Deputado reassumiu função de líder da oposição na ALEP. Requião Filho diz que privatização da Copel poderá encarecer o valor da conta de luz/Texto de Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava
O deputado estadual, Requião Filho (PT), assumiu recentemente a função de líder da oposição na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP). De acordo com ele, a atuação deve seguir com uma oposição fundamentada. “Não é apenas uma oposição histérica. É uma oposição fundamentada no interesse público, na transparência e no combate à corrupção. Assim vamos trabalhar nos próximos quatro anos, exigindo transparência, corrigindo projetos, apontando erros e trazendo soluções”, disse o deputado, que concedeu entrevista à Najuá nesta semana.
A definição sobre a privatização da Companhia Paranaense de Energia (Copel) e sobre como ficarão os pedágios no estado estão entre as principais pautas trabalhadas na Assembleia Legislativa como líder de oposição.
Requião Filho explica que considera que a privatização da Copel poderá encarecer a energia para os consumidores. “O Tribunal de Contas do Estado e o Tribunal de Contas da União disseram que há problemas no trâmite dessa privatização da Copel. A privatização da Copel é um crime contra a economia paranaense, é um crime contra o nosso agro, quanto à nossa indústria, os empresários e as famílias paranaenses. A privatização de um monopólio, praticamente, vai aumentar a tarifa e vai diminuir investimentos. Eu não consigo entender essa visão do governador Ratinho e desse menino que hoje é o presidente da Copel [Daniel Slaviero], de dizer que a empresa não é uma empresa com viés social. A Copel pode trazer para nós energia mais barata para o agro, energia mais barata para atrair novas indústrias, energia mais barata para que o dinheiro da família paranaense seja gasto no Paraná. Mas não. Eles se preocupam em gerar lucros para acionistas que sequer moram no estado”, afirma.
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O deputado também criticou o governo federal que não interrompeu o processo de privatização. Para Requião Filho, a privatização pode ser encerrada com a revogação de um decreto da gestão passada. “A desculpa da venda da Copel é um decreto assinado pelo [ex-presidente] Bolsonaro que tratava de prazos, de concessões, de hidrelétricas e afins. O governo Lula, se quiser, o presidente Lula, querendo defender os interesses paranaense, poderia revogar esse decreto com uma simples canetada. Não sei o que impede o presidente de defender o povo do Paraná neste momento. Eu acho que o presidente Lula está muito mal assessorado lá em Brasília e não consegue ver os problemas de um estado tão importante para a nação, quanto é o nosso estado e os prejuízos que essa privatização da Copel traria para a nossa economia. Espero que os olhos do Lula sejam voltados ao Paraná o quanto antes e esse decreto absurdo seja revogado, para possamos dar um freio de arrumação em tudo isso”, afirma.
Já no caso dos pedágios, Requião Filho destaca que a proposta defendida pelo governo estadual é problemática. “O pedágio é um problema no Paraná. 25 anos do pedágio roubando o Paraná. 25 anos um pedágio cinco vezes mais caro do que deveria ser, de acordo com o Ministério Público. Agora, o Ratinho com pressa de colocar o pedágio com 15 novas praças e mais 35 anos de pedágio. Eles poderiam ter feito isso no ano da eleição. Não fizeram porque sabiam que se colocasse um pedágio mais caro amanhã do que era ontem, eles teriam problemas de aprovação popular aqui no Paraná, tanto ele, quanto o presidente Jair Bolsonaro, presidente à época. Seguraram e abandonaram nossas estradas durante um ano”, disse.
O modelo de pedágio proposto pelo governo estadual enfrenta dificuldades com o governo federal. Uma reunião chegou a ser marcada com o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL) no começo do mês. Porém, o encontro foi cancelado pelo governo estadual. A expectativa era que na reunião as rodovias estaduais dos lotes 1 e 2 fossem repassadas ao Governo Federal, que faria o processo para o retorno dos pedágios nas rodovias.
Requião Filho destaca que o governo federal possui outra proposta. “O presidente Lula esteve no Paraná e disse que não aceitava o novo modelo. Queria rever esse modelo, por um modelo de um pedágio de preço mais baixo e com mais obras. Estamos aguardando isso. Qual será o modelo apresentado aqui para o Paraná. Pedágio de manutenção? Pedágio de obras, mais licitação pelo menor preço? Ou um pedágio com todas as garantias do mundo para as pedageiras e nenhuma garantia para o usuário?”, questiona.
Para o deputado, as rodovias paranaenses não precisam de pedágios. “O pedágio nada mais é do que uma taxa. Um imposto. Algo a mais que nós pagamos para utilizar as rodovias. A solução seria o governo federal e o governo do Paraná gastarem bem o nosso dinheiro, investir em obras de infraestrutura e manutenção. Essa seria a solução. ‘Mas não tem dinheiro’. O Paraná abre mão de R$ 17 bilhões, este ano, de impostos para grandes empresas multinacionais. Como é que não tem dinheiro para fazer obras? ‘Mas as obras do pedágio são entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões’. Ou seja, em três anos, nós abrimos mão do que queremos de obra para 30 [anos]. Na minha cabeça, essa conta não fecha. Seria muito possível fazermos essas obras”, disse.
Requião Filho comentou que vê o modelo atual de concessão de pedágio pelo menor preço como uma maneira de beneficiar as concessionárias de pedágio. “A pedageira nada mais é do que uma terceira, um homem no meio, para que contrate uma empreiteira. Nós garantimos lucro para as pedageiras, garantimos para eles. Essa pedageira vai lá e contrata uma terceira empreiteira, que também tem lucro em cima da obra, porque afinal ninguém trabalha de graça. Qual é a lógica disso em estradas que foram construídas com o meu, com o seu, com dinheiro de milhares de paranaenses ao longo dos anos?”, conta.
As rodovias do Paraná estão sem pedágios desde novembro de 2021, quando os contratos de concessão terminaram. O deputado explica que desde que as rodovias voltaram para a responsabilidade do governo estadual, não há manutenção. Para Requião Filho, é preciso que o governo do Estado tenha atitude para resolver problemas como nas rodovias BR-277 e BR-376. “No momento está faltando pulso. Está faltando decisão. Obras emergenciais devem ser feitas de maneira emergencial. Por exemplo, nós poderíamos ter pedido ajuda do exército para ajudar a resolver esses desbarrancamentos que tivemos, esses deslizamentos. O que nós temos nas estradas, não é falta de pedágio. É falta de manutenção. Desde que o pedágio teve o seu contrato encerrado por força de lei no Paraná, as estradas foram abandonadas e esse abandono de estradas paranaenses culminou nessas tragédias, junto com essas tragédias climáticas, a falta de manutenção nos trouxe esses problemas. Falta agora uma mão firme, uma mão forte e um governador comprometido para cobrar tanto do DER, quanto do governo Federal que essas obras sejam feitas a toque de caixa, afinal de contas, estamos colhendo a safra de soja, uma safra recorde, e esses problemas nessas BRs trarão prejuízos enormes para o Paraná e para Santa Catarina”, disse.