Paratletas iratienses conquistam títulos nacionais e internacionais

Héverton Gil é campeão mundial de parajiujitsu NoGi e venceu o mundial com quimono em…

16 de dezembro de 2023 às 11h05m

Héverton Gil é campeão mundial de parajiujitsu NoGi e venceu o mundial com quimono em novembro. Isabela Francos foi campeã no arremesso de peso e no lançamento de disco e de dardo/Paulo Sava

Atletas Héverton Gil e Isabela Francos. Fotos: Paulo Sava

O paratletismo tem ganhado destaque nos últimos anos no cenário esportivo brasileiro. Em Irati-PR, dois paratletas vêm conquistando títulos no cenário nacional e internacional. O lutador e professor de Parajiujitsu Héverton Gil, de 25 anos, conquistou títulos sul-americanos e é o primeiro campeão mundial de Parajiujitsu NoGi, modalidade disputada sem quimono. O campeonato foi realizado em janeiro deste ano, em São Paulo. Mais recentemente, no final de novembro, o atleta conquistou o título mundial da modalidade com quimono.

Já a paratleta Isabela Carla Francos, de 21 anos, conquistou diversos títulos estaduais e nacionais, entre eles o Meeting Paralímpico Loterias Caixa, em 2022.

O início de tudo – Héverton começou no atletismo em 2015, quando ainda estudava no Colégio Estadual Antônio Xavier da Silveira, em Irati, por incentivo dos professores de Educação Física. Depois, ele recebeu proposta para residir em Curitiba, onde descobriu a paixão pelo jiu-jitsu. Ele decidiu se desafiar e encarou esta nova aventura.

“Eu digo que as pessoas pensam que eu estou sendo metido e arrogante, mas não, eu estou apenas enaltecendo e exaltando o que merece ser exaltado. Para mim, um cara que tem a condição que eu tive, as limitações que eu tenho, e se propõe a fazer o que faz, viver disso e ter sucesso, merece ser exaltado”, frisou.

Disco que Isabela utiliza nos treinos. Foto: Paulo Sava

Isabela começou quando ainda era estudante, no Colégio Estadual Pio XII, no lançamento de pelota, em 2014. Ela acompanhava o pai, Marcelo, e a mãe, Ivana, nos jogos de vôlei e decidiu partir para o atletismo. Quando mudou para o Colégio Xavier, começou a treinar nas modalidades de arremesso de peso, lançamento de disco e de dardo.

A atleta conta que começou a praticar esportes para melhorar sua qualidade de vida e ter um bom desenvolvimento físico e mental. As competições vieram como consequência disso. “A partir de quando fui para as minhas primeiras competições, não pensava em uma marca maior e nem que o esporte ia se tornar uma coisa séria. De alguns anos para cá, se tornou sério e futuramente espero participar das paraolimpíadas”, comentou.

Héverton conquistou seu primeiro mundial em janeiro. Foto: Paulo Sava

Héverton contou como está sendo a preparação para as competições. “Minha preparação envolve dar aulas de manhã e à tarde, depois vou para a preparação física de musculação das 16h às 18 horas, e depois, às 19h30min tem o último treino de jiu-jitsu do dia, que vai até umas 20h30min ou 21 horas, aí eu vou para casa descansar um pouco”, comentou.

Já Isabela está em busca dos índices para participar do Campeonato Brasileiro de Paratletismo, que vai acontecer em São Paulo no Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). No lançamento de disco, a maior marca dela é de 6,03 metros. Já no arremesso de peso, o índice dela é de 3,35 metros, e no lançamento de dardo é de 4,62 metros. Neste ano, Isabela foi vice-campeã paraolímpica brasileira nas três provas.
Em maio, ela disputou a regional sul-sudeste das Paraolimpíadas Universitárias. Em seguida, ela começou a participar do Meeting Paralímpico Loterias Caixa. Em novembro, ela disputou a fase final dos Jogos Universitários em São Paulo.

Projeto de Héverton é realizado no Centro da Juventude Nagib Harmuche, em Irati. Foto: Paulo Sava

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Já Héverton contou que está escolhendo melhor as competições das quais vai participar, o que proporciona que ele tenha mais tempo com a família e também momentos para se dedicar ao curso de Educação Física EaD da Unicesumar. O atleta conseguiu uma bolsa junto ao Grupo Saber, gestor do polo da universidade em Irati.

“Eu me sinto aqui em Irati como se fosse aqueles moleques americanos, que estudam e vivem do esporte. Graças ao esporte, tenho a oportunidade de estudar em uma das maiores instituições de ensino do país e eu estou muito feliz com isso”, frisou.

Educação Física – Héverton decidiu fazer Educação Física pelo fato de não haver muitos profissionais deficientes nesta área. Além disso, ele vê a possibilidade de adaptar os treinos de musculação e jiu-jitsu para que pessoas com deficiência percebam que elas também conseguem fazer este tipo de trabalho.

“Eu cansei de conversar com pessoas PCDs, que falavam que queriam fazer academia, mas achavam que o professor tinha medo de as machucar e diminuíam as cargas. Às vezes, não é nem maldade do profissional, mas sim medo. Eu queria ser um PCD no meio desta área para poder mostrar que não precisa ter medo, que dá para dar uma carga para ele, que vai conseguir tirar de letra, se for bem preparado”, contou.

Em 2018, Héverton pesava 54 kg e lutava com atletas de maior porte físico que ele. Hoje, ele tem 74 kg e luta com atletas da sua faixa de peso.

Dardo e banco utilizados para os treinos de Isabela. Foto: Paulo Sava

Isabela treina em uma quadra de areia perto da sua casa, no bairro Lagoa, em Irati, e no Parque da Vila São João. Ela conta com o apoio do pai, Marcelo, que a acompanha nos treinos e nas competições. Para ele, o despertar de Isabela para a seriedade da prática esportiva veio em 2019, com a convocação dela para o campeonato Brasileiro Escolar em 2019, onde ela representou o Paraná no arremesso de peso e nos lançamentos de dardo e de disco.

“O ‘start’ com certeza foi ali, ela se empolgou muito, afinal de contas era a primeira competição nacional e já foi vice-campeã em três provas, com bons resultados, então seguimos. Surgiu a competição universitária em 2019, mas ela completou a idade para ser convocada”, frisou ela.

Em 2021, Isabela participou das Paraolimpíadas Universitárias, onde obteve três vice-campeonatos. Em 2022, ela disputou três meetings paraolímpicos e participou dos Jogos Paralímpico do Paraná (PARAJAPs). Hoje, Isabela é a 5ª colocada no ranking nacional de lançamento de disco, 6ª colocada no arremesso de peso e a 10ª colocada no lançamento de dardo.

Recentemente, Isabela participou da 11ª edição dos Jogos Paradesportivos do Paraná, em Foz do Iguaçu, onde conquistou duas medalhas de ouro, sendo uma no arremesso de peso e outra no lançamento de disco. Ela também se tornou recordista paranaense nas duas modalidades, atingindo as marcas de 6 metros e 73 centímetros no lançamento de disco e 3 metros e 38 centímetros no arremesso de peso.
“Como ela começou a ter marcas significativas e entrou para o ranking nacional, vimos que, enquanto ela quiser, vamos trabalhar e correr para atingir os objetivos. Ela mesma citou que tem esse desejo e nós temos muito pé no chão em relação à questão de uma participação paraolímpica. Uma Paraolimpíada não é uma coisa fácil de chegar, mas tudo no seu tempo, se for acontecer, vai acontecer enquanto ela quiser também”, frisou.

Marcelo ressaltou que o esporte tem que ser para Isabela, e não para a família. “Ela tem que querer e gostar, e aí, claro, vem todos os bônus, que são as medalhas e as viagens, que são coisas bacanas. Também tem o ônus, querendo isto vem o sacrifício”, comentou.

Isabela é professora de apoio da rede municipal e faz faculdade de Pedagogia em Irati. Ela também faz pilates e tem personal trainer que acompanha os treinamentos. “Enquanto ela quiser, nós estaremos ajudando no que for preciso. As viagens são bem bacanas, tivemos um circuito bem louco fazendo viagens para Campo Grande, Rio de Janeiro, São Paulo três vezes, Curitiba e Porto Alegre”, afirmou.
Bolsa Atleta – Assim como Héverton, Isabela é bolsista do programa “Bolsa Atleta”, da Secretaria Municipal de Esportes de Irati. Ela também recebe um incentivo do programa Geração Olímpica e Paraolímpica do Estado do Paraná. “Isto ajuda muito nesta questão, que são viagens e tudo o que ela precisa. Essas bolsas ajudam e muito nesta manutenção”, frisou Marcelo.

Isabela diz que está batalhando para dar conta de todas as atividades na sua vida. Emocionada, Ivana Francos, mãe da atleta, fala sobre o orgulho de ver sua filha vitoriosa. “Para mim, é um orgulho muito grande, eu começo a falar e choro. É uma história, um passo de cada vez. Quando ela vai para uma competição, é um sacrifício, todos nós sabemos das dificuldades, e depois vem o bônus, que é a medalha”, comentou.

Para Ivana, cada passo de Isabela representa uma emoção. Mesmo assim, ela disse que não deixa de dar orientações para a filha, quando necessário. “Sempre estamos juntos e orientando, às vezes até brigando com ela e puxando a orelha no bom sentido, quando precisa, mas estamos felizes com a caminhada dela”, frisou.

Héverton e sua turma de Jiu-Jitsu. Foto: Paulo Sava

Já Héverton consegue viver da prática e das aulas de Jiu-jitsu que dá em um projeto da Secretaria de Esportes de Irati. Ele conseguiu também alguns patrocínios, que auxiliam na renda familiar. “Graças às parcerias que a gente vem fechando na cidade e ao próprio projeto, eu consigo dizer que hoje o jiu-jitsu é o meu trabalho, então eu vivo da arte que escolhi fazer”, comemorou.

Futuro – Em 2024, Héverton pretende enfrentar adversários diferentes em eventos de luta casada e repetir o calendário especial deste ano, com o mundial sem quimono, pan-americano, sul-americano, brasileiro e com o mundial de quimono. “Tudo o que eu podia ganhar em 2023 eu acabei ganhando. Então nada melhor do que repetir isto em 2024 e ir atrás de umas lutas inéditas para me tornar incontestável na carreira”, comentou.

Projeto de Jiu-Jitsu – Um dos alunos do projeto de Héverton é Valdinei, conhecido como “Nenê da Vila Nova”. Ele acompanhava seu filho nos treinos e decidiu assistir as aulas, mas acabou se interessando pelo esporte e começou a treinar há 7 meses. Ele conta que o jiu-jitsu mudou a sua vida. “Eu não tenho nem como explicar, mudou a minha vida. Antes, eu era parado, não praticava esporte nenhum, mas com o jiu-jitsu eu comecei a gostar. Eu assisto lutas direto, a minha mulher briga comigo dizendo que o meu é só ver isto, mas eu quero ir para a frente, mostrar o meu potencial junto com o professor, o que ele me ensinou eu quero levar à frente. Eu não tinha pensado que não tinha capacidade de fazer algum esporte. Muitos criticam o parajiujitsu, mas dentro do tatame, tem que ter respeito com o professor e entre o grupo”, frisou.

Emanuel, de 11 anos, treina há sete meses com Héverton e perdeu 10kg de peso desde que iniciou os treinos. Ele conta que aderiu ao projeto a pedido do pai. “Meu pai disse para eu largar um pouco do celular e fazer algum exercício físico. Ele me deu algumas opções, futebol, jiu-jitsu e vôlei. Eu escolhi o jiu-jitsu porque sempre via luta na televisão. Fez muita diferença, eu emagreci muito e sei me defender quando alguém quiser brigar comigo”, frisou.

Héverton atribui o sucesso de sua carreira e do projeto à seriedade que impõe nos treinos. “Se eu cheguei aonde cheguei, que é o topo do mundo e a hegemonia, é porque eu levei isso aqui a sério. É o que leva comida para a mesa, o pão de cada dia para a minha casa. Tem como você brincar com isso? Não, tem que ser sério”, comentou.

O atleta diz que quer ser lembrado pelo trabalho que vem realizando, acima de tudo. “As pessoas dizem que tenho uma história de superação, mas eu digo, ‘beleza, pode ser que seja uma história de superação, mas eu não quero ser só isso: eu quero ser respeitado por fazer tão bem o meu trabalho’”, finalizou.

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