Onze agentes penitenciários são mantidos reféns e um número indefinido de detentos que cumprem pena por crimes sexuais estão sob ameaças. Diálogos serão retomados às 7h desta terça
Luan Galani e Carolina Pompeo – Gazeta do Povo com informações de Morgani Guzzo – correspondente em Guarapuava
As negociações com os presos rebelados na Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG), foram suspensas às 22h30 desta segunda-feira (13) e serão retomadas às 7 horas desta terça. A informação foi repassada pela Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju). Até às 22h45 desta segunda,os presos ainda não tinham chegado a um consenso sobre o que reivindicar em troca da libertação dos reféns.
Os presos estão rebelados desde as 11h30 desta segunda-feira (13) e mantêm 11 agentes penitenciários reféns, além de um número indefinido de detentos que cumprem pena por crimes sexuais. Agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar (PM), iniciaram as negociações por volta das 17 horas. Durante as conversas, treze reféns foram jogados do telhado da unidade de mãos amarradas. Todos sofreram apenas ferimentos leves e passam bem, segundo a Seju. O Diário de Guarapuava, no entanto, informou que um dos presos teve traumatismo craniano após ser jogado do telhado.
Os presos envolvidos no motim também ameaçaram atear fogo no pavilhão se a PM não entregasse um celular e um carregador em até 10 minutos, a contar a partir das 15h55, aproximadamente. O prazo expirou, mas os detentos, aparentemente, desistiram da ideia de incendiar o prédio. Fumaça podia ser vista durante toda a tarde do que, desconfia-se, observando do lado de fora, ser proveniente de colchões queimados. Essa informação não foi confirmada oficialmente. Em determinado momento, os presos também pediram a presença do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Paraná (OAB-PR) e contato com o governador do estado.
Os rebelados mantiveram, durante praticamente toda a tarde, os detentos que cumprem pena por crimes sexuais amarrados, e seminus, no telhado da penitenciária. No topo do prédio eles também hastearam as bandeiras do Paraná e do Brasil e uma faixa com os dizeres “Pedimos força dos irmãos”. Não foi possível precisar, durante o dia, quantos presos são mantidos reféns pelos comandantes do motim, porque outra parte dos detentos prefere não participar da rebelião, como informa a Seju.
Capacidade
Segundo o Mapa Carcerário da Seju, a PIG abriga 239 presos e é considerada uma unidade modelo, onde os detentos podem estudar e trabalhar no local. Ainda de acordo com a Seju, cerca de 40 presos comandam a rebelião e o motim começou quando eles se deslocavam para o canteiro de trabalho, dentro da própria unidade, na manhã desta segunda, e aproveitaram a oportunidade para render os agentes.
Exigências
Cezinando Paredes, diretor do Depen, informa que o grupo não tem reivindicações. “Agora os principais responsáveis pelo motim estão preparando uma lista de exigências para negociar com o Bope”, explica Paredes. “Alguns querem transferências e outros, não”, adiantou Paredes.
De acordo com Petruska Niclevisk Sviercoski, vice-presidente do Sindarspen, uma das possíveis exigências é de que os presos por crimes sexuais sejam transferidos do complexo.
Ela informou ainda que um dos agentes ficou ferido, com queimaduras provocadas por cola quente. No fim da tarde ele já estava em casa, segundo a Seju. Por isso o número de agentes mantidos reféns no complexo caiu de 12, no início da rebelião, para 11. Alguns detentos jogaram cola sobre o agente porque, a princípio, queriam atear fogo. Outros presos, no entanto, intercederam, e decidiram liberá-lo.
Onda de rebeliões
O presidente do Sindarspen, Antony Johnson, afirmou que a categoria está indignada com a 21ª rebelião de presos no estado desde dezembro de 2013.
“Essa onda de rebeliões já fez 31 agentes reféns em menos de um ano, mas a resposta do governo não é satisfatória, com pouco investimento e contratação de agentes. Nós íamos entrar em greve no dia 29 de setembro, mas o governo estadual conseguiu uma liminar impedindo a paralisação”, disse.
PM mantém silêncio
Na parte de fora da penitenciária, a PM não passa mais informações sobre o motim. A única orientação repassada foi de que a negociação com o Bope seguirá somente as determinações da Seju.
Suspeitas
O diretor do Depen lembra que dez presos que participaram da rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel, no fim de agosto, que terminou com cinco mortos, foram transferidos para a PIG. Porém, tanto Paredes quanto a Seju não souberam informar se alguns dos amotinados são os mesmos de Cascavel. Segundo a secretaria, os presos estão com os rostos cobertos e isso dificulta sua identificação.
A PM identificou tesouras, pedaços de madeira e outros artefatos improvisados, que estão sendo utilizados como armas pelos presos rebelados. Até 19 horas, cerca de 10 pessoas, entre reféns e outros detentos, haviam sido feridas e encaminhadas para hospitais e pronto-socorros da cidade. O Corpo de Bombeiros não soube precisar o número de atendimentos prestados no local, mas garante que não houve nenhum caso gravíssimo.
Rebelião em Guarapuava é a 21ª do ano; veja lista das outras 20
5 de janeiro de 2014 – Dezoito presos se amotinaram na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara. Durante uma hora eles negociaram transferência para o interior do estado. Um agente foi mantido refém pelos presos.
09 de janeiro de 2014 – Um agente penitenciário foi mantido refém por presos da Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II), na Região Metropolitana de Curitiba. Os presos pediam transferência para penitenciárias de Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná.
15 de janeiro de 2014 – Após três horas de motim, presas do Centro de Regime Semiaberto Feminino (Craf) de Curitiba libertaram duas agentes penitenciárias que foram feitas reféns. As detentas pediam melhorias em higiene e limpeza, além de tratamento semelhante ao que ocorre na Colônia Penal Agrícola (CPA), em Piraquara.
16 de janeiro de 2014 – Um agente penitenciário foi mantido refém durante 16 horas na PCE, em Piraquara. Os presos pediam transferências para Londrina, Maringá e Foz do Iguaçu.
10 de fevereiro de 2014 – Vinte e quatro presos, que pediam transferência para outros presídios do estado, mantiveram um agente penitenciário como refém na PEP II. O agente foi libertado após cinco horas de negociações.
06 de março de 2014 – Presos que reivindicavam transferências para Londrina e Francisco Beltrão mantiveram por 15 horas dois agentes penitenciários como reféns na PEP I. As negociações duraram poucas horas, mas os presos se recusaram a viajar de noite, o que fez com que o motim terminasse somente após 15 horas.
10 de março de 2014 – Na PEP II, durante quatro horas um agente penitenciário ficou nas mãos de seis presos que pediam transferências para Guarapuava. Os presos foram transferidos e o agente liberado após negociação.
19 de março de 2014 – Dois agentes carcerários que escoltavam presos foram dominados pelos detentos na PEP I. Os presos libertaram os agentes após conseguirem transferência para cidades de origem. Foram 15 horas de negociação.
19 de março de 2014 – Também na PEP I, durante uma hora um agente foi dominado por presos que pediram transferência para Maringá, no Noroeste do Paraná.
16 de abril de 2014 – No Presídio Hildebrando de Souza, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, foram oito horas de negociação até que os detentos libertaram um agente penitenciário. Os motivos da rebelião não foram informados, mas o presídio sofre com falta de vagas.
01 de maio de 2014 – Em Santo Antônio da Platina, no Norte Pioneiro, presos da Cadeia Pública do município se rebelaram e pediram transferência. Alguns deles foram colocados em liberdade, pois já haviam cumprido pena.
14 de julho de 2014 – Três agentes carcerários foram feitos reféns na cadeia pública de Telêmaco Borba. O motim durou cerca de 17 horas. Antes do motim, houve tentativa de fuga.
17 de julho de 2014 – Por 16 horas, presos da PEP II realizaram um motim. Quatro presos pediam transferência para Londrina. Um agente na penitenciária foi mantido sob domínio dos presos.
22 de julho de 2014 – Quatro presos se rebelaram e mantiveram um agente refém na PCE. Eles pediam transferência para outras unidades prisionais do Complexo Penitenciário de Piraquara (CCP).
22 de julho de 2014 – Na Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu I (PEF I), no Oeste do Paraná, dois agentes foram mantidos sob domínio de dezesseis presos por seis horas. A exigência também era de transferência para outras unidades prisionais do estado.
24 de agosto – Na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC), dois agentes penitenciários foram mantidos reféns por cerca de 45 horas. Cinco pessoas morreram no motim e outras 25 ficaram feridas no motim mais violento do Paraná dos últimos quatro anos.
9 de setembro – três agentes penitenciários foram mantidos como reféns por um grupo de 14 presos na cadeia pública de Guarapuava, na região Centro-Sul do Paraná. Os detidos concordaram em liberar os funcionários da prisão depois de acertar a transferência de 74 presos para outras penitenciárias do estado. O motim terminou sem feridos nem mortos.
10 de setembro – 77 presos foram transferidos da Penitenciária Estadual de Cruzeiro do Oeste (PECO), no Noroeste do Paraná, depois de um motim de 18 horas. Foram 13 reféns, sendo 12 presos e um agente penitenciário.
12 de setembro – presos do bloco 3 da Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II), na Região Metropolitana de Curitiba, mantiveram dois agentes penitenciários reféns por 25 horas. Após o acerto de transferências, agentes e presos que também eram mantidos reféns foram liberados e ninguém ficou ferido.
16 de setembro – um segundo motim ocorreu em um intervalo de menos de uma semana na Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II). Dois agentes penitenciários foram feitos reféns durante mais de 30 horas, período em que a rebelião perdurou. O principal motivo da revolta era o medo que os presos rebelados têm de detentos de uma facção rival. Ninguém ficou ferido.