Segundo a Secretaria de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar, pessegueiros foram afetados pelas geadas fortes e fora de época neste ano. Por conta disto, Festa do Pêssego não será realizada neste ano/Paulo Sava, com entrevista de Rodrigo Zub
Produtores de pêssego de Irati tiveram um grande prejuízo ao perderem aproximadamente 70% da safra de 2024. De acordo com a Secretaria de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar, a produção foi afetada por condições climáticas contrárias, como geada muito severas e fora de época, que foram registradas ao longo do inverno.
Por conta disso, a tradicional Festa do Pêssego, que ocorre anualmente no Parque Aquático, não será realizada. O engenheiro agrônomo e presidente da Associação dos Fruticultores de Irati (ASFRUTIR), Lucas Thomas, contou de que maneira o clima interfere no desenvolvimento das gemas dos frutos.
“Infelizmente, devido às geadas que tivemos entre julho e agosto, tivemos uma grande perda da produção de pêssego, que chegam a 70%, principalmente por temperaturas negativas, que acabaram atrapalhando no desenvolvimento das gemas, da floração e no início da produção do pêssego, no início do fruto”, frisou.
Lucas foi um dos produtores que teve muito prejuízo com a produção de pêssego, passando de 80% de perda. “Nós temos cerca de 600 pés, e vamos dizer que, por estimativa, seria apenas cento e poucos pés produzindo. A maior parte do nosso pêssego é amarelo, e justamente por ser uma variedade mais precoce, a geada acabou pegando bem no início do desenvolvimento da cultura, o que acabou acarretando nesta grande perda”, comentou.
A produtora Leoni Gnatkowski, que vende seus produtos na Feira do Produtor Iratiense, relatou que as perdas com a produção de pêssegos da família foram grandes. “Nós tivemos um prejuízo bem grande, temos 600 pés de pêssego, todo ano eles carregam e nós participamos da Festa do Pêssego, mas neste ano matou em flor. Nós não teremos nada, tem um pessoal procurando lá em casa, mas dá até dó porque tem gente vindo de fora para buscar, mas não tem o produto”, lamentou.
Leoni contou como é o procedimento de cuidados feitos com os pessegueiros. “Na verdade, temos bastante trabalho, podamos, limpamos por baixo, e temos bastante coisa para fazer, mas estamos aqui embaixo para segurar o que vem de cima”, comentou.
Clima – Em alguns momentos do inverno, ocorreram pequenos períodos de calor, especialmente durante os meses de junho e julho. Porém, em agosto, a geada foi muito forte, o que causou uma certa confusão nas plantas, segundo o secretário de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar, Alessandro Trybek.
“Esquentou fora do tempo, e nas geadas de agosto, esfriou fora do tempo. Isto gerou uma confusão na planta, teve florada fora de hora e chegou em um momento em que a geada detonou com a gema, impossibilitando a frutificação. Um dos principais motivos da não realização da festa é por questões climáticas e não ter a produção”, comentou.
Perdas – Grande parte dos produtores de Irati perdeu toda a produção de pêssegos da safra deste ano,a exemplo do agricultor Geraldo Machinski, que recebeu a visita da equipe da Asfrutir e da Secretaria de Agricultura. Lucas contou que o produtor não terá fruta nem para consumo da família. “Infelizmente ele não vai ter fruta nem para consumo próprio, o que é uma situação muito triste para os produtores de Irati”, frisou.
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Lavouras salvas – Apenas os produtores Natálio e David Venuk, da região de Governador Ribas, conseguiram salvar toda a produção e estão vendendo pêssegos na Feira do Produtor Iratiense. O engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura, Antônio Sidnei Martins, detalhou como a safra deles conseguiu sobreviver às condições climáticas adversas.
“Eles têm uma condição diferenciada, um pomar em uma altitude mais alta, e também protegidos por árvores em todos os lados e com uma caída que não acumula ar frio. Eles tiveram que fazer raleio e tiveram uma safra normal. Temos também o Marcos Venuk, que vende pêssego ali na rua XV de Novembro, e outro ponto será na feira às segundas, quartas e sábados, e a população poderá adquirir o pêssego aqui de Irati destes produtores”, comentou.
Pêssego não tem seguro – A produção de pêssegos não é coberta por seguro. Nestes casos, o produtor é quem tem que arcar com os prejuízos de perdas, de acordo com Leoni. “O pêssego não tem seguro, não temos seguro nenhum, se perdeu não tem o que fazer. Este prejuízo é nosso mesmo, é do produtor”, lamentou.
Segundo Trybek, o município somente consegue dar subsídios ao produtor em casos em que é decretado estado de emergência. “Isto sim consegue viabilizar um recurso de imediato. No quesito de perdas deste ano e até na questão de mudas, o que temos de imediato é preparar estas mudas para que, no próximo ano, os produtores as recebam e agreguem mais em seus pomares, torcendo para que, no ano que vem as coisas, na questão do clima e do tempo, favoreçam para que se dobre a produção do que é esperado. De recursos imediatos não temos porque ficamos presos. Se proporcionarmos um recurso especificamente, não temos justificativa por não atingirmos uma condição para decretar situação de emergência”, frisou.
Assistência técnica – Irati conta atualmente com 30 produtores de pêssego em todo o município. Destes, 17 recebem assistência técnica da própria Secretaria de Agricultura e também do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) e da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB). O município possui uma área de produção de pêssegos de 23 hectares, o que representa 1% do valor bruto de produção.
Melhorias na fruticultura – Trybek contou o que o Executivo tem feito para promover melhorias na área da fruticultura do município. “Hoje temos a agrovila, onde há o melhoramento, a questão da enxertia das mudas, a implantação dos caroços para coleta e verificação da melhor genética, qual a variedade e a cultivar que favorece, e isto o município trabalha especificamente dentro da assistência para o agricultor. Tem a questão das formações que o Toninho faz cursos na comunidade de poda, manejo e tudo o mais. Temos parceria com o SENAR e os próprios produtores que nos ajudam. O Lucas é um parceiro que está sempre abrindo a propriedade para visitas e troca de experiências. Neste sentido, enquanto poder público, trabalhamos sempre para fomentar e melhorar a condição para o produtor”, relatou.
Recentemente, foi feita uma coleta de 3 mil caroços de pêssego para fazer com que as plantas vingassem e nascessem. Aproximadamente 1600 porta enxertos já estão prontos para receber melhoramento da qualidade. Depois, as plantas serão distribuídas para os produtores credenciados junto ao programa de fruticultura do município.
Toninho detalhou como funciona a produção do porta-enxerto. “Eu tenho o caroço, e nele tem a semente, e dela germina a planta. Se eu plantar a semente, como ela ainda não passou pelo período juvenil, vai levar anos para entrar em produção. Então, como nós fazemos com as mudas? Pegamos o caroço, despolpamos ele, deixamos na areia até abril. Depois deixamos ele por um mês e meio na câmara fria porque ele precisa acumular frio para germinar. Por que a fruta cai no chão e a maioria não germina? Porque não passou pelo processo de frio para germinar. Uma vez germinado este caroço, a semente, ela é plantada no solo. O porta-enxerto é a primeira parte da muda. Se nós plantarmos esta muda, ela vai levar anos para entrar em produção. Então, temos uma segunda fase, que é a enxertia. Esta é feita agora em novembro, quando a planta já está com um metro e pouco de altura e tem diâmetro de pelo menos um lápis”, frisou.
Trybek ressaltou que o Executivo decidiu não trazer pêssegos de outras regiões para a festa porque o fruto poderia perder a qualidade por conta da logística de transporte e armazenamento.
“Poderia abrir a possibilidade, porém não estou dizendo que o produto de fora não tem qualidade, mas asseguramos o que é nosso. Então, trazendo um fruto de fora, às vezes, pela logística de transporte e armazenamento, o fruto não estará saboroso e não vai ter uma qualidade aparente que a pessoa se interesse em adquirir e comer com segurança. Neste sentido, avaliando o cenário, optamos por não realizar a festa”, comentou.
Perdas anteriores – Em 2008, outra geada fora de época também acabou com a produção de pêssego e prejudicou a realização da festa naquele ano.