eu nunca vi e não sei como foi isso”, contou.

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Já a aposentada Ione Novelo contou que as oficinas da UATI, especialmente a de teatro, a ajudaram a sair de uma depressão. “Isto aqui me ensinou e me ergueu, me motivando. Eu conheci pessoas maravilhosas aqui, todos, os professores, a professora Cinthia, maravilhosa. O grupo do teatro que estamos aprendendo é muito bom, fiz novas amizades e é bom interagir. Todas as peças são bonitas, mas a que eu mais gosto é quando a Cleide entra no carro errado, é muito divertida, eu amei assistir e fazer parte”, comemorou.

Cinthia Lúcia de Oliveira Siqueira, coordenadora da UATI. Foto: Paulo Sava

Apresentações – Outros quatro grupos de idosos compõem o espetáculo que será apresentado no encerramento das atividades da UATI, segundo a coordenadora do projeto, Cinthia Lúcia de Oliveira Siqueira.

“Temos um grupo de Engenheiro Gutierrez, que é um trabalho que fazemos lá. Temos também um grupo de Rebouças, que participa conosco da UATI, outro da Vila Nova que vai à universidade nas segundas-feiras, e um grupo do Lar dos Velhinhos de Rio Azul, que também compõem a UATI, eles vêm uma vez por mês à universidade para fazer um sarau conosco. Todos estes grupos estarão participando”, comentou.

Além do teatro, haverá apresentações de canto coral com os grupos da UATI e da Unicentro. Já na linguagem literária, um grupo de alunas fez um livro de memórias, que será lançado durante o evento. Todas estas atrações são frutos das oficinas que foram realizadas ao longo do semestre, segundo Cinthia.

“Na verdade, a UATI havia parado um pouco após a pandemia, precisamos nos reestruturar. São três meses de trabalho, mas já vimos muito crescimento. Eu acompanho este grupo de teatro da Cidade do Idoso porque temos parceria com eles há mais de um ano. Então, é um grupo que já trabalha há mais de um ano, e é muito interessante ver o deslocamento deles, como eles chegam, como estavam e como estão hoje, com este protagonismo e desprendimento, inclusive se apropriando de técnicas teatrais, se posicionando de outro modo no palco e na vida. Entendemos que aquilo que acontece na hora que eles estão em cena acaba tendo uma reverberação e ecoa na vida e no dia a dia deles, e isto é bem bacana de ver”, comentou.

Inicialmente, o livro de memórias seria produzido de maneira artesanal, com recortes, imagens e textos curtos. A ideia não era publicar fisicamente, porém o secretário de Assistência Social de Irati, Denis César Musial, sugeriu que o grupo utilizasse recursos do Fundo do Idoso, que tem uma verba voltada para a cultura. Cinthia contou como o livro físico foi organizado.

“Ele é um livro mais visual que escrito, tem alguns trechos escritos, mas ele é composto por algumas fotos dos participantes, poemas, dizeres que eles colocaram e memórias que trouxeram. Tem um trecho que fala um pouco sobre autorretrato, foi um trabalho que elas fizeram intercalado com um poema de Manoel de Barros, e trabalharam um pouco da imagem que têm de si. Depois, eles fizeram desenhos uns dos outros, como eles veem os colegas, e estes desenhos e dizeres estão lá. Eles trabalharam um outro poema da Cecília Meirelles, memórias de infância, fazendo algumas composições com massa de modelar, fotografaram e colocaram. É uma composição de várias coisas que eles foram fazendo ao longo da vida e das aulas, mas que traz um pouco desta identidade e da singularidade das histórias deles. É bem bacana, o livro ficou muito bonito”, comentou.

Para mais informações a respeito das atividades da UATI, os interessados podem se dirigir à secretaria do projeto, que funciona no campus Irati da Unicentro de segunda a sexta-feira, das 13h às 17 horas, ou entrar em contato pelo telefone (42) 3421-3070. No próximo ano, a ideia é seguir com as oficinas de teatro, coral, linguagem literária e atividade física. Há também a possibilidade de serem iniciadas oficinas de desenho e fotografia no próximo ano.

Grupo de teatro da UATI que ensaia na Cidade do Idoso, no CT Willy Laars. Foto: Paulo Sava
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