História de Primo Araújo será retratada em um documentário que mistura depoimentos e cenas dramatizadas da vida do artista. Produtor é o jornalista Pedro Henrique Wasilewski/Texto de Karin Franco, com entrevista realizada por Juarez Oliveira
Um documentário está sendo produzido em Irati para contar a história e obra do poeta Primo Araújo. Intitulado “Primo Araújo – O poeta das artes plásticas”, o documentário está sendo produzido pelo produtor audiovisual, jornalista e historiador Pedro Henrique Wasilewski.
O documentário reúne entrevistas e depoimentos de pessoas que conviveram com o Primo Araújo. Além dos depoimentos, o documentário trará cenas encenadas recriando passagens da vida do artista, que também ficou conhecido por seus quadros retratando o passado de Irati.
Em entrevista à Najuá, Pedro disse como será a dramatização do documentário. “É um documentário, mas com o gênero do docudrama. Uma entrevista completa a outra, vem dados históricos, fotografias. Nós vamos mostrar a parte dramática, com cenas da história do Primo Araújo nesse filme. Estamos entrando nessa fase agora. Inclusive, vem um ator do Rio de Janeiro para participar, que é um iratiense, o Kléber Gonçalves. Estamos nessa fase. Produzindo, visitando locações, pensando, vendo a indumentária, o cenário, as roupas”, disse.
A etapa das entrevistas foi encerrada com a participação de 12 pessoas. “São pessoas, cidadãos de Irati, preocupados com a história do município, com a memória. Pessoas que eu e o Zeca [filho do Primo Araújo] já conhecíamos. Pessoas que ao longo de todos esses anos, desde 2014, 2017 para cá. São pessoas que já participaram de outros trabalhos, que já comentaram para mim sobre o Primo. Toda essa dinâmica. As pessoas que comentaram conosco na rua, mesmo antes desse projeto existir”, conta.
O filho de Primo Araújo e historiador, José Maria Grácia Araújo, mais conhecido como Zeca Araújo, tem acompanhado os bastidores da produção do documentário. Ele conta que tem se surpreendido com os depoimentos. “Alguns detalhes pessoais, talvez, que eles guardaram e que eu, logicamente, não estava sabendo. Me surpreendo, às vezes, com algumas afirmações. Todas elas de apoio para o trabalho e a pessoa que ele era. Eles jogam para o meu acervo dos conhecimentos que eu tenho sobre ele”, disse.
A produção do documentário iniciou em 2017, com o produtor fazendo pequenas gravações de exposições e recolhendo materiais que poderiam ser usados em um documentário. Pedro explica que a vontade de contar a história do Primo Araújo é antiga. “A vontade de contar a história do Primo Araújo vem de anos atrás. Desde quando eu fiz o meu documentário sobre a história do cinema, que o Zeca participou, eu já vinha conhecendo a história do Primo Araújo. Inclusive, eu tenho um quadro na minha casa que foi dado de presente pelo Primo aos meus familiares. Sempre me interessei por essa história. Eu sempre pensava que quando eu completar essa história do cinema, que precisava ser contada, eu gostaria de contar a história do Primo Araújo, que foi essa pessoa predominante nas artes de Irati, que criou técnicas, contou a história de Irati através dos seus quadros. O que temos hoje para vislumbrar Irati do passado, foi legado pelo Primo”, conta.
O documentário somente se concretizou após a Lei Paulo Gustavo. O projeto foi aprovado no edital de audiovisual aberto pelo Conselho Municipal de Cultura. “Justamente nesse ano, nós tivemos a oportunidade de ser agraciado por esse edital, que é a lei Paulo Gustavo, edital Dona Hermínia, aqui de Irati. Eu pude inscrever esse projeto e nós acabamos vencendo. Nós recebemos um recurso para produzir. Tudo culminou para acontecer, justamente nesse ano, que são os 25 anos do falecimento do Primo Araújo”, explica.
Por meio da lei, foram liberados R$ 90 mil em recursos para a produção do documentário. A equipe da produção do documentário é totalmente de Irati e conta com dez pessoas. Há ainda outros profissionais que devem auxiliar na distribuição do documentário.
Pedro destaca que é gratificante ter como remunerar as pessoas que trabalham com arte. “Uma gama de profissionais que esse dinheiro está sendo distribuído. Isso que a lei prevê. Você distribuir e que esse valor fique para cidade de Irati, através desses artistas, dando essa oportunidade”, conta.
Para muitos, a remuneração auxiliará no investimento da carreira. “É justamente para esse valor chegar até as pessoas e ajudar elas a comprar uma câmera ou dar um start na vida profissional”, explica.
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A expectativa é que o documentário de 45 minutos esteja pronto em junho. A primeira exibição deve acontecer em escolas. “A divulgação e a distribuição dele, o foco é nas escolas. Além de ser liberado na internet. Vai ter uma exibição também aberta ao público. Nós queremos passar para idosos, para pessoas do espectro autista. Aqui em Irati, a assistência social faz um trabalho, nós queremos levar até essas crianças. Vai ter uma pessoa que vai estar trabalhando fazendo libras no filme. Vai fazer no filme e durante as palestras fílmicas, nas exibições. Ainda temos uma pedagoga que vai ajudar a fazer toda essa coordenação das falas das pessoas, ajudando os jovens nessas exibições”, conta.
A produção do documentário pode ser acompanhada no Instagram, pelo perfil @documentarioprimoaraujo.
Primo Araújo: O Primo Araújo foi um artista que ficou conhecido por sua contribuição com poesias e quadros que retratavam o município de Irati no século 20. Estima-se que há cerca de 2 mil a 2.500 quadros espalhados em diversas casas e instituições.
A história do artista com o município de Irati começa na década de 1920, quando Primo Araújo chegou na cidade para ficar com sua namorada Iratila. A jovem era filha do terceiro prefeito do município, o coronel Manoel Grácia. Como a filha nasceu próximo da data de emancipação do município, ele resolveu batizá-la em homenagem à cidade.
Zeca Araújo conta que a formação do pai em Curitiba influenciou a vontade de retratar Irati. Foi o contato com o diretor da Escola de Artífices, onde aprendeu alfaiataria, que o fez desenvolver sua arte. “O diretor da Escola de Artífices, era diretor também do Teatro Guaíra, que estava começando naquela época. Ele [o diretor] levava ele porque ele desenhava muito bem os moldes. Ele levava meu pai para fazer os primeiros cenários do Teatro Guaíra. Ele já veio para Irati, quando aportou aqui para ficar, com aquela vontade de representar tudo que ele pudesse na ponta dos seus lápis, dos seus pincéis. Começou pintando a óleo, junto com o José Siqueira Rosas, o famoso Rosinha, que foi também prefeito, e saiu por esses campos afora fazer as pinturas das paisagens”, conta.
O pinheiro era o principal tema de suas pinturas. “Ele não deixava de pôr um pinheiro, dois, três. Em todas as obras dele. Com essa parceria que ele fez com o Rosinha, que pintava bem também, ele começou a desenhar Irati. Pintar e desenhar desde do início do século passado. Nós temos quadros do Primo Araújo, desenhos dele, mostrando como é que era Irati na sua íntegra. As ruas, os prédios as casinhas cobertas de tabuinha ainda. Isso tudo é uma relíquia”, disse.
O produtor do documentário destaca que uma das contribuições artísticas foi a criação de técnicas de pintura. “Ele criou uma técnica nova de isopor. Ele pintou não só a cidade, mas o interior de Irati de forma expressiva, mas ele pintou a nossa natureza. [Ele pintou] A questão social de Irati. Os bailes, como temos os bailes no Clube do Comércio. É um legado que os nossos jovens, adultos, idosos, precisam ter”, destaca.
Atualmente, não há uma exposição pública dos quadros do Primo Araújo. Mas as obras podem ser encontradas nas casas de familiares, moradores de Irati e até em outros países. Uma das explicações é que o artista costumava ter encomendas de quadros e também presenteava com suas obras. “Os parentes ficaram com uma boa parte dos quadros, mas o que ele produziu em maior quantidade foram desenhos. Depois, ele desenvolveu uma técnica em alto relevo, em três dimensões, em isopor. Ele tinha uma técnica que ele fazia uma impermeabilização do isopor, depois de recortado as figuras, para depois pintar as cores em todo o quadro. Tem quadros com 30, 40, 50 anos de existência. Inclusive, um deles, um bispo que passou aqui por Irati, uma Santa Ceia enorme, comprou e levou para o Papa, na época. Então, essa é uma curiosidade, uma honra para nós, contar que, provavelmente, ainda esteja lá no Vaticano ou em algum lugar em Roma”, conta.