Estado ficou dois anos sem coletar órgãos por conta da Covid-19. Com isso, fila para doação de córneas e outros órgãos aumentou/Paulo Henrique Sava
Ana Cláudia de Andrade, assistente social da Santa Casa de Irati. Foto: Paulo Henrique Sava |
A maior parte dos doadores (61%) é formada por homens, sendo que destes, 43% tinham idades entre 50 e 64 anos. Neste ano, segundo registro da Central de Transplantes, a Santa Casa de Irati não recebeu nenhum transplante.
Critérios – Qualquer pessoa pode ser doadora de órgãos, depois de confirmada sua morte e com autorização da família. Nestes casos, os pacientes tiveram morte cerebral diagnosticada por conta de traumas ou doenças neurológicas graves. Se o falecimento ocorrer por causa de parada cardiorrespiratória, a doação também poderá ser feita.
Em caso de doadores vivos, qualquer pessoa saudável que tenha idade entre 03 e 69 anos e 11 meses pode doar um dos seus rins ou parte do fígado para um familiar próximo. Caso a doação seja para uma pessoa de fora da família, é preciso obter autorização judicial.
Ana Cláudia comentou sobre a dificuldade de se encontrar doadores que se enquadrem nos critérios exigidos pela Central de Transplantes. “Na verdade, para encontrar um doador é muito difícil porque precisa ser uma pessoa saudável. Para que entre nos critérios que a Central exige é muito difícil”, comentou.
Santa Casa de Irati não recebeu nenhum transplante em 2022, segundo dados da Central de Transplantes do Paraná. Foto: Reprodução |
Critérios para realização de transplantes – A Santa Casa de Irati faz somente o transplante de córnea. Pacientes que precisam de outros órgãos são encaminhados para grandes centros, tendo como referência os hospitais de Ponta Grossa. O hospital ainda não consegue atender a alguns critérios para que estes transplantes possam ser feitos no município. Ana Cláudia detalhou quais são estes critérios. “Precisa ter diagnóstico de dois médicos, um intensivista e um neurologista, de um exame específico repassado pela Central de Transplante, mas nós não temos ainda por ser de alta complexidade. Nós temos a equipe completa, mas não temos ainda os exames de alta complexidade”, frisou.
Além disso, o hospital precisa ser credenciado junto ao Ministério da Saúde para poder realizar transplantes. Segundo Ana Cláudia, é muito difícil conseguir o credenciamento. “É muito complicado para um hospital conseguir o credenciamento. Nós, graças a Deus, desde 2010, trabalhamos com a doação de córnea devido ao credenciamento do Ministério da Saúde e outras instâncias”, afirmou.
Os órgãos são doados para pacientes que estão na fila de espera nacional, fiscalizada e monitorada pelo Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde e pelas centrais de transplantes do Estado, segundo a assistente social.
“Esta seleção é feita de acordo com a gravidade da doença e, a partir disto, as compatibilidades de diversos exames, biótipo, são várias questões que não tem como nominar aqui. A princípio, o que vem é a gravidade e a compatibilidade. É um processo extremamente rígido e seguro, feito por profissionais excelentes, e é executado de forma transparente e justa”, comentou.
Para Ana Cláudia, a doação de órgãos é um ato de amor pelo próximo. Ela agradeceu a todas as famílias que autorizaram as doações e beneficiaram várias pessoas nos últimos anos. Entretanto, ela relatou a dificuldade de manter contato com as famílias de doadores e receptores de órgãos. “Às vezes são pessoas de fora, de longe, com as quais não conseguimos manter este diálogo, a não ser no momento do ocorrido. Com as famílias que recebem, como a fila é nacional, é muito difícil sabermos o pós-transplante. Ficamos apenas sabendo se deu certo ou não. Independentemente disso, no momento que está ocorrendo este processo, vem um mix de emoções, pois você está comunicando uma família sobre uma perda e a outra sobre o ganho. São sentimentos diferentes mas bons ao mesmo tempo”, finalizou.
O plantão de coleta de córnea funciona de segunda a sexta-feira durante 24 horas. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (42) 3423-1039.
Paciente – Nossa reportagem conversou com a policial militar Zenilda Kmita, que recebeu um rim em abril, no Hospital Cajuru, em Curitiba, após permanecer dois anos na fila de pacientes que esperavam pelo órgão. Por conta de uma doença renal, ela foi aposentada e continua se recuperando em casa depois de 13 anos na Polícia Militar. Ela contou que não teve necessidade de fazer hemodiálise antes da doação e detalhou como se deu a cirurgia para implante do órgão.
“Graças a Deus não cheguei a fazer hemodiálise, mas já estava quase na hora. Então, eu recebi esta graça deste órgão. Quando recebi a ligação do pessoal da Central de Transplantes, eu fui até Curitiba, fiquei algumas horas fazendo os exames necessários e complementares, e durante a manhã foi feito o transplante”, comentou.
Zenilda contou que ficou bastante nervosa antes da cirurgia, uma vez que ela estava na expectativa pela chegada daquele momento há algum tempo. “Eu não sabia se ia ou não ia. O nosso psicológico fica abalado, mas não tinha outro jeito, era isto que eu tinha que fazer, e fiz. Foram 8 horas de cirurgia, e no momento que eles (médicos) colocaram o rim, ele começou a funcionar, mesmo tendo ficado mais de 30 horas no gelo”, destacou.
Zenilda comentou que toda a sua família demonstrou apoio, mesmo depois de todo o nervosismo durante mais de 8 horas de cirurgia. “Minha família, graças a Deus, me apoiou muito, meus familiares me ligavam todos os dias, meu namorado foi me levar, visitar e buscar. De lá para cá, é só alegria, o pessoal de casa vendo que eu estou muito bem, graças a Deus, e agora é só cuidar”, comentou.
Zenilda recebeu o rim de um paciente que havia falecido. Porém, a irmã dela, Izilda, estava disposta a fazer a doação. Porém, a paciente decidiu esperar até que aparecesse outro doador. Ela pede que todos os pacientes que esperam pela doação de algum órgão tenham fé e esperança. “Não desistam e tenham fé, porque eu pedi a Deus e rezava toda noite pedindo. Ao mesmo tempo, eu agradecia por estar viva, e hoje eu sei que valeu a pena ter fé e ter acreditado. Hoje em dia, os familiares das pessoas que doam os órgãos estão aceitando mais, então vale muito a pena esperar e ter fé porque uma hora chega a sua vez”, afirmou.
Zenilda Kmita, policial militar aposentada, fez transplante de rim em abril. Foto: Paulo Henrique Sava |