Padre iratiense completa dois anos de missão no Amazonas

Padre Fábio Sejanoski está participando do projeto Igrejas Irmãs, realizado pela Diocese de Ponta Grossa…

23 de janeiro de 2024 às 20h26m

Padre Fábio Sejanoski está participando do projeto Igrejas Irmãs, realizado pela Diocese de Ponta Grossa e pela Prelazia de Lábrea, no Amazonas. Em entrevista à Najuá, o padre contou detalhes de sua rotina em Canutama/Texto de Karin Franco, com entrevista realizada por Paulo Sava e Edinei Cruz

Padre Fábio Sejanoski está realizando missão na Amazônia há dois anos. Foto: Arquivo Pessoal/Instagram

O padre Fábio Sejanoski, de Irati, está em uma missão no Amazonas onde auxilia na evangelização de comunidades no interior da floresta amazônica. A missão é proporcionada pelo projeto Igrejas Irmãs, realizado pela Diocese de Ponta Grossa e pela Prelazia de Lábrea, no Amazonas.

O projeto nasceu com o objetivo de auxiliar a localidade com o atendimento paroquial, já que havia poucos padres católicos na região. Assim, por meio do projeto, padres do Sul viajam em uma missão de quatro anos para o interior do Amazonas.

Há dois anos na missão, o padre Fábio conta que uma das diferenças de realidade do Sul para a região Norte são as longas distâncias. “Só a paróquia nossa aqui de Canutama é maior que toda a Diocese de Ponta Grossa, é maior que todos os 17 municípios [que pertencem à Paróquia] de Ponta Grossa e a Prelazia de Lábrea, que é como se fosse a nossa diocese, chamado Prelazia, é maior do que todo o estado do Paraná. Nós estamos aqui numa região que abrange muitos e muitos quilômetros de rio”, explicou o padre durante entrevista à Najuá no início deste ano.

As distâncias fazem com que a viagem para chegar aos municípios também seja difícil e longa. Não há como chegar na cidade por terra (de carro) ou por ar (avião). Assim, apenas o rio é o único acesso para chegar ao município. A cidade mais próxima de Canutama, onde o padre está, fica a 230 quilômetros por meio do rio, o que equivale uma viagem de Irati a Morretes, no litoral paranaense.

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O padre conta que a viagem pode se estender mais de dois dias. “Quando eu saí de Irati, eu peguei o avião até Porto Velho/RO. De Porto Velho, desce do avião, entra no ônibus e o ônibus vai fazer 440 km de estrada. São 200 km de asfalto e 200 e pouco de estrada de chão, na Transamazônica, para daí chegar até à cidade de Lábrea, aonde terminam as estradas e a partir dali é somente rio. Pega o barco e viaja de 12 a 14 horas de barco”, afirmou.

Em sua última viagem para a cidade de Canutama, o padre lembra que pegou um trajeto mais longo, chegando a ter uma viagem de quatro dias no barco. “Eu calculo sempre assim: um dia pra chegar em Porto Velho de avião. Um dia para andar de ônibus até Lábrea. Mais 12 a 14 horas para chegar até Canutama. Isso se vier por Porto Velho porque se vier por Manaus/AM, que foi por onde eu vim agora, dessa vez, porque precisei estar em Manaus, pega o avião, chega em Manaus e de Manaus para frente é só barco. Demora quatro dias de barco até chegar em Canutama. É uma aventura e tanto”, disse.

As longas distâncias também tornam o trabalho de um padre ser peculiar no Amazonas. Fábio conta que seu trabalho se divide em duas partes: uma pela terra e outra pelo rio. “Mesmo daqui do rio, são duas realidades. Uma coisa é o trabalho desenvolvido aqui na cidade. A cidade de Canutama, apesar do território ser imenso, mas a cidade de Canutama é muito pequena. Eu imagino que a cidade de Canutama é muito parecida com Fernandes Pinheiro, uma cidade do tamanho de Fernando Pinheiro. Aqui na cidade, nós temos uma vida normal. Nós temos todas as condições normais de vivência em todos os sentidos e aqui nós temos a matriz, a Igreja Matriz São João Batista, e outras cinco comunidades. Então, rezamos as missas normais, reunião de pastora, tem todas as pastorais, Pastoral da Catequese, Pastoral da Liturgia, os coroinhas. Fazemos um trabalho aqui na cidade semelhante a qualquer trabalho da região Sul”, conta.

Confira abaixo algumas fotos do padre Fábio durante sua missão na Amazônia

Já nas comunidades que estão à beira do rio, a rotina se transforma. O padre conta que segue viagem pelo rio, entrando em cada comunidade. “Nós temos 20 comunidades na beira do rio. Nós entramos no barco e quando começamos a subir o rio, nós paramos um dia em cada comunidade. Nós paramos com o barco, nós descemos do barco, visitamos todas as casas. Muitas casas em situações muito precárias socialmente. Casas que não tem nem aonde você se sentar, você tem que se sentar no chão. A própria comida eles servem no chão, serve um café, um bolinho, na hora do almoço ou alguma outra coisinha no chão. Nós sentamos muitas vezes para se alimentar no chão. Depois de visitar todas as casas, nós reunimos as pessoas num determinado local. Algumas comunidades têm igreja, outras comunidades não têm igreja, então reunimos na escola ou reúnem num centro que tem alguma cobertura. Faz toda a parte da catequese, da evangelização”, explica.

O padre conta que o trabalho nessas localidades inclui atividades sociais e de educação. “Nós também trabalhamos questões sociais, também trabalhamos questões higiênicas, de saúde, questões de educação. Tudo aquilo que é possível ajudarmos e dar o passo, fazemos isso. Depois rezamos a missa junto, com todas as pessoas. Às vezes, são comunidades maiores, às vezes, são comunidades com bem poucas famílias. Na missa, se precisar fazer batizado, fazemos, primeira comunhão, crisma, casamento, tudo que precisa. Depois convive ainda com a comunidade, para ouvir também aquilo que eles precisam, o que não precisam”, disse.

São os padres também que levam pedidos da comunidade até o poder público local. “Dessas comunidades, nós trazemos muitos pedidos e muitos anseios para a prefeitura. Quando voltamos da missão, nós sentamos com o prefeito e falamos: ‘Prefeito, em tal comunidade está precisando isso, lá está precisando aquilo’. Nós temos uma parceria, graças a Deus, muito boa e assim fazemos em todas as comunidades”, conta.

Todo esse trabalho nas comunidades pode durar até 20 dias. “É você entrar no barco, visitar 20 comunidades, morar dentro do barco, chegar até o final e voltar para casa, só depois de 20 dias. Tomando banho de água de rio, tomando café com água de rio, cozinhando com água de rio, convivendo no meio da natureza”, disse.

Para o padre Fábio, o maior desafio é essa logística, que torna mais difícil o acesso a determinadas coisas. “Eu acredito que a grande dificuldade o que sempre precisamos dar um passo de superação é a questão logística aqui da região e do município. Aqui temos que fazer todas as coisas com aquilo que tem. Não tem aonde ir buscar porque não tem nada perto. Aqui só chega de barco. Se você precisa comprar alguma coisa, demora para chegar, por causa do barco. O abastecimento de mercado e tudo mais da logística para chegar até aqui é bastante complicada. Graças a Deus, nós não temos problemas de falta de estrutura de saúde porque aqui tem”, conta.

O padre conta que se for preciso fazer algo no município é necessário se planejar com antecedência para que os produtos cheguem até o local. “Você precisa sempre pensar nas coisas há muito longo prazo para conseguir concretizar. Uma construção que você vai fazer, uma pequena reforma que você vai fazer, faltou um saco de cimento, por exemplo, vai demorar dias para esse saco de cimento chegar”, relata.

A distância no Amazonas também foi um dos desafios que o padre encontrou quando chegou em 2022 na localidade. “Aqui na Amazônia é como se fosse um outro Brasil, um outro mundo. A comida é diferente. A cultura é diferente. O jeito de pensar das pessoas é diferente. O ritmo das coisas é diferente. É o mesmo trabalho que fazemos espiritualmente, mas num lugar aonde a logística, a cultura e a maneira de conviver é completamente diferente, que demora até um pouquinho para se adaptar”, disse.

Logo na chegada, a imensidão da floresta amazônica o assustou. “Cada vez que eu ia me aproximando de Canutama, eu olhava para o lado e pensava: ‘Meu Deus! Mato, mato, mato, mato, água, água, onde que estou indo? O que eu vim fazer?’. Sabendo que cada vez mais que eu estava indo, eu estava me distanciando mais da rodovia, da terra, eu estava me adentrando mais à mata e aos rios”, conta.

Quando chegou em Canutama, o padre conta que foi muito bem recebido, mas confessou que as primeiras semanas foram difíceis já que estava longe dos familiares e amigos. “Eu pensava: ‘Estou longe da família, eu estou longe dos amigos, eu não conheço ninguém aqui, eu não conheço as pessoas da igreja’. A frase que me vinha na cabeça: ‘Eu não tenho nem para onde fugir porque as coisas não dependem somente de eu querer’. Depende de ter uma embarcação que me leve. Eu não tenho o meu carro, a minha moto ou a minha bicicleta. Eu tenho que quase que pedir carona num outro barco para eu poder sair daqui. Então, foi muito difícil. Muito difícil”, explica.

O padre também demorou para se adaptar com a comida. “Os temperos são muito fortes, o estilo de comida é diferente. Tem muita caça. Tem muito bicho de caça que o pessoal faz para comer. A adaptação de tudo isso foi bastante difícil”, disse.

Porém, foi em um acampamento que a perspectiva do padre sobre o local mudou. “Até que um dia eu estive junto com os jovens, num acampamento, aonde nós fomos com o barco até numa espécie de um sítio. Lá, a noite foi chegando e anoitecendo, não tinha luz, não tinha banheiro, não tinha nenhuma estrutura, praticamente, normal para estarmos ali. Era literalmente no meio do mato, com uma casinha. Eu pensava: ‘Poxa, essa é a minha vida a partir de agora. É aqui que eu devo me dedicar. É aqui que eu devo evangelizar. É desse jeito que eu vou porque eu escolhi’. A partir daquele dia as coisas mudaram”, explica.

Depois de dois anos, o padre conta que está bem adaptado e que tem gostado do local, que possui pessoas carinhosas e acolhedoras. “Foi muito difícil a adaptação no começo, em todos os sentidos, mas hoje eu digo com todas as letras, eu gosto daqui. Aqui é um lugar gostoso de se ficar, apesar da dificuldade, mas é um lugar calmo. Graças a Deus, eu estou fazendo uma experiência maravilhosa por aqui”, disse.

A experiência deve terminar em 2025, quando o período do projeto acaba. Normalmente, os padres têm quatro anos para ficar no local e a cada dois anos, um novo padre chega na cidade para compartilhar as experiências com quem já está no município. Em Canutama, ainda não chegou um novo padre. “De dois em dois anos deveria ir se renovando, para que o padre que chega possa conviver por dois anos com aquele padre que já estava aqui. A minha previsão é de que daqui dois anos, esse trabalho encerre. Claro que outras coisas podem acontecer pelo caminho. De adiantar ou de postergar a missão, mas tudo é imprevisível. Tudo tem que se conversar daqui para frente, mas a proposta e o pensamento que eu vim era para quatro anos. Já se cumpriram dois, então a previsão é agora mais dois anos”, conta.

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