Prefeito de Irati critica falta de humanização do atendimento de médicos em postos de saúde

Em sua fala na Câmara Municipal, Jorge Derbli criticou atendimentos de alguns médicos e ouviu…

06 de maio de 2023 às 14h14m

Em sua fala na Câmara Municipal, Jorge Derbli criticou atendimentos de alguns médicos e ouviu pedidos dos vereadores para melhorar atendimentos nos postos de saúde do interior-Texto de Karin Franco

Prefeito Jorge Derbli fala sobre a situação do setor de saúde durante participação na Tribuna da Câmara na terça-feira, 2. Foto: Divulgação

Um panorama sobre como está a saúde pública em Irati foi apresentado pelo prefeito, Jorge Derbli, na Câmara Municipal na terça-feira (2). A participação na Tribuna Popular durante a sessão do legislativo atendeu um convite feito pelo presidente da Câmara, José Ronaldo Ferreira (Ronaldão).

Durante a sua fala, o prefeito criticou a falta de humanização no atendimento de alguns médicos em postos de saúde e ouviu pedidos dos vereadores para melhorar os atendimentos em postos de saúde do interior.

A crítica ao atendimento médico surgiu quando o prefeito comentou sobre o número de exames realizados. Segundo ele, há um pedido alto de exames em cada consulta, o que acarreta mais gastos ao município que tem dificuldades de pagar a totalidade dos procedimentos. “O recebimento por consulta, nós pagamos em torno de R$ 32 a consulta. Se o médico consulta uma pessoa é R$ 32, se consulta dez [pessoas], é R$ 320. Eu não vou citar, nunca vou dizer nome de médico aqui, em respeito, mas tem médico que está atendendo durante um minuto e meio, fazendo uma consulta. Não tira a bunda da cadeira para colocar o aquele trem no peito do cidadão para ver se está respirando pelo menos, se está batendo o coração. Simplesmente olha e diz: ‘Está aqui. dez exames’. O que acontece? R$ 32, dez exames, custa quanto para prefeitura? Faz os exames que, às vezes, nem necessidade tem e volta mais uma consulta, daí vai para especializada, para o consórcio”, disse Derbli.

Para o prefeito, se alguns médicos optarem por um atendimento mais humanizado, com verificação clínica, o número de pedidos de exames pode diminuir. “Muitas vezes, num atendimento mais criterioso, às vezes, começa a descobrir algumas coisas que não precisa ter um gasto excessivo na saúde, porque a saúde custa caro. Nós não temos todo esse recurso que gostaríamos de ter. Por exemplo, nós gastamos no ano de 2022, R$ 43 milhões na Secretaria de Saúde. Representa quase 23% da receita do município de Irati”, revelou o prefeito.

A crítica quanto ao atendimento de médicos em consultas no Sistema Único de Saúde (SUS) foi reiterada por vereadores. “Hoje quando o médico chega no posto de saúde, ele nem te olha na cara. Pode ter 20 pessoas, dez pessoas, 50 pessoas para ser atendida, ele passa correndo para a sala dele e entra lá e começa a chamar. Também tem outra coisa, quando a funcionária do postinho grita chamando o paciente: ‘Ô, fulano de tal’. Não é assim que se trata. O senhor está certíssimo. Se cada departamento desse mundo fosse tratado humanizado, todas as doenças, eu garanto que diminuiriam uns 30%, mais ou menos”, disse a vereadora Vera Gabardo.

Nego Jacumasso também destacou a necessidade do atendimento mais humanizado e relembrou como foi tratado pelo doutor João Henrique Sabag Duarte, que também é vereador, quando esteve internado por conta da Covid-19. “Quando o médico recebe o paciente com um sorriso, já parece que o paciente até dá uma esquecida da dor que está ali, do problema da pessoa. Eu lembro de um médico aqui que está na minha frente que quando eu estava entre a vida e a morte, chorou. Abraçava e chorava. Então, tem que ter esse coração, tem que ter um amor pela profissão que exerce. Muito bem colocado pelo prefeito”, disse Jacumasso.

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Ainda em sua fala, o prefeito de Irati falou sobre o atendimento no Pronto Atendimento da Vila São João, conhecido como UPA da Vila São João. O prédio recebe todos os atendimentos de urgência e emergência do SUS em Irati.

Uma das principais reclamações é a demora do atendimento de pacientes. De acordo com Derbli, a demora é ocasionada porque a população procura o Pronto Atendimento ao invés de procurar o posto de saúde de seu bairro, aumentando o fluxo de pessoas a serem atendidas. “Nós temos quatro médicos, dois durante o dia e dois à noite. Eles não conseguem atender todas essas pessoas. Hoje uma médica que esteve no meu gabinete, relatou que atendeu um paciente que fazia uma semana que estava com problema. Uma semana. Mora do lado de um posto de saúde e espera para ir lá no Pronto Atendimento porque eles acham que chegando, eles atendem. Mas os médicos nos postos de saúde ficam praticamente com o braço cruzado em alguns momentos porque não tem paciente. Todo mundo tem o costume de ir no Pronto Atendimento, como era aqui no 24 horas que nós tínhamos aqui”, afirmou.

O prefeito revelou que o PA possui um custo mensal de R$ 500 mil, sendo que possui 4 mil atendimentos por mês. No total, pouco mais de 5 mil atendimentos são realizados em todas as unidades do município por mês.

Uma das ações da secretaria de Saúde de Irati foi ampliar o horário de atendimento na unidade Ildefonso Zanetti. Agora, o local possui atendimentos até às 21 h, podendo receber pacientes que trabalham no horário comercial. Outra medida que o prefeito pretende tomar é mudar o nome do Pronto Atendimento da Vila São João para PAMI, de modo a facilitar o entendimento de que o local é para urgência e emergência, e não é uma UPA, como inicialmente foi pensado.

O prefeito ainda disse que estuda uma possibilidade de transferir o Pronto Atendimento para a Santa Casa de Irati, auxiliando na diminuição de transferências de casos. “O Pronto Atendimento para nós hoje é fundamental. Mas devido à situação da Santa Casa, de R$ 400 mil de prejuízo, eu levantei o questionamento: não seria melhor nós transformar o Pronto Atendimento num posto de saúde avançado na Vila São João, porque a comunidade é muito grande, e nós transferirmos esse Pronto Atendimento para Santa Casa? Se nós gastamos R$ 500 mil lá, se nós passarmos esses R$ 500 mil para Santa Casa e a Santa Casa fazer esse trabalho”, conta.

A sugestão já havia sido comentada pelo diretor do hospital, Sidnei Barankievicz, no último mês, em sessão da Câmara Municipal. Segundo Derbli, o Pronto Atendimento possui condições de internar um paciente a espera de leito, mas diversas outras situações mais graves já são atendidas pela Santa Casa. “Vai ter mais custo para a Santa Casa, vai ter contratar mais enfermeiro, mais médicos e tudo. Mas vocês vejam: urgência e emergência no pronto atendimento. Uma pessoa chega mal no pronto atendimento da Vila, quando o médico vê que não consegue resolver a situação, é mais grave, vai para Santa Casa. Um motoqueiro que cai, com uma suspeita de fratura, vai para Santa Casa. O Raio-X, vai fazer a tomografia, vai tudo para a Santa Casa”, explica.

Ainda sobre atendimentos, o vereador Hélio de Mello aproveitou a visita do prefeito à Câmara para reiterar o pedido para que técnicos em enfermagem e dentistas realizem atendimentos nas unidades do interior do município. “Hoje mesmo, um funcionário da escola não passou bem, sintoma de apendicite, não tinha ninguém nem para aferir uma pressão. Eu pergunto onde ele vai? Ele vai para o pronto atendimento municipal. No Rio do Couro não tinha. Saiu e foi para onde? Há mais de dois anos não tem. Quando foi colocado uma técnica de enfermagem, ela andava junto com o carro do médico porque ela morava na cidade. Como morador da comunidade, eu não aceito e não concordo. Muito menos a volta desta profissional na nossa região porque deixou a desejar. Venho desabafar em nome da comunidade. Fica apenas os agentes comunitários e para as pessoas que residem no interior, o agente comunitário e o técnico de enfermagem é a mesma coisa. Não é. Tem funções diferentes”, conta.

Hélio reforçou que é possível deslocar um profissional para as localidades do interior contratando os profissionais aprovados no concurso realizado em 2022. “Não cobrávamos porque não tinha um concurso. Agora tem um concurso. Tem profissionais. Tem consultório odontológico e os nossos alunos, Rio do Couro, atende 14 comunidades. Temos Itapará, que atende mais um tanto de comunidade e as comunidades mais distantes, precisa estar o médico, o profissional, mais tempo presente”, disse.

Derbli comunicou que a Secretaria de Saúde deve verificar a possibilidade de deslocar um dentista para as unidades do interior. Um dos desafios está no horário de trabalho estipulado em concurso. O município possui dentistas que podem trabalhar apenas dez horas semanais na saúde pública, o que diminui a quantidade de dentistas que podem se deslocar até o interior. O ideal é que houvesse mais dentistas concursados com 40 horas semanais de trabalho. Contudo, o prefeito disse que solicitou ao secretário de Saúde, João Almeida Junior, que encontrasse um modo de atender o pedido. “Eu quero um dentista que atenda uma ou duas vezes por semana em cada posto rural. Chame no concurso. Nós fizemos para isso o concurso. Também um técnico de enfermagem. Não é possível que em um posto de saúde não tem uma técnica de enfermagem para dar uma vacina, para dar uma injeção, uma pessoa mais especializada. São 13 postos de saúde na área rural e dez na cidade. São 24 [postos de saúde]. O senhor se dedique [disse ao secretário de saúde]”, afirmou.

Outro pedido feito sobre atendimento é em relação às pessoas com autismo. O vereador Alcides Cezar Pinto (Batatinha) relembrou o pedido feito pela Associação Irati TEAbraça, que reúne pais de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sobre a necessidade de mais atendimento. “Dar uma atenção para esses pais e mães que pedem mais fonoaudiologia, psicólogo, terapia ocupacional para as crianças e o pedido de se possível, pelo menos com cada profissional, 40 minutos semanais, porque sabemos que tem pais que tem condições de pagar uma consulta, um atendimento, mas tem pessoas que não tem condição. Eu queria que o senhor desse uma atenção, juntamente com o secretário de Saúde que está aqui presente, que possam averiguar essa situação”, disse.

O prefeito respondeu que o pedido já está sendo estudado e uma das propostas é transformar o prédio da APAE em um centro de atendimento. “Nós estamos negociando com a APAE, para alugar o prédio da APAE, que se mudou, para alugarmos e montarmos um centro de tratamento para as crianças. Temos 213 crianças com problema, tem 103 autistas. Vai ter fonoaudiólogo, vai ter as pessoas qualificadas para fazer esse atendimento”, explica.

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