Ana Cláudia Mansur destacou a importância de manter os exames em dia e falou sobre as dificuldades do tratamento durante evento do Outubro Rosa, em Irati/Texto de Edilson Kernicki
Durante o evento de abertura da campanha Outubro Rosa em Irati, no dia 11 de outubro, no espaço Santo Fole, a farmacêutica Ana Cláudia Mansur, que trabalha na Farmácia Municipal e atua na Prefeitura há 13 anos, deu um testemunho de sua luta contra um câncer de mama, que ela descobriu em julho de 2022, no autoexame, e que venceu, com tratamento, em 2023.
“Como estamos no meio da Saúde, sempre escutamos essas palestras de se autoexaminar, de sentir, saber como o corpo se comporta e eu ficava pensando ‘será que se um dia acontecer comigo eu vou saber identificar?’. E sente. Todos os meses, cada vez que vinha o ciclo menstrual, minha mama sempre passou a inchar, formar vários nódulos, mas assim que a menstruação descia, sumiam todos os nódulos e não sentia mais dor nenhuma. Em julho de 2022, quando aconteceu o mesmo episódio, um dos nódulos permaneceu. Nesse era estranho, porque eu não sentia dor nenhuma. Pegava ele, era muito palpável, e não tinha dor nenhuma”, relembra.
Ana Cláudia conta que recorria a colegas, como a enfermeira Ângela pedia que ela apalpasse e desse sua opinião. Conforme a farmacêutica, a partir daí, ela passou a investigar o que seriam os nódulos. Foi ao ginecologista, que fez o toque e solicitou uma série de exames, entre eles, uma ecografia e a mamografia. “Eu já estava com 40 anos e seria a primeira vez que eu ia fazer a mamografia. Também pediu exames de sangue e toda aquela rotina. Quando saiu minha mamografia, após um mês desde a consulta, veio lá que tinha um nódulo, mas ele parecia bem redondinho, bonitinho, com a descrição de que era um nódulo benigno, mas que era para acompanhar com ecografia”, cita.
A ecografia já estava marcada para o prazo de um mês após a data da mamografia. Uma enfermeira insistiu para que ela fizesse o exame por via particular, para que não esperasse mais tempo, pois tinha aparecido algo. “Falei ‘não, mas é benigno, não vai dar nada. Vou esperar’. Esperei, fiz a ecografia e o médico disse que não havia nada. Eu disse para ele o que sentia e mostrei que era bem aqui em cima. A hora que ele passou, nós já percebemos o rosto do médico te olhando e vendo, porque é muito diferente. Ele [o nódulo] é todo irregular, uma mancha bem escura [na ecografia] e ele me falou assim: ‘é, aqui temos alguma coisa. Mas não se assuste. Você vai ter que fazer uma punção para fazer a confirmação do que é, mas ele pode ser benigno. Se for alguma coisa, temos como tratar’”, relata.
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O médico tentou tranquilizá-la, dizendo que ele próprio já tinha se submetido a um tratamento contra o câncer. Em seguida, iniciou os encaminhamentos para ir ao Hospital Erasto Gaertner fazer a punção para a biópsia. A primeira consulta no Erasto ocorreu em dezembro de 2022 e a médica disse que, como o nódulo era bem palpável, dava para fazer a punção ali mesmo no consultório. “Ela pegou acho que seis amostras, mas na hora ela comentou que não ficou satisfeita, porque não sabia se tinha coletado material suficiente, ou se seria apenas gordura. Eu tinha nova consulta marcada para janeiro de 2023. Cheguei a cancelar a consulta, porque estava muito tranquila e falava que não ia ser nada. Minha mãe e minha irmã já fizeram tantas punções, temos uma mama bem densa e não haveria de ser nada. Cancelei, porque estava sozinha na Farmácia, não tinha como me ausentar, tinha várias pessoas em férias na época. Quando voltei, mais no final de janeiro, a médica que me atendeu falou que o laudo veio como negativo. Fez de novo o exame em mim e falou que a médica que fez a primeira coleta pediu para repetir a punção com uma ecografia guiada, só para termos certeza e te liberar”, conta.
Nesse novo exame, a ecografia permitiu que a punção fosse feita com maior precisão sobre o local do nódulo. No retorno da consulta, quando ela já estava de férias, foi sozinha, com a expectativa de que o resultado seria negativo e, por isso, dispensou acompanhante. A consulta estava marcada para as 7h30 e, às 10h, ela ainda não tinha sido atendida. Depois, foi encaminhada para uma tomografia. Uma semana depois dessa consulta, o Erasto de Irati já ligou para ela marcando a primeira sessão de quimioterapia.
“Eu só chorava, só pensava na minha filha, em como ia fazer com ela. Pensava ‘preciso vê-la crescer, preciso assistir aos 15 anos dela, preciso assistir a formatura, o casamento. Já pensamos em tudo o que podemos perder. E isso dá uma força muito grande para a gente, porque você não pensa em mais nada”, conta, comovida.
Ana Cláudia relata a conversa com o médico na primeira sessão de quimioterapia, em que ele informa que o tratamento é bastante agressivo, por agir não apenas sobre as células ruins, mas também sobre as boas, o que acarreta queda de cabelo – e também dos cílios e sobrancelha – e das unhas; a imunidade fica bem baixa e é necessário redobrar os cuidados a fim de evitar outras doenças. “Até então, não estava nem pensando em parar de trabalhar, isso que já tinham me dado um atestado de seis meses. Falei ‘não, o que eu vou fazer em casa? Vou me tratar, mas vou trabalhar, pois ficaria louca em casa só pensando na doença’”, comenta.
A farmacêutica relata que iniciou o tratamento com a quimioterapia “vermelha”, que tem efeitos colaterais bem grandes. Porém, para fazer a infusão do quimioterápico, era necessário passar pela triagem e estar com tudo em ordem. Como ela estava nervosa, pela primeira vez teve um pico de pressão alta. Ela diz que foi acalmada pela equipe, que conversou com ela e mostrou que ali estavam várias outras pessoas com o mesmo perfil dela e que o tratamento estava respondendo muito bem.
Amor e empatia: Ana Cláudia fez quatro infusões de quimioterapia vermelha e, 13 dias depois da primeira sessão, começou a queda de cabelo. Ao mesmo tempo em que ela se deparou com a autoestima abalada, os médicos insistiam para que ela praticasse exercícios para se recuperar mais rápido. “Mas eu não tinha coragem de ir à academia e sair daquele jeito”, recorda. A farmacêutica frisa a importância do apoio que recebeu de sua amiga de infância, dra. Fabiana, que a acompanhou durante todo o tratamento.
“Nós, principalmente, da área da Saúde, temos que ter essa empatia em mais escutar do que fazer qualquer comentário, porque o que eu escutei de comentários infelizes, infelizmente… A pessoa não sabe o que vir te falar e conta a história de que uma amiga, conhecida, teve um câncer de mama, mas depois voltou não sei onde e acabou falecendo. E são essas as histórias que você acaba escutando. Fica o alerta a vocês: muitas vezes, não precisamos falar nada. Às vezes, o paciente que está ali só quer ele poder falar, desabafar tudo o que está sentindo. É muito importante essa parte de sabermos acolher e ter empatia”, recomenda.
Depois, foram mais 12 sessões semanais da quimioterapia “branca”, ao longo de três meses. Segundo ela, os efeitos colaterais aparentam ser menores, porque, em paralelo, são ministrados outros medicamentos na veia, como corticoides e antieméticos – que evitam náuseas e vômitos, efeito colateral comum da quimio. Porém, nos dias que se seguiam, ficava mais deitada, com fraqueza, enjoos e dores articulares.
“Participei, através do Erasto, de um estudo do coração, porque, como a quimioterapia é muito cardiotóxica, você tem que cuidar do músculo cardíaco. Eles estão fazendo um estudo de se você tomar o Carvedilol tem a prevenção de não atacar tanto o coração. Participei de todo esse estudo. Graças a Deus, não tive nada, nenhum efeito colateral no coração”, explica.
Concluída a quimio “branca”, Ana Cláudia partiu para a cirurgia. Ainda que a ecografia não mostrasse mais nódulo nenhum, a farmacêutica precisou retirar um quadrante. Ao mesmo tempo, ela já fez a mastopexia e operou também a outra mama, para que ficassem simétricas.
Recuperada da cirurgia, ela ainda teria de enfrentar a radioterapia. “Nesse meio tempo, antes de iniciar minhas radioterapias, ainda passei por um processo de separação, que foi mais um abalo e eu tive que seguir firme. Tinha minha filha, só pensava nela, e continuar. Hoje, inclusive, está fazendo um ano da minha separação. Fui para a radioterapia e fiquei 15 dias – mas era de segunda a sexta, em Curitiba, fazendo a radioterapia, que é uma das partes mais tranquilas, apesar de ela fazer uma queimadura na região e escurecer a pele. Mas é um processo rápido e não tive tanto efeito, além do escurecimento de pele. E a queimadura é suportável. Terminei toda a radioterapia em 30 de novembro de 2023”, conta.
Na consulta de retorno, em janeiro deste ano, ela imaginou que estava liberada do tratamento e que não tinha mais nada. O oncologista, no entanto, comentou que, como na cirurgia de retirada ainda havia um nódulo muito pequeno (0,6mm) e o nódulo inicial era de dois centímetros, ela ainda teria que tomar uma quimio oral, por precaução, de forma preventiva, para que, em 10 anos, tivesse uma chance de 10% a menos de ter uma recidiva. “Quando ele começou a falar que eu tinha que começar a tomar mais quimioterapia, já comecei a entrar em pânico. Sorte que, durante todo o meu tratamento da radioterapia, fiz tratamento com a psicóloga do Erasto, o que foi maravilhoso, que me ajudou muito. Consegui, tomei mais seis meses de quimioterapia oral. Acabei o tratamento agora no dia 6 de julho deste ano. Era uma quimioterapia que não atingia o cabelo, mas atingia muito as unhas. Minha unha ficou toda preta, minhas mãos e meus pés extremamente ressecados, as unhas descolavam ou encravavam. Mas passou. Estou aqui para mostrar a vocês que é possível, que a gente tira forças e segue. Graças, também, à minha rede de apoio, meus amigos, minha família, sempre muito unida, todos juntos, dando todo o apoio que eu precisei, estou aqui recuperada. O cabelo já cresceu, as unhas também, já está tudo certo. Sem tumor, sem metástase e recuperada. Voltei a trabalhar em janeiro deste ano. Passamos por outras coisas na vida, mas podem ter certeza de que é sempre por algo melhor, que Deus sempre tem um propósito melhor para a gente”, conclui.