O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul [BRDE] notificou recentemente 32 agricultores e produtores de leite cooperados da Cooperativa de Leite Lactisul sobre uma dívida deixada pela cooperativa desde 2014. Trata-se de uma operação de crédito feita pela cooperativa junto ao banco em 2006.

Na época, a cooperativa solicitou um empréstimo de R$540.856,00. Deste valor, o banco liberou pouco mais de R$525mil, quantia que deveria ter sido utilizada para a instalação de uma unidade de beneficiamento e envase de leite bovino com capacidade nominal de processamento de 16 mil litros por dia (em um turno de 8 horas). O projeto seria realizado na antiga sede da cooperativa, localizada na Rua Coronel Saboia, na Vila Nova, em Irati. No entanto, a cooperativa fechou em 2006 e acabou deixando a dívida para os agricultores. Cada um deles assinou uma Nota Rural com o valor do empréstimo pertinente a cada produtor. Estas notas estão em poder do BRDE, em Curitiba.  

A Cooperativa teria deixado ainda como garantias um terreno, localizado na Serra dos Nogueiras, com área de 10.350m², uma unidade de recebimento, benfeitorias realizadas no terreno, um abrigo, máquinas, equipamentos e uma caldeira com capacidade para gerar 200kg de vapor por hora. O valor total de todos os bens somava, em 2006, R$1.159.622,00. O valor atualizado dos bens precisa ser recalculado.  

Segundo o BRDE e o Sindicato Rural de Irati, as melhorias solicitadas pela cooperativa não teriam sido realizadas. O presidente do Sindicato Rural, Mezaque Kécot Veres, explica que, em reunião entre a antiga diretoria da cooperativa, os produtores rurais, representantes dos Sindicatos Rurais de Prudentópolis e Teixeira Soares e do BRDE, ficou demonstrada a existência da dívida e que a Cooperativa estaria inadimplente com o banco. No entanto, os representantes do banco deixaram claro que a instituição está aberta para negociações, porém o processo não será encerrado.  

Mezaque comentou que os produtores tiveram esclarecimentos por parte da OCEPAR sobre seus direitos e deveres. Ele comenta que o cooperativismo é uma ideia importante e que precisa da participação frequente de cada um dos associados, acompanhando cada passo da cooperativa. 

O BRDE divulgou a lista dos produtores associados à Lactisul e que teriam oferecido bens como garantia do pagamento do empréstimo.  

Segundo Mezaque, o prazo dado pelo BRDE para o pagamento da dívida pela cooperativa sem a execução dos agricultores terminou no último dia 15. Mezaque destaca que, em caso de pagamento a vista, a cooperativa pagaria em torno de R$800 mil, de uma dívida de R$1milhão e 60 mil. 

Nossa reportagem conversou com Paulo César Starke Junior, superintendente do BRDE para os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. Ele comenta que a situação da dívida da cooperativa junto ao banco se tornou aguda nos últimos anos. Starke destaca que, desde que foi contraído o empréstimo, nenhum pagamento sequer foi efetuado e nem o projeto foi efetuado, o que caracterizaria desvio de recursos. 

Segundo Starke, o financiamento foi concedido na linha do Pronaf, com juros de 2 a 3% ao ano, com três anos de carência, ou seja, sem o pagamento dos juros. Mesmo assim, o pagamento não foi efetuado pela cooperativa, que fechou as portas em 2006. 

De acordo com Starke, a cobrança está sendo feita por via judicial. Ele ressalta que o banco se preocupa com a parte social de uma cobrança destas, pois os nomes e a documentação dos produtores está em jogo. 

O superintendente explica que os produtores também foram notificados a efetuar o pagamento da dívida.  

Ainda segundo Starke, caso os produtores desejem quitar a sua parte na dívida, devem procurar a sede do BRDE em Curitiba. 

Procurado pela reportagem, o então presidente da Lactisul, Vladislau Stepka, disse que está recorrendo na Justiça da cobrança e preferiu não gravar entrevista.