Pesquisador da Unicentro investiga a relação entre meio ambiente e saúde pública

Pesquisa realizada pelo engenheiro florestal Jonathan Matheus dos Santos ressalta a importância do acesso da…

15 de outubro de 2024 às 22h50m

Pesquisa realizada pelo engenheiro florestal Jonathan Matheus dos Santos ressalta a importância do acesso da população a áreas verdes públicas e os benefícios da preservação delas para a saúde pública/Paulo Sava

Engenheiro Florestal Jonathan Matheus dos Santos pesquisa a relação entre o meio ambiente e a saúde da população. Foto: Paulo Sava

O engenheiro florestal Jonathan Matheus dos Santos, formado pela Unicentro, está desenvolvendo uma pesquisa que investiga a relação entre o meio ambiente e a saúde da população. O tema é justiça socioambiental e a saúde pública. O objetivo do trabalho é de ressaltar a importância do acesso da população a áreas verdes públicas e os benefícios da preservação delas para a saúde.

Um dos responsáveis pela pesquisa é o professor doutor Rogério Bobrovski, do Departamento de Engenharia Florestal do campus Irati da Unicentro. Ele atua nas linhas de pesquisa da silvicultura e da ecologia urbana. Em uma das viagens do professor para a Polônia para o pós-doutorado, surgiu o questionamento sobre a influência das mudanças climáticas na saúde pública e como as áreas verdes urbanas ajudam a minimizar estes impactos ambientais.

Em entrevista à Najuá, Jonathan destacou que nem todas as pessoas conseguem acessar áreas verdes, como parques, praças e bosques nas cidades. “Dentro do que investigamos tanto no Brasil quanto fora do país, nem todas as pessoas têm acesso às áreas verdes urbanas, que são públicas. Qual a importância de ter áreas verdes públicas para a população acessar? Tem uma pesquisa feita por um holandês, na qual ele testou a regra da diretriz para promover justiça socioambiental, que é a 3-30-300. Ou seja, quando você abre a janela de casa, tem que ver no mínimo três árvores públicas na calçada. O bairro onde você mora tem que ter 30% de cobertura vegetal de sua área total, e você tem que estar no máximo a 300 metros de distância de um parque, uma praça, um bosque que seja uma área verde pública”, comentou.

O pesquisador aponta que 73% da população iratiense não tem acesso às áreas verdes. “Ou seja, apenas 33% ou 34% da população tem acesso a uma área verde pública a 300 metros de caminhada. Estes 300 metros são o que chamamos de “cidades saudáveis”, expressão que vem sendo bem usada nas cidades, que é você promover a territorialização dos serviços essenciais para a população em um tempo de caminhada de, no máximo, 10 minutos. Seria um raio de 300 a 800 metros”, comentou.

Parque Aquático do bairro Rio Bonito, em Irati. Foto: Paulo Sava

A partir do momento em que a população tem acesso a áreas verdes públicas em parques, praças e bosques, surgem os chamados “serviços ecossistêmicos”. Jonathan contou o que são estes serviços.

“Tem os serviços de regulação, que seriam atenuação de ilhas de calor, promoção da qualidade do ar, da saúde pública. Tem os serviços de suporte, que seriam a qualidade da água, promover ervas medicinais e alimentos. Há também os serviços culturais, e aí entra a questão da exposição às áreas verdes. A pessoa tem que acessar uma área verde e permanecer um tempo lá para ter benefícios na questão da saúde pública. Ou seja, tem várias pesquisas a nível internacional, e o meu trabalho também apontou que, quando você fica mais de 30 minutos em uma área verde, você tem a diminuição dos níveis de cortisol, o hormônio responsável pelo estresse, e ajuda a aumentar os níveis de dopamina e serotonina, que são os hormônios do prazer. Você ter acesso a uma área verde ajuda a minimizar os impactos da ansiedade e da depressão”, comentou.

Pesquisa recente – Esta é uma área de pesquisa recente. Pessoas atendidas pela regra do 3-30-300 consumiam menos medicamentos para combater a ansiedade e a depressão. Além disso, estes pacientes passaram a frequentar menos os consultórios médicos.

Doenças intensificadas – Algumas doenças são intensificadas pelas mudanças climáticas. Em Irati, a temperatura pode variar até seis graus da área central para os bairros, o que pode ser uma das causas da intensificação de algumas doenças, especialmente cardiovasculares, de acordo com o pesquisador.

“É uma variação muito grande, então este calor excessivo com a questão da poluição excessiva das cidades ajuda na incidência de problemas cardiovasculares. Dentro deste cenário que eu trouxe aqui, por exemplo, pegamos o bairro Engenheiro Gutierrez, que é mais afastado da cidade, mas é o que tem menos acesso a áreas verdes públicas, ou seja, a população tem que se deslocar um grande trajeto para acessar uma área verde pública, um parque. É o bairro que está com maior incidência de problemas cardiovasculares: 77 pessoas a cada 1 mil”, comentou.

Dados – Os dados sobre a incidência de doenças nos bairros foram disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde de Irati, uma vez que a quantidade de pacientes atendidos no Pronto Atendimento, no hospital e nas unidades básicas do município, alimenta duas bases nacionais de dados, que são o e-SUS e o e-prontuário.

“Estes dados usam de estatística nacional, para trazer dados sobre a porcentagem da população que está adoecendo por dengue, problemas respiratórios, ansiedade. Estamos com uma base de dados confiável para realizar esta pesquisa”, frisou.

Infartos e desmatamento – De acordo com Jonathan, cerca de 45% dos casos de infarto têm influência direta da redução das áreas verdes em Irati. Doenças como Covid-19, problemas respiratórios, ansiedade, depressão, conjuntivite, otite (dor de ouvido) e a dengue, também estão relacionadas com o desmatamento e a preservação das áreas verdes. Entretanto, o fator que mais chamou a atenção de Jonathan durante a pesquisa foi a incidência de dores de ouvido, que podem ser causadas tanto pela poluição sonora quanto pela má qualidade do ar. Em Irati, o bairro com menor incidência deste tipo de problema é o Stroparo.

Bosque São Francisco. Foto: Paulo Sava

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Bosque São Francisco – Outro local que pode ser considerado um atenuador da poluição sonora é o Bosque São Francisco, próximo à Igreja Matriz Nossa Senhora da Luz. Jonathan faz um apelo para que o local seja transformado em um parque.

“Ali temos este apelo para mostrar a importância daquela área para atenuar a poluição sonora e o sequestro de carbono e poluentes, que ela está diretamente ligada à promoção da saúde pública. Vamos mostrar para os nossos gestores públicos que investir em arborização urbana não é meramente estético ou uma coisa de “ecochato”, mas tem toda esta relação com a saúde pública. Hoje, conseguimos dimensionar a quantia investida em arborização urbana à economia em saúde pública”, comentou Jonathan.

Novos loteamentos – O Código de Posturas do município obriga os proprietários a fazerem a arborização de novos loteamentos. Para Jonathan, a fiscalização da Prefeitura de Irati está falhando neste quesito.
“Hoje eu vejo que a fiscalização pública está devendo um pouco nesta questão. Tem vários loteamentos saindo depois desta lei e não está sendo cobrada a arborização destes loteamentos. Uma forma de você recompor esta supressão vegetal inicial que houve com a questão da habitação seria a implantação da arborização de calçadas. A outra seria a parte de utilidade da prefeitura, que deve ser destinada para área comum, onde poderia ser criada uma praça, para preservar um resquício de vegetação que as pessoas vão conseguir acessar para fazer uma caminhada e se tranquilizar”, comentou.

O Instituto Fiocruz, do Rio de Janeiro, também participará da pesquisa de Jonathan, buscando investigar o que acontece no metabolismo humano diante da existência de áreas verdes. Pesquisas apontam que algumas árvores exalam substâncias que causam a produção de hormônios ligados ao prazer e melhoria da saúde dos seres humanos.

Passeios na Flona – Em Irati, o Instituto Água e Terra (IAT) e o Iapar promovem frequentemente passeios pela Floresta Nacional de Irati (FLONA). O pesquisador acredita que este tipo de ação é essencial para a saúde pública. “É um trabalho incrível que eu acho que tem que ser multiplicado para todas as áreas da cidade, em várias esferas, tanto para as pessoas que estarão na Cidade do Idoso quanto para os jovens terem este contato. Na parte da educação ambiental, as crianças estão acessando pouco a área da Flona, onde havia antes muitas atividades para conhecer o Museu de Taxidermia, exemplares de tipologias arbóreas que são da nossa tipologia florestal. Isto está se perdendo, e as secretarias de Educação e Meio Ambiente têm que resgatar este pertencimento da população à natureza, esta reconciliação”, comentou.

A pesquisa de Jonathan aponta ainda que pessoas de menor poder aquisitivo são as que têm menos acesso às áreas verdes públicas em Irati. “Nós vemos que é uma questão social muito forte, por isso usamos a expressão “justiça socioambiental”, porque não é só esta questão das áreas verdes, mas tem uma questão cultural e social enraizada muito forte nisso”, comentou.

Muda de árvore plantada no Parque da Vila. Foto: Paulo Sava

Plano Municipal de Arborização Urbana – Jonathan também trabalhou na Secretaria Municipal de Ecologia e Meio Ambiente, onde atuou como coordenador do Plano Municipal de Arborização Urbana. Ele informou que, até o final de 2025, todos os 399 municípios do Paraná devem estar com os planos prontos. O pesquisador citou como exemplos de planos de arborização aplicados nas cidades de Maringá, e Curitiba, no Paraná, e Piracicaba, no interior de São Paulo.

“Por exemplo, em Curitiba e Piracicaba, se você tiver uma árvore dentro do seu lote, tem um abatimento de 5% no IPTU. Na calçada, que muitos moradores acham que é de domínio particular, na verdade ele é público. Esta questão de você promover a arborização nas calçadas, muitas vezes, é uma exigência do Governo do Estado, e a população tem que aceitar. Quando falamos da revitalização do centro da cidade, foi dito que os comerciantes não queriam árvores no centro. Quem vai entrar nas lojas e comprar não são os carros, mas as pessoas. Quanto mais tempo eu permanecer no centro, mais eu vou olhar as lojas, ficar interessado em alguma coisa e consumir mais. Os comerciantes têm que começar a pensar nesta tática de marketing de promover um ambiente confortável, tanto na questão estética que as árvores promovem quanto na sensação térmica, para as pessoas permanecerem ali no centro para consumir. O pessoal que mora em Irati no verão, com a sensação térmica de 40 graus na Munhoz, é impossível qualquer pessoa ficar ali no centro se não tiver sombra. Foram colocados alguns banquinhos, mas quem vai ficar se não tem sombra ou um conforto térmico?”, questionou.

Revitalização de áreas próximas ao Rio das Antas – A infraestrutura verde de uma cidade é composta por parques, praças, parques lineares e áreas de preservação permanente. Jonathan sugeriu que áreas próximas ao Rio das Antas sejam revitalizadas para uso da população.

“Ali onde temos o berço do Rio das Antas, se fizéssemos uma grande revitalização, a população poderia estar utilizando este espaço para a prática de esportes e lazer. Haveria esta reconciliação com a floresta e com os recursos hídricos para um melhor entendimento da questão da educação ambiental”, comentou.

Viagem – Em março de 2025, Jonathan deve viajar para a Polônia, onde dará continuidade à sua pesquisa na Universidade de Varsóvia.

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