Campanha visa incentivar doação de órgãos

26 de setembro de 2017 às 14h09m

Santa Casa de Irati é o hospital credenciado na região para a captação de órgãos para transplante, especificamente, do globo ocular/córneas

Edilson Kernicki, com reportagem de Rodrigo Zub e Paulo Henrique Sava 
Um gesto nobre que pode salvar a vida de outras pessoas, a doação de órgãos ainda é tratada por muitas famílias como um tema delicado na hora de se despedir de um ente querido. A Semana Nacional da Doação de Órgãos, comemorada na última semana de setembro, procura conscientizar a respeito da doação e dos transplantes e desmistificar o tabu. A campanha é uma iniciativa da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais. O dia 27 de setembro é o Dia Nacional da Doação de Órgãos. A Santa Casa de Irati é o hospital credenciado na região para a captação de órgãos para transplante, especificamente, do globo ocular/córneas.
Entre setembro de 2010 a agosto de 2017, 135 potenciais doadores foram registrados na Santa Casa de Irati. Dos 135, 108 (80%) doaram, de fato. Em apenas 27 casos (20%), a família recusou. A conscientização é o ponto chave para a eficácia na captação de órgãos, pois ao mesmo tempo em que famílias de potenciais doadores recusaram apenas por não saber o desejo do ente falecido, outras famílias procuram meios de fazer valer a vontade do ente falecido manifestada em vida.
A assistente social Ana Cláudia Ferreira de Andrade, que coordena a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT), da Santa Casa de Irati, e a enfermeira Karine de Oliveira, responsável pela captação de órgãos, participaram do programa “Meio Dia em Notícias” desta segunda-feira (25), na Super Najuá FM 92,5, e falaram sobre os critérios para a doação, entre outros aspectos.

OBS: Confira a entrevista completa no fim deste texto

“Os principais responsáveis pela doação são os familiares. Infelizmente, num momento trágico, num momento difícil, num momento de dor, mas é nesse momento em que as famílias têm a oportunidade de beneficiar vidas que estão esperando por um órgão”, comenta a coordenadora da CIHDOTT. Ainda que uma pessoa manifeste em vida seu desejo de se tornar um doador, a captação depende da autorização de familiares mais próximos quando constatada a morte.
Karine afirma que a comunidade iratiense e da região, que é atendida na Santa Casa de Irati, graças às constantes campanhas, já compreende bem a importância da doação de órgãos e, em alguns casos, toma a iniciativa por conta própria de perguntar se o hospital realiza esse tipo de procedimento. A assistente social possui também a tarefa de abordar as famílias e entrevistá-las para saber sobre o interesse delas em praticar a doação.
Ana Cláudia explica que, hoje, a única forma de manifestar o interesse em doar órgãos é comunicar os familiares sobre a intenção. “Antigamente, poderia deixar [registrado] em cartório, em testamento, ou na CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Nada por escrito hoje é válido. Quando ocorre um óbito, que seja dentro dos critérios para um potencial doador, entrevistamos e acolhemos essa família, diante desse momento, e é só a família que é responsável. Ela não precisa deixar nada por escrito. Basta avisar sua família, expressar seu desejo”, esclarece a coordenadora do CIHDOTT. 
Apenas familiares em 1º e 2º graus podem autorizar a captação de órgãos: pai, mãe, filhos, avós, irmãos e cônjuges. É preenchido um formulário com questionário, assinado por testemunhas. “É muito burocrático, é fiscalizado pela Central de Transplantes do Paraná. Além de ser um processe bonito, de você estar doando ao próximo um pouco de você mesmo, algo que não vai poder usar mais, digamos assim, é um processo burocrático e fiscalizado pelo Estado e pelo Ministério da Saúde também”, detalha.

Critérios para doação de córneas

O potencial doador deve possuir entre três e 70 anos e 11 meses. Alguns fatores impedem a doação: ser portador de hepatite; ter tido infecção generalizada; raiva; HIV/Aids; pacientes que tenham feito cirurgias oculares recentemente; vítimas de afogamento – por causa da contaminação da água nos pacientes que tenham tomado muito soro. “Esses pacientes não podem ser doadores de órgãos. Mas os outros, fora dessa tabela, são potenciais doadores, para fazermos a entrevista [com as famílias]”, explica a enfermeira.
A captação do globo ocular (tecidos) depende que ocorra uma morte por parada cardíaca, diferente da morte cefálica, que serve para a captação dos demais órgãos. “Para isso, não temos equipe, nem diagnóstico, então focamos na questão do globo ocular mesmo. Tendo esses critérios, passando por exames, tendo a idade e a família autorizando, fazemos a retirada do globo ocular aqui em Irati. A partir deste momento, temos o prazo de algumas horas para encaminhar para a Central de Transplantes, em Curitiba. Lá é feita a distribuição da fila no Paraná. Geralmente são beneficiadas pessoas do próprio Estado”, acrescenta a coordenadora do CIHDOTT.
[publicidade id=”39″ align=”left” ]Conforme Ana Cláudia, em algumas épocas, a captação de córneas e a realização de transplantes aumenta, o que contribui para reduzir a fila de espera pelo transplante. Nesses casos, uma córnea captada em Irati, por exemplo, pode ser encaminhada para um paciente de outro Estado brasileiro, pela falta de demanda no Paraná. Do contrário, a prioridade do transplante é sempre do Estado onde o órgão ou tecido foi captado.

Doação de outros órgãos

“Quando existe um pré-diagnóstico de morte cefálica, nós encaminhamos para um hospital que possa diagnosticar exatamente essa morte cefálica. Mas especificamente em Irati trabalhamos somente com o globo ocular. É só em grandes centros que temos a captação de outros órgãos”, acrescenta.
Para o diagnóstico da morte cefálica seria necessário que a Santa Casa tivesse estrutura para alguns tipos de exames específicos e um neurologista. “Quando há uma suspeita de uma morte cefálica, nós referenciamos esse paciente para um hospital que tenha essa equipe. Esse paciente é transferido ou para Ponta Grossa ou para Curitiba, onde é feito o diagnóstico. Já tivemos quatro ou cinco encaminhamentos nossos, de pessoas jovens e saudáveis, vítimas de acidentes, que infelizmente passaram por esse momento [da morte cefálica], foram transferidos e a família optou pela doação total de órgãos”, afirma Ana Cláudia.
“Nosso trabalho é um ‘mix’ de emoções. Enquanto uma família fica triste por estar ali, no fim, numa tristeza, ao mesmo tempo você sabe que, em um prazo de dias, outras pessoas já terá uma qualidade de vida melhor, uma sobrevivência [em função do transplante de órgãos]. Todo mundo tem nas mãos o poder de salvar vidas. Seja doador de órgãos”, conclama Karine.

Entrevista sobre doação de órgãos realizada na Super Najuá FM 92,5

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