Profissionais de saúde se reuniram para auxiliar pessoas que desejam parar de fumar. Novos grupos iniciaram no Rio Bonito e na Delegacia de Irati na semana passada/Texto de Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava e Rodrigo Zub

Quem está tentando parar de fumar conta com uma ajuda profissional gratuita por meio de grupos de combate ao tabagismo em Irati. Os novos grupos iniciaram na semana passada na unidade de saúde do Rio Bonito e na Delegacia de Irati.
O programa foi retomado ano passado nos bairros Rio Bonito e Engenheiro Gutierrez. Com a baixa procura em Engenheiro Gutierrez, a equipe decidiu levar um novo grupo para o centro. “Acreditamos que pela distância, não que lá na própria região não tenha pessoas que necessitem disso, mas acabou que teve baixa adesão. Como no Rio Bonito está tendo uma super adesão, estamos resolvendo trazer para o centro essa segunda equipe. Vamos contar com duas equipes funcionando ao mesmo tempo para esse grupo”, conta a cirurgiã dentista, Elci Elyne Cunha Notoya, uma das responsáveis pelo grupo.
As equipes são multiprofissionais e são formadas por médicos, dentista, farmacêutica, enfermeiros e técnicos de enfermagem que auxiliam as pessoas que desejam parar com o tabagismo.
O médico Anderson Sprada, também um dos responsáveis pelo programa, conta que a retomada do projeto aconteceu após um curso feito pelos profissionais. “A partir de uma formação que todos nós tivemos vinculada junto à SESA [Secretaria de Estado da Saúde] e ao Inca, que é um Instituto Nacional do Câncer, porque, infelizmente, o tabaco é uma das principais causas para o câncer, não só de pulmão, mas câncer de orofaringe, câncer de língua, de faringe, de laringe, câncer de bexiga”, explica.
Quinze pessoas participaram do primeiro grupo formado após a retomada dos trabalhos. Doze pessoas permaneceram, mas oito deixaram de fumar definitivamente. O médico explica que a recaída é algo normal, mas que o acompanhamento em grupo aumenta a força das pessoas. “Algumas pessoas tiveram recaídas. Esperamos que isso, infelizmente, aconteça. Mas sempre procuramos dar força a essas pessoas para que elas continuem e consigam participando do programa para que deixem de fumar”, afirma Anderson.
Para participar dos grupos, as pessoas podem deixar o nome e um número de telefone na lista de espera disponibilizada nas unidades de saúde. Conforme novas vagas forem abertas, as pessoas serão convidadas a participar. Cada grupo costuma ter 15 vagas.
O médico explica que há três tipos de dependência: a química, a psicológica e a de hábito. Na primeira, a pessoa sente o desejo de fumar e pode ter que usar medicamentos para parar com o vício da nicotina. “Dependência química é a principal. Algumas pessoas sentem a necessidade da nicotina e quando elas deixam de fumar por um tempo, acabam tendo essa necessidade. Aí vem a importância de alguns medicamentos”, explica.
Na dependência psicológica, o cigarro serve como “desculpa” para enfrentar algumas situações, conforme Anderson. “Aquela pessoa que, por exemplo: ‘Eu tomo meu café da manhã, tomo meu cafezinho, tomo um chimarrão e tenho que estar com cigarrinho, tenho que estar com o tabaco’. Isso é uma dependência geralmente psicológica, de estar com alguma coisa. Ou então: ‘Eu tive uma situação estressante. O cigarro vai me aliviar desse estresse’”, conta.
Já na dependência de hábito, a pessoa passa a levar o cigarro para o seu cotidiano. “Tem pessoas que tem que estar com alguma coisa na mão. Fica com cigarro ali, está conversando e permanece naquele hábito”, explica.
Quem integrar os grupos de combate ao tabagismo passará por quatro sessões. “A primeira sessão, por exemplo, trata de entender porque se fuma e como isso afeta a saúde. A segunda fala sobre os primeiros dias sem fumar. A terceira, em como vencer os obstáculos para permanecer sem fumar e a quarta sessão, os benefícios obtidos após parar de fumar”, conta o médico.
Logo na primeira sessão, será realizado um teste de Fagerström que avaliará o nível de dependência em nicotina que a pessoa tem. “A partir daí, eu consigo ver qual é o melhor tratamento indicado para ele. Lembrando que todos têm que participar das sessões de terapia cognitiva e de reunião. Nessas, cada participante pode expor o seu motivo de fumar, porque está querendo deixar de fumar, qual é o obstáculo que ele enfrenta principalmente para parar de fumar, o que aquilo impacta a vida dele. Positivo, é pouco, mas muito mais negativamente. Damos essa oportunidade para a pessoa comentar a questão do vício do tabaco”, explica Anderson.
O teste feito na primeira sessão também mostrará as técnicas que serão utilizadas para que a pessoa pare de fumar. Há situações que a parada é abrupta e em outras, a pessoa segue uma estratégia de redução gradual. “Pode ser por redução no número de cigarros ou redução no horário que a pessoa fuma. Por exemplo, tem aquela pessoa que levanta e já fuma. Vamos evitar. Esperar pelo menos uma hora a uma hora e meia para você fumar o primeiro cigarro”, afirma o médico.
As quatro sessões são realizadas em um mês, com quatro encontros semanais. Após esta etapa, os encontros passam a ser mensais. “Temos que acompanhar o paciente por conta dessas recaídas e fortalecer o grupo em si. É muito legal essa interação do grupo, porque os que conseguiram e que estão com mais facilidade, vão incentivando os que estão com mais dificuldade. Sempre falamos que se um conseguiu, todo mundo consegue. Tem essa abordagem de incentivo. Temos esses grupos de manutenção. No mês seguinte a esse mês de tratamento, fazemos dois encontros de manutenção. A cada 15 dias, vamos ter um encontro e depois por um ano, até dar um ano do tratamento, fazemos um encontro mensal. Todo mês vamos encontrar esses participantes do grupo”, explica a coordenadora do grupo de combate ao tabagismo.
Segundo Elci, é importante que a pessoa que pretende participar procure estar com vontade de parar de fumar. “É descobrir o motivo real que tem impulsiona a querer parar de fumar porque as pessoas até chegam: ‘Porque meu filho falou, porque alguém me falou’. ‘Eu sei que faz mal, o médico falou que eu preciso’. Mas não vem com aquela vontade que é dela. Por esse motivo que eu vou parar. Dificilmente a pessoa consegue. Então, sempre fala que o requisito é a pessoa querer dar o primeiro passo. Ter a coragem de dar o primeiro passo”, disse a dentista.
Anderson destaca que é importante que a pessoa tenha certeza que irá fazer o tratamento porque são poucas vagas e há um custo financeiro por causa dos medicamentos. “Infelizmente, eu sei que ocorre recaídas, ocorrem pessoas que acabam tendo a recaída porque é um vício muito difícil. Porém, acaba tirando a oportunidade de outra pessoa que poderia ficar sem fumar. Isso quando ela tem essa incerteza. Se tem a certeza, ocorre uma recaída, não tem problema. Nós nunca criticamos isso. Nós até elogiamos as pessoas. Elogiamos muito mais aqueles que deixam, mas elogiamos também os que estão tentando e ainda não conseguiram, mas lembrar que isso tem custo”, conta.
Entre os medicamentos utilizados estão os ansiolíticos que podem custar mais de R$ 120 a cada 30 dias. “Nós usamos por 90 [dias], que é o preconizado pelo Ministério da Saúde e o próprio INCA. Além disso, os adesivos de nicotina, também um tratamento final passa de R$ 400, dependendo da marca. A goma de mascar, o tempo dos profissionais, o local”, disse o médico.
Qualquer pessoa acima de 14 anos pode participar dos grupos. Quem tiver abaixo de 14 anos, precisa de autorização dos pais ou responsáveis. “Acima de 14 anos já podem participar, inclusive de uma consulta médica, pode participar sem a presença dos responsáveis. O Estatuto da Criança e a própria legislação permite dar essa particularidade para os adolescentes acima de 14 anos”, conta Anderson.
Se há mais fumantes na família, incluindo pessoas que fumam narguilé, a orientação é que todos participem juntos. “Se o adolescente quer participar, mas o pai também fuma, a mãe fuma, um ambiente onde todos fumam, é bom que todos participem. Por exemplo, nós estamos com um casal, nós tínhamos vaga para mais um só e ele disse: ‘Mas minha esposa fuma também’. Então, vamos abrir uma exceção porque se eu abrir [vaga] só para você e você parar, e ela não, a chance de uma recaída é grande. Procuramos deixar sempre nesse sentido, quando tem duas pessoas na casa que fumam, que participem conjuntamente”, disse o médico.
Os encontros no bairro Rio Bonito acontecem todas as quintas, às 9 h. Já no centro, as reuniões acontecerão todas as quartas, às 9h30. As sessões costumam durar uma hora e meia.
Os médicos emitem uma declaração de comparecimento para quem precisar sair do trabalho para participar do programa. O médico faz um apelo aos empresários que deem essa oportunidade aos empregados. “Isso pode trazer até benefícios para a própria empresa. Pensando no malefício do cigarro, o cigarro contribui para doenças infecto-respiratórias, doenças das vias aéreas, doença respiratórias em gerais. Ele pega um resfriado que se agravou por causa do uso do tabaco e pega atestado. A partir do momento que ele não fuma, o absenteísmo pode reduzir. Isso é um ponto positivo para empresa e eu deixo esse aviso, que as empresas colaborem com os seus funcionários e os liberem”, analisa Anderson.
Os números de WhatsApp para ingressar nos grupos são (42) 9-9111-7121 para as reuniões no Centro e (42) 9-9106-4544 para a unidade do Rio Bonito.