Iratiense é o primeiro campeão mundial de Parajiu-Jitsu Nogi

Heverton Gil, de 25 anos, venceu o campeonato mundial da modalidade, disputado em São Paulo…

28 de janeiro de 2023 às 20h53m

Heverton Gil, de 25 anos, venceu o campeonato mundial da modalidade, disputado em São Paulo no último fim de semana/Paulo Henrique Sava

Heverton Gil, campeão mundial de Parajiu-Jitsu Nogi. Foto: Arquivo pessoal

O atleta iratiense Heverton Gil, de 25 anos, se tornou o primeiro campeão mundial de Parajiu-Jitsu Nogi no último fim de semana. Ele venceu o campeonato mundial da modalidade, disputado em São Paulo. A modalidade de Jiu-Jitsu No-Gi é disputada sem quimono, vestimenta japonesa tradicionalmente utilizada para esta prática esportiva.

Este foi o primeiro campeonato realizado nesta modalidade, segundo Heverton. “Eu tive a honra de participar desse mundial através do convite e ser o 1º campeão do mundo sem quimono”, destacou.

Em entrevista à Najuá, Heverton disse que a vitória no mundial representa a conquista de um sonho, uma vez que ele foi o primeiro iratiense a conquistar este título. “É o sonho de uma vida, e foi muito bacana, fiz a melhor luta da minha vida. É uma honra para mim ter trazido este título para o povo iratiense e ser o primeiro a trazer o mundo para a cidade. Fico muito feliz por ter sido eu o escolhido para tamanha honraria”, comentou.

Carreira – Antes de seguir para a prática do Parajiu-Jitsu, Heverton iniciou carreira no atletismo, quando ainda estudava no Colégio Estadual Antônio Xavier da Silveira, através dos professores Eliton Cândido e Emerson, ainda em 2015. “São pessoas a quem eu agradeço até hoje por terem me inserido neste mundo do esporte e acendido a chama da competição dentro de mim, mostrando que, apesar das dificuldades, eu era capaz de fazer alguma coisa. Então, eu agradeço muito a eles”, frisou.

Depois disso, Heverton recebeu um convite para treinar em Curitiba, ainda na modalidade do atletismo. Foi lá que ele descobriu a paixão pelo jiu-jitsu e decidiu mudar os rumos da carreira.

“Eu fui para uma academia de musculação fazer preparação física e vi uma galera lutando nos fundos. Se você pegar meu gosto pessoal nas redes sociais, desde 2011 eu compartilhava coisas de luta que eu gostava, e eu sempre quis lutar. Pela minha dificuldade, eu pensava que a luta começava em pé e como eu iria fazer isto? Quando eu fui procurar a preparação física, eu vi os caras treinando uma luta no chão e pensei que dava para eu fazer. Ali eu me desafiei mais uma vez, liguei para o rapaz que dava treino lá e perguntei se ele poderia treinar uma pessoa com limitação e ele comentou comigo que nunca tinha feito algo parecido, mas que iria tentar. Assim começou minha história no Jiu-Jitsu”, destacou.

Campeonatos – Antes de ir para o Mundial, o atleta já havia disputado outros campeonatos, como o paranaense, brasileiro e sul-americano, inclusive o South American Pro, no qual ele conquistou a vaga para o Mundial.

No Parajiu-Jitsu, não existe divisão de peso nem de faixa, apenas de mobilidade e tipos de deficiências. Por este motivo, Heverton precisou enfrentar atletas que pesavam cerca de 20kg mais que ele. “Pessoas com deficiências parecidas lutam entre s. Teve eventos que eu cheguei a fazer com caras de 15kg e 20kg a mais que eu”, frisou.

Para Heverton, a conquista do Mundial representa uma realização pessoal e o resultado de todas as batalhas e dificuldades que ele precisou enfrentar para conquistar este título. Ele precisou enfrentar sérios problemas físicos, financeiros e de saúde antes de disputar a competição, inclusive a Covid-19.

“No ano passado, eu já tinha esta ideia de ir para o Mundial também porque, na minha concepção, eu estava na melhor fase da carreira, ganhando tudo o que poderia, só faltava o Mundial. Logo no começo da temporada passada, eu peguei Covid-19, mas graças a Deus não foi nada mais sério, somente uma febre, gripe forte, vontade de ficar na cama e dor no corpo, mas não cheguei a ficar internado. Quando eu me recuperei do Covid-19, voltei a treinar e machuquei o joelho, rompi parcialmente dois ligamentos e fiz uma micro-fratura de patela, fiquei três meses fora”, contou.

Depois disso, Heverton voltou a treinar e sentiu novamente dores no joelho, o que quase o fez desistir das competições. “Cheguei até a chorar para minha esposa na época e perguntei: ‘Cara, será que o sonho acabou? Será que o meu joelho não terá mais a firmeza para poder treinar? Todo treino que eu fazia sentia o meu joelho incomodar. Eu falei para minha esposa que iria parar porque achava que meu joelho não dava mais. Ela me abraçou e falou que ia dar. Eu consegui fazer tratamento direitinho com o fisioterapeuta, que me deu todo o apoio e suporte desde o início da carreira. Se não fosse também por ele, talvez eu não estaria aqui falando do mundial para vocês”, comentou.

Heverton chegou a treinar com cinco campeões mundiais de Jiu-Jitsu na mesma academia. O treinador fazia o máximo para que todos eles tivessem treino em academias e todo o material necessário para o treinamento. Além disso, os atletas de fora da capital tinham um espaço de alojamento para poderem ficar durante o período de treinamentos e competições, como foi o caso do iratiense. “Isto é muito importante para nós porque às vezes o atleta viaja sozinho e está longe da família. Ter um ambiente em que está todo mundo junto é muito bacana”, comentou.

Reestruturação familiar – Entre um treino e outro, Héverton e a esposa Gracielle descobriram que seriam pais. Porém, após três meses de gestação, ela sofreu um aborto espontâneo e perdeu o primeiro bebê. Por conta disso, o atleta decidiu abandonar as competições em 2022 para dar apoio a ela. “Eu abri mão das competições do ano passado para poder reestruturar a minha família, dar toda a força que ela precisava e pegar a energia que ela tinha para me dar e levantarmos juntos. Foi um momento muito difícil das nossas vidas mesmo”, declarou.

Virada – Entretanto, a virada literalmente aconteceu para o casal em 2023. Além do título mundial, Heverton e a esposa descobriram que serão pais do Pedro Gabriel, que deve nascer em junho. Ele não se arrepende de ter aberto mão de outras coisas na sua vida para seguir carreira no esporte.
“A minha história e o meu legado como atleta valem a pena quando se pensa que eu vou deixar a história para que os outros possam seguir o mesmo caminho e contar para o meu filho tudo o que eu fiz. Toda a dificuldade valeu a pena”, enalteceu.

Heverton e a esposa Gracielle. Foto: Paulo Henrique Sava

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Falta de patrocínio – A falta de patrocínio tem sido um dos problemas na carreira de Héverton. O casal têm custeado as participações dele nos campeonatos do próprio bolso, tanto que mandou fazer uma camiseta com o nome do atleta para ser comercializada com o objetivo de arrecadar fundos para que ele possa participar das competições, uma vez que ele não conta com patrocínio.

“Patrocínio eu não tenho. Agora, ganhei o campeonato do nível mais alto que alguém poderia ter ganho e estou à disposição, meu telefone e redes sociais estão abertos para quem quiser se juntar a nós nesta corrente para nos fazer mais fortes ainda e irmos em busca de mais coisas, eu vou ser muito grato”, frisou.

Nas redes sociais, os interessados em apoiar o trabalho do atleta podem procura-lo por Heverton Gil ou entrar em contato via WhatsApp pelo número (42) 99906-6477. Ele ressalta que o apoio não precisa ser somente em dinheiro, mas pode ser dado em material para treinamento, suplementos alimentares, treinamentos, entre outros.

“Por exemplo, se tiver alguma loja de suplementos que não possa ajudar em dinheiro, dá o produto, o material. Se uma academia de musculação não tiver dinheiro para dar, pode fornecer a oportunidade de treinar ou um desconto na mensalidade. Todo atleta precisa de um staff gigante por trás, é a preparação física, a nutrição. Toda pessoa que vê um atleta sendo campeão não tem noção do time que ele precisa ter por trás dele”, pontuou.

Projeto – Heverton também tem planos de realizar um projeto para oferecer aulas de parajiu-jitsu a outros paratletas de Irati. Ele já está conversando com o secretário de esportes, André Demczuk, que deve tratar sobre o assunto assim que voltar de férias. Com isso, Heverton busca abrir caminho para o surgimento de novos paratletas em Irati.

“Eu quero que, quando cheguem outros paratletas, eles tenham este caminho aberto por mim. Então, eu não quero que eles precisem ir atrás de tudo sozinhos, mas sim que eles tenham suporte e descubram o que são capazes de fazer. Às vezes tem um monte de pessoas com deficiência que estão no sofá de casa se perguntando o que podem fazer de diferente. Eu quero ser esse cara para mostrar a eles que podem”, frisou.

Heverton sonha em atingir a marca do lutador Marcus Almeida, o “Buchecha do Jiu-Jitsu”, que ganhou o título mundial por 14 vezes. “Eu vou ser o Buchecha do Parajiu-Jitsu. Então, eu falo todo dia que eu quero fazer história e ser campeão 10, 14, 32 ou quantas vezes for preciso. A sensação de ganhar um mundial é única, e antes de ter o mundial eu pensava que, quando ganhasse, ia dar uma sossegada, mas não. Eu ganhei o mundial agora e já estou com fome para o próximo e outras conquistas. A partir do Mundial, tudo o que eu ganhar hoje na minha vida como atleta vai ser pela segunda vez. Agradeço muito a Deus por isso, aos meus colegas de treino e ao meu mestre que eu digo que mudou a minha vida. Ele tirou uma pessoa que não tinha mais perspectiva de nada por conta das dificuldades e mostrou que ele poderia ser um atleta de nível mundial. Eu quero fazer isto pelas pessoas de Irati também”, finalizou.

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